quinta-feira, novembro 23, 2006

Pedro Burmester na Visão

(Foto: Pedro Correia)

Pedro Burmester, director artístico da Casa da Música, em entrevista de Cesaltina Pinto, hoje, à Visão:
(Excertos)
Regressou à Casa da Música. Fez-se Justiça?
(...) Ponderei o regresso, depois de avaliar se poderia ainda acrescentar alguma coisa ao projecto. Orgulho-me de contribuir para o que está a ser: uma casa para todas as músicas, para toda a gente, com várias estruturas residentes.
Confessou várias vezes que esse afastamento lhe doía.
Doía. Doía de saudades. Empenhei-me muito, por isso doía. Tinha uma relação pessoal muito próxima com o projecto. Hoje, é mais profissional, o que é bom para mim e para a Casa da Música (CM).
Foi demitido da administração, depois de ter dado uma entrevista em que arrasou a política cultural de Rui Rio. Agora, temos um director artístico mais domesticado?
Mais sensato. Na altura, sentia-me, de alguma maneira, sozinho naquela luta. Não sentia grande apoio do Ministério da Cultura nem da Câmara e considerava que não estava a ser feito o que devia. Hoje, já não estou sozinho, há uma reflexão, há uma administração capaz, que demosntra perceber bem o projecto. Estou mais sensato e muito mais descansado.
A política cultural de Rui Rio mudou?
Vai inevitavelmente mudar. (...) O Porto tem equipamentos culturais muito bons e uma efervescência criativa grande. Portanto, inevitavelmente, o Porto vai afirmar-se como cidade de cultura. A CM contribuirá para isso.
A cidade cresceu culturalmente, mesmo com um presidente de Câmara sempre em guerra com os agentes culturais?
Pelo menos, fala-se bastante da importância da cultura, o que é bom. É uma oportunidade para pensar como deve ser a nossa relaçao, enquanto agentes culturais e artistas, com o poder. Talvez deva ser mais distanciada, mais profissional...
Mais independente?
Mais independente. O problema de fundo é que o investimento português na cultura é muito reduzido. O orçamento do Ministério da Cultura é 0,4% do PIB, 260 milhões de euros. Bastava duplicar (...) e já se ganhava muitíssimo. Sem investimento a sério, não se fazem coisas.
Há subsidiodependência?
Há subsidiodependência geral em relação ao Estado. (...) Não só em termos financeiros mas também psicológicos. Esperamos sempre que alguém faça as coisas. Temos que ser nós todos a fazer.
O Porto tem uma sociedade civil e empresarial capaz de substituir o Estado?
Tem. A Fundação de Serralves e a CM são provas disso. É inevitável que façamos a regionalização, se queremos desenvolver o país todo por igual. (...) Um país regionalizado será muito mais forte, justo e equilibrado.
Que Casa da Música veio encontrar?
(...) Uma equipa de pessoas muito diferentes, multifacetada e ainda não unida em torno de um objectivo comum, o que é fundamental e só a partir de agora será possível.
A Casa da Música é para o Porto, para o país ou para o mundo?
(...) Recuso-me a ser bairrista, mas primeiro temos que nos afirmar no sítio onde estamos, depois num sítio nacional mais alargado e, finalmente, em termos internacionais. Se o primeiro não funcionar, os outros também não funcionam.
Não tem que apostar também numa programação exclusiva da CM?
O ser exclusivo pode e deve acontecer pontualmente, mas não será uma obsessão. Mais importante é que a CM desafir grupos a lançarem projectos artísticos. (...) Se a lógica for apenas a exclusividade, ficaremos isolados, numa ilha.
Até que ponto está submetido à necessidade de ter público e receitas próprias?
(...) Acredito que a nossa programação é boa, tem qualidade, e se comunicarmos com eficácia teremos público. Podemos e devemos programar coisas de risco, que sabemos à partida não ter a adesão do grande público, mas temos de as comunicar bem, porque acreditamos serem importantes para a formação e educação de públicos. (...) Mas também não tenho qualquer preconceito em programar uma coisa comercial, mas boa.

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