terça-feira, dezembro 30, 2008

Cometa McNaught


Nós achávamos que tínhamos os melhores amigos do mundo. E tínhamos. E temos. Autênticos cometas Halley, peças raras de raro brilho, que povoam o mapa da nossa vida como uma dádiva pouco terrena que nunca teremos como agradecer. Os nossos cometas Halley fazem de nós pessoas privilegadas, mimadas, protegidas, pessoas melhores. Mas, ao mesmo tempo, pessoas fechadas. Quando temos os melhores amigos do mundo não deixamos entrar mais ninguém. Não precisamos de mais ninguém. Mas as pessoas continuam a gravitar à nossa volta, meteoritos que cruzam os céus com mais ou menos brilho, a maior ou menor distância. Gravitamos todos à volta de todos.

E um dia surgiu o cometa McNaught, a maior surpresa de sempre, o mais brilhante das últimas décadas. Não podíamos não o adoptar. Passou instantaneamente a fazer parte do nosso mapa, como se lá tivesse vivido desde sempre. Hoje, o cometa McNaught apareceu com os joelhos do coração a sangrar. E nós não estávamos preparados, não queríamos que fosse verdade. Não queríamos que a Terra tivesse atacado um dos nossos cometas. Bloqueámos, não tivemos sequer coragem de o abraçar. Porque esse abraço não mudava tudo o que gostávamos tanto que pudesse mudar. O que conseguimos fazer pelas pessoas de quem gostamos mais é sempre insuportavelmente tão pouco...

domingo, dezembro 28, 2008

Deviam desamparar a loja em 2009

[Rui Rio]

[Manuel Alegre]

[Mário Nogueira]

Merecem ser homenageadas em 2009

[Maria de Lurdes Rodrigues]

Não deviam morrer nunca

[Clint Eastwood]

[Barack Obama]

Não deviam ter morrido em 2008

Heath Ledger
[22 Janeiro]
Anthony Minghella
[18 Março]

Sidney Pollack
[27 Maio]

Harold Pinter
[24 Dezembro]

Aleksandr Solzhenitsyn
[4 Agosto]

Paul Newman
[27 setembro]

sábado, dezembro 27, 2008

Rui Reininho: Um Homem Novo (x3)



RUI REININHO É O ILUSIONISTA DESTE NATAL, MESMO SE NÃO GOSTA DA QUADRA E MENOS AINDA DE A USAR PARA EDITAR DISCOS. NÃO FOI PREMEDITADO, ACONTECEU ACABAR AGORA A COMPANHIA DAS ÍNDIAS, O PRIMEIRO DISCO A SOLO QUE NÃO É BEM A SOLO. "A SOLO SERIA EM CASA, AO PIANO, À PRINCE". É UM DISCO SEM OS GNR, MAS COM DEZ CONVIDADOS. TIRÁMOS BILHETE PARA UMA CONVERSA COM O HOMEM QUE DIZ ESTAR "A MEIO CAMINHO ENTRE O MAR E O DESERTO". SERÁ O PURGATÓRIO?

Procurar numa entrevista o Reininho destravado, desbocado, insolente dos concertos, o homem de punchlines precisas e esgares cínicos, a criatura que se despe em palco, rasteja, bamboleia, que mima o pé do microfone como striper num varão, que troca as letras dos poemas que escreve por apelos políticos, futebolísticos, pelo que se lhe atravessar na cabeça, é procurar alegria no fado - estará lá, mas não se vê, não se encontra. Mesmo que a conversa dure cinco horas. E cinco horas a ouvir Reininho, histórias encadeadas a ritmo de TGV - América, Obama salvador, redentor, D. Juan, nome do café que frequenta, da ópera de Mozart, a predilecta, dos canalhas, Europa e a crise, Europa e o filme do von Trier, teatro intervencionista de 60, década do político da "filosofia de alcova", das noites a tricotarem-lhe pesadelos com medo de ir para a guerra, pequeno Portugal, decidir não votar, ir embora, voltar, envelhecer -, é exercício para quem não tem vertigens. Ele até tem. Mas no fim cai sempre de pé.

Sentado na orla mais afastada, mais escondida da esplanada, impecavelmente embrulhado num sobretudo azul Dolce & Gabbana, óculos escuros, cabelo branco-cinza em desalinho, Reininho é o homem desacompanhado a contemplar a marginal de Leça, lugar recorrente para atender jornalistas. Meio-dia em ponto, hora combinada, último dia de sol quente, o primeiro depois de colocada a cereja no disco que demorou um ano a produzir. Companhia das Índias, no mercado desde 9 de Dezembro, apresentado na Casa da Música, é o que lhe apetecia fazer. Com quem lhe apetecia. Os que o "mandaram à fava" não entram na contabilidade. Alguns disseram-lhe delicadamente: "Agora, estou ocupado". Ficaram os que "atenderam o telefone": do intrépido Slimmy, loverboy que encaixou uma canção no CSI Miami, ao cometa Halley que é Rodrigo Leão. Armando Teixeira, homem Balla e Bullet, é o fio condutor do trabalho. "Costumo dizer que é o meu filho mais velho". É o produtor.

Reininho traz pálpebras de sono, de quem acordou há menos de duas horas – uma excepção. A regra, o normal, é acordar às sete, quando a maioria ainda dorme, pelo menos a maioria da tribo dele. Tem que esperar até às dez horas para que lhe atendam o telefone, mas ele desperta cedo, com o sol, para escrever, para pensar, porque sim. Porque aprendeu a gostar das manhãs. A desprezar bebidas brancas e maratonas de cigarros e coisas que tais, a evitar ressacas, porque aprendeu o prazer de poupar a voz. De poupar-se. "O médico disse-me que sou indestrutível, quase um super herói. Depois de tudo o que fiz, estar aqui é um milagre".

Há um antes e um depois na vida do porta-estandarte dos GNR (Grupo Novo Rock), não importa onde fica a fronteira e ele também não diz. Mas diz que é um homem novo. Em construção. Talvez Reininho, homem sem idade, apesar de insistir na "provecta idade" que tem - são 53, sem rugas nem barriga "nem dores fadistas" -, persiga um final feliz. Sobretudo para partilhar. "Antes talvez não fosse um homem confiável, mas agora sou. Mesmo que o belo sexo continue a desconfiar de mim." Quem quer casar com a carochinha?

O homem tripolar

Não há meio-termo: ama-se ou odeia-se. Quem o ama diz que é o maior letrista português, poeta ímpar, autor de primeiríssima divisão; quem o põe na beira do prato garante que não passa de um dandy decadente, narcisista, pedante, com a pretensão de parecer o Morrissey, o David Byrne, o David Bowie e até Neil Hannon, o Casanova dos Divine Comedy. Afinal, quem é Rui Reininho, mais de 30 anos de carreira, quase todos ao serviço dos GNR, criatura que garante ser três-em-um, como se a bipolaridade, a existir, não fosse já suficientemente complicada. "Descobri que tenho três personalidades e espero vir a ter muitas mais. Mas se aquela que possui uma vertigem egoísta e narcísica se afastar de mim, se essa me deixar, não tenho medo de ficar só com as outras duas". Soubesse ele viver dentro das três personagens como quem troca de pele sem ser devorado por elas, e não precisaria da psicóloga, dos chás, da acupunctura, dos gongos que descobriu em Vigo e ensaia em casa para calar os silêncios da ausência, do mal que diz ter provocado, dos gongos que partilha com um grupo de reflexão tibetano na Galiza e que ouve para colocar os pontos cardeais no lugar como quem lambe feridas. Como quem cura "o desgosto de pensar que era importante na vida de outra pessoa e afinal era só mais um delírio dessa pessoa". Não foi um desgosto de amor; "foi um desgosto de egoísmo".

Faz das tripas coração para enfrentar o espelho. "Assusto-me bastante quando me vejo. O espelho não fere, mas responde conforme a luminosidade que lhe damos. E às vezes não me revejo ali no palco. Não sou eu, não pareço eu". Não parece ele ali, já dentro do restaurante, fila indiana de empregados, eles a esforçarem-se, elas a arranjarem-se, e ele a retrair-se como quem cava um buraco no chão para se esconder. Reininho é tripolar? É pessoa singular. Gosta de brincar, de pregar sustos, não resiste a uma bola de futebol. Tem franca vocação para fazer os outros sorrir e nem sempre precisa de pontapear uma piada. É um camaleão com receio de parecer vulgar. “Tenho medo da normalidade e, ao mesmo tempo, uma enorme inveja da normalidade”. De ser – trauteia a canção de Morrissey – “the first of the gang to die” (o primeiro do gangue a morrer). Reininho não é normal. E depois?

Às vezes, a diversidade não passa de uma aragem. Talvez isso explique a recente incursão pela espiritualidade. "Não é uma coisa mística, mas precisei de ir buscar o lado interior que me faltava. Habituei-me a olhar para ver, antes olhava e não via. Quando se olha realmente para dentro das pessoas pode ver-se coisas muito bonitas - ou muito assustadoras. Quase se consegue prever o mal. Quase como Constantine, o exorcista, como ver fumo nos pulmões de alguém. Ou como ver amor nos olhos de outra pessoa. É tão mágico quanto isso. Quando vejo cumplicidade e amor aproximo-me. Quando vejo coisas terríveis, também. Para tentar mandar esses corpos em paz para o cemitério."

Reininho, um casamento, um herdeiro, um divórcio, dois livros, duas dezenas de discos, mais de 200 canções escritas, acredita que é um "mensageiro". Iniciou uma espécie de digressão individual da boa vontade, e não o diz a rir. "Quero equilibrar a balança, compensar o mal que causei", insiste uma e outra e vez, estranha fase de auto-punição em pública e genuína catarse. Respira fundo. Escolhe polvo para o almoço, acompanha-o com vinho branco e batalhas perdidas. "Tornei pessoas infelizes, fui derrotado pela inércia, pelo medo de enfrentar momentos muito... Fui cobarde perante as drogas, perdi para esse exército aliados meus, gente que eu amava. Perdi uma das mulheres mais maravilhosas que tive por causa disso, por não ter sabido mostrar-lhe o outro ângulo. E ela acabou por se perder, por morrer de droga, de sida".

Anos 70 em erupção, ele a atravessar os 20 anos e a tomar as grandes decisões da vida: não votar, não trabalhar, fazer o elogio da preguiça, da luxúria, exigir tudo a troco de nada. "As pessoas eram muito malucas naquela altura. Se hoje souber alguma coisa que possa valer a alguém, acho que tenho o direito e a obrigação de dizer". Dizer o que lhe disse a mãe, numa noite de S. João, no Porto, quando a avisou de que chegaria tarde, ou talvez nem chegasse: "Vai, mas não te drogues muito". Aceitou o conselho: “Nunca me droguei muito". A mãe, a que antigamente lhe pedia: “Vá lá, tira antes um cursinho em vez de te meteres com esses moços da música”; a mesma que hoje, neste preciso instante, envia-lhe o “inexplicável calor umbilical” numa mensagem de telemóvel. Pergunta: “Então, quando sai o teu disco?” Diria o que lhe disse a mãe, insiste. "Porque sou incapaz de dizer que isso não abre sensibilidades e que a saudinha é que é importante".

Reininho não burila o passado, mas não despreza o presente reanimado, agarra-o pelos cabelos, segue em linha recta. Atravessa a estrada, aceita continuar a conversa do lado de lá, no muro da marginal de Leça. “Um estóico”, como gosta de dizer que é. Voltado de costas para o mar, “para os piratas”, para o precipício, só mais tarde decifra por que razão fala sem nunca olhar para o interlocutor. “Peço desculpa, não posso olhar porque tenho vertigens”. A confissão vale a primeira, e quase única, gargalhada da tarde. Abre portas ao optimismo. "Tenho aprendido coisas fantásticas: aprendi que é preciso plantar e regar. Regar é algo que me estava vedado, vivia noutro ritmo, tinha sempre outra prioridade qualquer. Agora é um alívio. Já não vou atrás da next big thing". Agora inspira: "Cheira-me a gente outra vez". Volta a Morrissey: "There is a light that never goes out". Agora, ele tem uma luz que nunca se apagará.

Rui, filho único de um pai mediador de seguros e dessa "mãe sábia" que pertencia à Junta dos Produtos Pecuários, nascido ali, na Rua Fernandes Tomás, 19, 3º, em plena Baixa do Porto - ano de 1955, o Futebol Clube do Porto a competir pela primeira vez nas Champions -, será a pronúncia do Norte. Mas não é só a pronúncia do Norte, cliché de que nunca se libertará. É a Lisboa cosmopolita, Belém onde também vive há pouco mais de um ano, é Las Vegas onde passou o Natal, néons a arder e a apagar, criatura tu-cá-tu-lá, cavaleiro de capa sem espada, animal furtivo, sedução hirta, sangue, suor a escorrer, fogo-fátuo, é o lobo mau e o capuchinho vermelho. É pulmão, coração aberto, "recente aprendiz de guardião de segredos", provocação exaltada, hálito dourado, canções auto-retrato, quadris a ferver à Elvis. É dois metros de impenetrável timidez. Capaz do melhor e do que muitos dizem ser o pior.

"Gostava que as pessoas não confundissem esta timidez com arrogância". Ou as falhas dos outros com as suas. No ano passado, na Gala dos 50 anos da RTP, confundiram. O dueto virtual que deveria ter partilhado com Tony de Matos se não tivesse entrado no palco, perdido, a trinta segundos do fim da canção, está depositado no YouTube, legendado com veneno e agulhas, visto por mais de onze mil pessoas. "Fiquei triste, sabia que toda a gente iria dizer que eu estava nos bastidores a fumar, a beber ou a meter-me com as bailarinas. E não era verdade." A verdade é que ele estava no camarim, obediente, tranquilo, a ser maquilhado. Deveria ter sido intervalo no programa e só não foi porque as audiências estavam ao rubro. Foi uma rasteira. "Senti-me infeliz, derrotado, embaraçado. Saí de lá directo para o quarto do hotel". Tinha as costas quentes? "Tenho as costas largas", sorri. A RTP pediu desculpa, mas aparentemente ninguém viu.

Rui Reininho é tudo o que ainda há-de ser. "Mais 50 anos seria assustador. Só quero mais um bocadinho". O bastante para ver o filho António, único como ele, 12 anos, "a crescer, a saltar etapas, a frequentar as primeiras festas". O suficiente para ter, talvez, quem sabe, ainda irá a tempo?, "a menina que sempre quis ter". Mas não o suficiente para, cita o mestre Manoel de Oliveira, "ter que pedir beijinhos".

Fauna musical e especiarias

Reininho é a Companhia e é as Índias. Embarcou num disco apinhado de espiritualidade e especiarias porque "precisava de sentir medo outra vez". O fruto serviu para o "desassombrar", para lhe "tirar o medo da morte". (E quando morrer, diz, quer ser incinerado ali ao pé da Sacor, uma praia de Leça. “Não quero ter de atravessar a cidade até ao Prado do Repouso depois de morto. Quero deixar as minhas cinzas aqui no ar”).

O trabalho é apresentado como o primeiro disco a solo da sua carreira, mas ele garante que é tudo menos um disco a solo, tal é a fauna que o habita. "A solo seria em casa, ao piano, à Prince. É um disco sem os GNR, mas acompanhado por gente fantástica". São Armando Teixeira, formiga de backstage a fazer brilhar os outros; Alexandre Soares, nada menos do que o primeiro vocalista dos GNR; Paulo Furtado, o one-man-band Legendary Tigerman; Tiago Novo, New Max para os amigos do hip hop; a chilly Margarida Pinto (Coldfinger) e a alma mater de Rodrigo Leão, os desvarios electrónicos de Slimmy e a elegância pop de João Pedro Coimbra (Mesa). "É um disco muito ligado a cada uma dessas pessoas". E poderia ter sido ligado a muitas mais, se não tivesse havido "impossibilidades físicas", como no caso de José Cid, amigo com quem passa largos minutos ao telefone. Ou "impossibilidades químicas", como no caso de Jorge Palma.

Houve ainda sociedades que falharam por “falta de coragem”. Por modéstia hiperbolizada. "No fundo, sou o artista que sou: seria pretensioso da minha parte tentar sondar outras pessoas de quem gosto, gente da pauta e do papel, mas com quem não tenho intimidade. E depois, se calhar, sinto-me mais à vontade com pessoas que não são da minha geração." Mesmo nesse campeonato houve uma parceria que não chegou ao fim. "Não consegui cantar aquela música maravilhosa dos Micro Audio Waves", banda portuguesa que este ano venceu o mais cobiçado galardão dos prestigiados Qwartz Electronic Music Awards. "Fui lá uma vez, duas, três e não consegui. Foi mais forte do que eu, não fui capaz, não deu, não soube". Tempestade a inchar por dentro outra vez. "Senti-me mal, derrotado, infeliz. Como quando somos traídos e parece que toda a gente fica a saber do nosso infortúnio. Ou como quando levamos uma bola preta. Alguém escreve que o disco é francamente mau e toda a gente fica a olhar para mim porque sabe que fiz aquilo mal".

Não é o caso. Não há bolas pretas. Mesmo se a crítica não explode de excitação a ouvir o resultado do trabalho, iliba, protege, exalta o protagonista, o seu carácter e carisma. “Dizem-me, elogiosamente, que aquilo tem o toque de saber fazer a canção dos três minutos, mas também de saber experimentar um bocadinho." Ele não consegue não sentir-se feliz. Experimentou, explorou a voz, sentou-a no colo dos compositores convidados, temperou-a com mais açúcar do que sal. “Não há ali delírios, não estou a meter-me em áreas que não possa conhecer, sinto-me completamente à vontade”. Reconhece-o com a mesma velocidade que usa em sentido contrário, abusando de uma auto-crítica que nem sequer é sustentada pelo caminho que trilhou: “Talvez eu não tenha ido tão longe quanto alguém podia esperar, artística e afectivamente. Talvez não tenha saído sequer da pole-position”. Encolhe os ombros com resquícios de quase crueldade: “Fui até onde era possível.” Autoflagelo à parte, assume que neste disco fez “muitas mais coisas do que imaginava que poderia fazer." Conseguiu até ressuscitar o barão vermelho Cazuza, um dos mais importantes compositores da música brasileira, e reencarnar numa girls band, as Doce, para literalmente embalar “Bem Bom”, canção daquele mítico refrão – “Uma da manhã, hei!” - que lhes valeu o primeiro lugar no Festival RTP da Canção de 1982. “Seria desesperante se não tivesse isto cá fora”.

“Isto” é um imaginário inteiro em que se revê e reencontra, ironicamente lançado em Dezembro. “Durante anos evitei aqueles momentos sagrados do planeta. Agora, confrontam-me: Então, um disquinho para o Natal, hã?”. Não foi premeditado, aconteceu acabá-lo agora. Mas sim, é de um cinismo inesperado”. Companhia das Índias "fala de uma terceira personalidade – Sou o Dr. Optimista, perito em reiki, leio as cartas, falo com o outro mundo -, de um mundo mágico, porque um bocadinho mais de magia não faz mal a ninguém. Fala de um homem novo que pode baixar a espada e erguer outra bandeira."

Poderia ser Barack Obama se há um ano o recém-eleito primeiro presidente negro dos Estados Unidos da América não passasse de uma miragem em que a maioria ainda não conseguia acreditar. O homem novo é, portanto, Rui Reininho, qualquer que seja a versão com que se vista. Ele diz que ainda está “só a meio do caminho”. Encravado no purgatório? Salva-o esta convicção: “Hoje, se me enganar, se falhar, se tropeçar e cair, sei que agora tenho alguém para me amparar.” Mesmo assim, repisa, “sou the man in between, o homem no meio. Estou entre o mar e as cinzas do deserto. Entre o poente e o nascente. Só tenho que decidir em qual dos lados quero ficar”. Quanto tempo falta para o arco-íris?

[Perfil de Rui Reininho publicado na Notícias Magazine, 28 de Dezembro]

quarta-feira, dezembro 24, 2008

Harold Pinter 1930 - 2008


Entrevista de Michael Billington a Harold Pinter, publicada no Guardian, em 2006.

Can I take you back over the last extraordinary year. You've won the Wilfred Owen prize, the Franz Kafka prize, the Nobel prize for literature, now the Europe Theatre prize. Has all that public recognition helped to sustain you through a difficult period physically?
Well I've been through a number of gruelling experiences some of them quite gruesomely funny in a way. I attended a rather exhilarating festival of my work given by the Dublin Gate Theatre last October for my 75th birthday. I was leaving Dublin the next day and, as I was getting out of the car at the airport, I slipped and gashed my head on the stone slab of the concrete pavement. My wife, who is also here, turned and found me covered in blood. I spent four hours in hospital that night in a pretty terrible state, got back to England the next morning, started to recover and woke up two days later to discover that I'd been given the Nobel prize for literature! So my life over the past year has, quite literally, had its ups and downs.
What effect did the Nobel prize have on your life?
Well for a start it was a great surprise. Quite unexpected. A chap phoned me at about twenty to twelve from Stockholm and said "Good morning, is that Harold Pinter?" and I said "Yes." He said, "I'm glad to tell you you've won the Nobel prize for literature." I said, "Have I really?" He said, "Yes." I said, "Thank you." The next step really was that I was asked to write and deliver the annual Nobel lecture. I then found myself in hospital again. I had a very, very mysterious skin condition which emanated from the Brazilian jungle. I should explain I've never set foot in the Brazilian jungle but I shared this very distressing physical condition with the Brazilian Indians. Anyway, I came through that and was writing the Nobel speech when the phone rang and it was the doctor saying that he'd looked at my blood tests. He said, "You must come into hospital immediately." I said what do you mean by "Immediately?" He said, "Now, within the next five minutes."
I'd actually just finished the speech so it took me about 10 minutes to get to the hospital. Shortly after I arrived I found myself in intensive care and found it extremely difficult to breathe. There were lots of doctors around and my extremely anxious wife. I then realised, for the only time in my life actually, that I was on the point of death. Because if you can't breathe, that's it. And I'd never been aware before of any such extremity. But I didn't die, the doctors got me through it and here I am today.

Thankfully [loud applause]. I don't want to morbidly dwell on this but at that moment of realising death may be imminent, what happens, what goes through one's head?
Well there's no time to think. You don't think at all. You just experience it. What you do, in my case, is that you fight and fight to stay alive. You try and insist upon breathing. You insist on not losing the ability to breathe. And I just managed it by the skin of my teeth.

Having written the Nobel lecture, you then had to deliver it. How difficult an experience was that?
Well I was in a wheelchair. I was taken from the hospital to the studio, did the speech and then went straight back to the hospital. But it was OK. I'm quite used to speaking my own text ... My main concern when I was making that speech, and even writing that speech, was not to be at all emotional.

Coming on to the content of the lecture itself, it seemed to me to say that, while there is no definitive truth in art, we have an obligation to examine the truth of our lives and our society. In that sense, is Iraq a watershed? Because of all the documentary evidence, because of Guantanamo, because of Abu Ghraib, people around the world have woken up to reality?There does seem more public awareness now of what we're actually responsible for, what actions our countries have taken: what it means, what destruction actually is, what torture actually is. It so happens that I've been very preoccupied with this for many years. Things like Abu Ghraib and even Guantanamo are not new things: there are many precedents. As I pointed out in my lecture, American foreign policy has adhered rigidly over the last 50 years or more to one concern and one concern only: "What is in our interests?" ... There are many, many Americans who are as disgusted and ashamed and angry about this as I am. And I received a lot of letters from Americans after I made my speech, many of them couched in terms of some despair. But, coming back to your question, I find that in attacking American abuses of power I have in the past sustained a good deal of mockery. Been called at the very least an idiot. But we all know what's looking us in the face now. I believe we've been faced with that for many years.

But that's a key point. Because one of the pivotal moments in the lecture is when you repeatedly say of American intervention in the internal affairs of other countries "It never happened" as if we had air-brushed certain events out of our consciousness. But you can't say that with Iraq, can you? The evidence is with us daily. There is a heightened awareness of the lies and deceptions.
Quite so. And, of course, what cannot be ignored now is that most people are well aware that, in the case of Abu Ghraib for example, those acts of torture were hardly random events. They weren't one bad apple, as it were. They came from the very top. We're looking at the White House. We're looking at the Pentagon. We're looking at Number 10 Downing Street by the way. Who we're looking at here I'm not quite sure. But I've got a funny feeling a few people in this audience will have a few things to say about that. It's where you live that leaves the greatest impression on you. I certainly feel a strong sense of shame at the actions of our own government. I'm talking about the British government. I think that Blair's subservience to Bush is shameful and disgusting. It's also more than that. It's a disinclination even to accept the fact that if you go and drop bombs on thousands of people in a sovereign state - whatever you think of that state - it is not only an act of mass murder. These are war crimes.

In Britain, it [the Nobel speech] was shown live on a satellite channel, reported in full in the Guardian. But it was, as far as I know, pretty much passed over by BBC television. Did that surprise you?
It wasn't passed over. It was totally ignored by the BBC. It never happened. There are those who argue that the BBC's ignoring the speech was to do with its complicity with government. I don't believe that. That's a conspiracy theory which I don't subscribe to.

So what is the answer?
I don't know. You'd have to ask the BBC.

Given your views on politics in Britain and Blair's subservience to Bush, I just wonder if there is any figure in British political life whom you respect.
HP: There was one man in the Labour government, Robin Cook, whom I had a very high regard for. He had the courage to speak out and to resign over Iraq. He was an admirable man. But resignation over a matter of principle is not a very fashionable thing in our society.

Can I turn to the other half of your Nobel lecture where you talk about the process of writing. You spoke about the way a play is engendered by a line, a word or an image. Also about the way characters resist you and take on a life of their own. But is there not also a conscious part of you that is organising the action and the characters?
I'm not aware of my consciousness working in that way at an early stage of writing. After it's got to a certain point, I then work very hard on the text, quite consciously. In other words, I just don't live in my unconscious the whole damn time. I keep an eye on it. But one of the most exciting things about being a writer is finding the life in different characters whom you don't know at all. To a certain extent, you've got to let them live their own life. But there's also a conflict constantly going on between you as the writer and them as the characters. Who's in charge? There's no easy answer to that. I suppose, finally, the author is in charge. Because, whether the character likes it or not, all I've got to do is take out my pen and do that (a gesture of erasure) and he's lost a line. It may be one of his favourite lines of dialogue [laughter]. But I've got the pen in my hand.

Take a very concrete example, Ruth in The Homecoming. She obviously has a will and a life of her own. But did you know, from the start, where she was heading? That is, towards an ambivalent authority over her inherited household?
I really didn't know what was going to happen: where she, or the play, was going. I don't know how many people here know it but the second scene shows the elder brother, Teddy, bringing his wife home from America to meet his family in London. As I found these two figures in the room, I had no idea what was going to happen to either of them. Gradually the play grew and dictated itself partly through her actions: Ruth's sexual strength and authority just seemed to grow in stature in a strange way as the play went on. This may sound rubbish but I simply couldn't get out of her way. She started to dominate the play in a way I hadn't expected. She was unavoidable and is one of my favourite characters actually.

Is the process the same for overtly political plays like One For The Road, Mountain Language or Party Time?
It can't be exactly the same, no. It's rather difficult to define. But in Party Time you have a lot of well dressed people enjoying a fashionable, champagne-filled party while outside there are roadblocks and helicopters. I knew from a much earlier stage that the people at the party - or at least some of them - were responsible for what was happening in the street. So I had a certain kind of knowledge which I didn't possess in writing The Homecoming. It's a very layered activity, writing plays, and it's never the same experience twice.

Political theatre obviously takes many different forms. Do you admire writers who adopt a very different approach from your own, such as Brecht?HP: Yes Brecht was very important to me to read and I greatly admire his poetry. But, coming back to the present day, I have a great deal of respect for the work of David Hare: Stuff Happens, The Permanent Way and so forth. He writes very clear, sharp plays that analyse what is going on. I admire his rigour, his honesty and his insistence on looking for the truth.

At the moment in Britain there is a great hunger for verbatim theatre. Is that a movement you support?Absolutely. It has produced a lot of good work at the Tricycle and the Royal Court, though I'm alarmed at what has happened to My Name Is Rachel Corrie in New York [the play recently co-edited from Corrie's diaries and letters by Alan Rickman and Guardian features editor Katharine Viner] ... The real fact there, as you know, is that Rachel Corrie was a young American woman who was looking at the Palestinian situation in Israel when one of the bulldozers that was demolishing Palestinian houses ran over and killed her ...
But that play has now been withdrawn by the producing theatre in New York and that is, I think, typical of what is happening more and more in Britain and America: suppression of dissent and the truth. I'd just point to the example of the prohibition of protest within a certain area outside the Houses of Parliament. One woman walked into this zone and read out the names of British soldiers killed in Iraq of whom at that time there were about 80. She was arrested, fined and now has a criminal record. What she was actually doing, in reading the names of the British dead outside the Houses of Parliament, was reminding people in Parliament of their ultimate responsibility. So the lid was put on her straight away.

What about your own position at the moment ... is the itch to put pen to paper still there?
Yes. It's just a question of what the form is ... I've been writing poetry since my youth and I'm sure I'll keep on writing it till I conk out. I've said it before and I'll say it again. I've written 29 damn plays. Isn't that enough?

Finally, we're celebrating the Europe Theatre prize. In the age of infinite electronic possibility, do you still have a positive faith in what theatre can do?
HP: The mere fact of audience and actors sharing that specific moment in time, the intensity of the life that passes between the stage and the auditorium, means there's nothing quite like it. So yes I still have a faith, a shaky faith, in the act of theatre.

terça-feira, dezembro 23, 2008

domingo, dezembro 21, 2008

Paulo Nozolino: "Bone lonely"

[Gostava muito de publicar aqui uma imagem da exposição "bone lonely", mas não a consigo copiar...]

De cada vez que Paulo Nozolino surge com uma exposição em Portugal - coisa rara - é um acontecimento. Feliz. "Bone lonely" inaugura na Galeria Quadrado Azul, em Lisboa, a 9 de Janeiro de 2009 (fica até dia 21 de Fevereiro).

"A man stands in the middle of destruction, feeling lonely to an unbelievable point, bone lonely. He makes deaf images during his blind walks. Dwelling with thoughts about the loss in all conflicts, the feeling that all systems fail and the certainty that nothing lasts forever. He wonders what light shines in loneliness, what sounds come out of a moving body, what can fill the absence. He has no answers. He sees silent panic, he hears reports on people, he smells themould, he feels the flesh aging and he tastes the dry saliva in his mouth. There seems to be no escape. He has a word pounding inside his head: resist, resist… bone lonely."

sábado, dezembro 20, 2008

[Stefanie Schneider]
"A prova de um afecto puro é uma lágrima."
Lord Byron

sexta-feira, dezembro 19, 2008

Beatriz Batarda: hoje e amanhã no TNSJ


Monólogo poético e político, De Homem para Homem (o título original é Jacke wie Hose) inspira-se num episódio da Europa do séc. XX. Relata o autor, Manfred Karge, um dos mais representados dramaturgos alemães da actualidade: “Não sei onde, não sei quem me contou a história de uma jovem mulher que, durante a Grande Depressão, tentou segurar o emprego do falecido marido. Para o conseguir, teve de assumir a identidade do defunto, disfarçando-se e adoptando toda a espécie de artifícios. Evidentemente, o estratagema acabou por se gorar. Um artigo de jornal revelou tudo”.
Escreve Fernando Mora Ramos:
“Récit de vie” chamam os franceses a esta forma teatral. O que a caracteriza? A máxima extensão na mínima forma. A vida, uma vida, toda a sua diversidade, surpresas, altos e baixos, e a evidência demonstrada passo a passo de que há sempre a possibilidade do pior quando se está numa situação já péssima. Claro que falamos, neste caso, não das vidas previsíveis, sem história, do género infância feliz, adolescência brilhante, casamento estrondoso, sucesso profissional, família unida e porventura, até na morte, um êxito inesperado.
Falamos de Ella Gericke, uma mulher que teve de renunciar à sua identidade para sobreviver, e sobrevivendo na pele do seu próprio marido, o Max que tinha ciática que afinal era cancro, passou por um conjunto de experiências de vida inimagináveis e no entanto reais. Trata-se de uma história verídica, já tratada por Brecht na novela O Posto.
Ficcionada por Karge, é estruturada em fragmentos justamente para fazer sobressair apenas o essencial: não se pode ser bom numa sociedade que não o é. Manfred Karge, que trabalhou no Berliner Ensemble, conhece bem a lição brechtiana, a lição contida na famosa A Boa Alma de Setsuan, que demonstra como os bons neste mundo são considerados tolos.
E esta peça é isso, uma manobra global de estranhamento no sentido brechtiano. Não só a articulação dos momentos biográficos, seleccionados como relevantes, com as conjunturas históricas é perfeita (ascensão do nazismo, nazismo, guerra, pós-guerra, Muro de Berlim/Guerra Fria), como o dilema permanente da sua dualidade sexual se revela afinal como a expressão da impossibilidade de se ser, isto é, de se ser alguém, uma identidade.
Ella/Max Gericke é isso: nem uma coisa nem outra. E, no entanto, Ella foi uma criatura que amou, foi desejada, foi solidária, que não optou, mas não quis a guerra, que teve de matar, que foi perseguida, que vendeu o corpo, que se meteu debaixo das mantas com um empresário, que traficou… É a história de uma sobrevivente num mundo que impede a vida, a história de uma vida solitária e clandestina que se multiplicou em identidades forjadas ao sabor dos condicionamentos.

terça-feira, dezembro 16, 2008

Jay-Jay Johanson: Self-portrait

Ui, ui, Jay-Jay Johanson tem um disquinho novo!!!!!!! O single Wonder Wonders para ouvir aqui.
E aqui: http://www.myspace.com/jayjayjohanson
Wonder Wonders
Lightning Strikes
Autumn Winter Spring
Liar
Trauma
My Mother’s Grave
Broken Nose
Medicine
Make Her Mine
Sore

segunda-feira, dezembro 15, 2008

Poison

[Stefanie Schneider]

Desejo.
Puro veneno.
Desejo puro.
Veneno.
Desejo puro veneno.

Mitch Albom: The five people you meet in heaven


Mitch Albom é um cronista de desporto (e jornalista e dramaturgo e músico). Quem leu os livros dele jamais o adivinharia. Sobretudo quem leu "Às terças com Morrie", um manual de conversas sobre coisas essenciais entre ele e Eddie, seu professor de Sociologia, na antecâmara da morte deste. Eddie, que morreu aos 83 anos, sentia que a sua vida não tinha valido a pena, porque não tinha feito o suficiente pelos outros.
"The five people you meet in heaven" é um romance sobre as cinco pessoas que Eddie terá encontrado no céu. Cinco lições de vida: 1) sobre o impacto que tem nos outros tudo aquilo que fazemos; 2) sobre o sacrifício e sobre não culpar os outros por tudo o que nos acontece; 3) sobre o perdão e sobre como não apodrecer a alimentar rancores; 4) sobre aprender a lidar com o fracasso; 5) e, finalmente, sobre o amor que nunca se perde, mesmo quando a morte vem.
 

quinta-feira, dezembro 11, 2008

Craig Thompson: Good Bye Chunky Rice


Não é preciso gostar de novelas gráficas; é preciso gostar de uma história de lealdade. Quem leu Blankets, tem de ler Chunky Rice, o delicioso livro com que Craig Thompson se estreou.

Truman Capote: Breakfast at Tiffany´s

Tudo bem, não é o "A sangue frio". Mas vale mesmo a pena ler. E lê-se num par de horas. "Breakfast at Tiffany´s", publicado pela primeira vez em 1958, traduzido em Portugal como "Boneca de luxo", é a história de Holly Golightly, actriz com "rosto para lá da infância, mas para cá de pertencer a uma mulher feita". A mulher existe mesmo, terá hoje perto de 50 anos.
A melhor citação do livro: "Não podemos confiar o coração a um animal selvagem: quanto mais lhe damos, mais forte fica. Até ter força suficiente para largar a correr para a floresta. Ou voar para uma árvore. E depois para uma árvore mais alta. E depois para o céu."

Saramago: 10 anos depois do Nobel

"Se eu tivesse morrido aos 63 anos, antes de te conhecer, teria morrido mais velho do que agora". José Saramago

Manoel Cândido Pinto de Oliveira


100 anos!

Coisas simples


quarta-feira, dezembro 10, 2008

La Frontière de L’aube



Se o Porto fosse uma cidade-cidade, já nem digo com uma Cinemateca, mas com uma sala de cinema decente, eu já teria conseguido ver “La Frontière de L’aube” de Philippe Garrel.

terça-feira, dezembro 09, 2008

"History is merely a list of surprises.
It can only prepare us to be surprised again."
Kurt Vonnegut, jr

Reininho na Índia


Chego-me
Passo-te
Canso-me
Atraso-te
Chego-me a ti
Passo por nós
Canso-me de mim
Atraso a voz
E sigo-te
Colo-me ao teu colo
Falo e não falo
Toco-te a solo

Cheiras bem
Então vem
Vem para Lisboa
Sabes bem
Sabes quem
Sabes bem
Desta Lisboa

Enrolo-me em ti
Magoo os dois
Adormeço às tres
Acordo à toa
Aqueço-te os pés
Limpo-te os pós
Adormeço as dez
Rui Reininho
"C0mpanhia das Índias"

domingo, dezembro 07, 2008

António Alçada Baptista 1927-2008

[Foto: Adriano Miranda]
"Quando não somos capazes de conquistar, seduzimos."
António Alçada Baptista, Agosto, 1999, DNA
Seduziu.

sábado, dezembro 06, 2008

"Purificados", no TNSJ


"Krzysztof Warlikowski é uma das vozes mais singulares do teatro europeu contemporâneo. Encenador polaco, dividiu a sua formação entre o país de origem e a França, trabalhou com Brook e estudou com Krystian Lupa, Bergman e Strehler, é visitante assíduo de Shakespeare, experimentou Eurípides e Sófocles, mas exerce Koltès ou, como agora nos é dado ver, Sarah Kane.
Exímio na direcção de actores, Warlikowski funda o seu trabalho de encenação num confronto improvável entre psicologia e metáfora. Se lhe interessa o detalhe de cada personagem e o peso de cada uma na economia global do drama, o que aliás nos conduz a momentos de puro deleite teatral, aquilo que é único no seu trabalho deve ser procurado na transposição de cada fragmento de realidade para uma instância maior, para uma tentativa de explicação global do mundo.
Purificados – a história de Grace, heroína perdida que sublima a perda do irmão investindo-se tão radicalmente no seu percurso que lhe assume a identidade – transforma-se aqui numa alegoria cristalina da solidão, da tristeza, do abandono. Como se apenas da profunda treva, do inferno que construímos ao estarmos juntos, pudesse nascer a luz equívoca de um sofrimento que é também redenção, porque é experiência, porque é vida, afinal!"
Escreve Łukasz Drewniak:
"O encenador mostra-nos como é o teatro actual. É um teatro que deixou de ensinar as regras morais básicas e que não dialoga com o passado. Não quer ser analisado por eruditos. Não alivia coisa nenhuma. A função terapêutica do teatro foi para o inferno.
Krzysztof Warlikowski mostra crueldade sem ser literal, sem recorrer ao naturalismo, membros decepados e hectolitros de sangue. O palco é um salão de espelhos e um gabinete de curiosidades, uma sala de dissecação e um ginásio. As pessoas são cortadas com amor – da mesma maneira que se corta com uma serra circular.
Não é possível descrever Purificados de Warlikowski: há palavras que matam e imagens que não nos deixam dormir em paz. A estreia de Purificados marca o início de algo novo e, ao mesmo tempo, extremamente significativo no teatro polaco. Se alguém vos disser que o teatro jovem é mau, superficial ou retrógrado, ripostem que é uma mentira."
Hoje, às 21.30 no TNSJ, aqui

Mini-concertos-Optimus-na-loja-Optimus-da-Casa-da-Música: grande lata!

É preciso ter muita lata! Já não bastava terem transformado um espaço da Casa da Música numa dependência do Império Belmiro, ainda vêm agora, como quem assobia para o ar com a mais descarada candura, apresentar um novo conceito: mini-concertos-Optimus-na-loja-Optimus-da-Casa-da-Música, loja que só por acaso devia ser - diziam eles, quando ainda tinham vergonha - uma fonoteca, um espaço de souvenirs desenhados por artistas emergentes ou, vá lá, um bar...

Os mini-concertos-Optimus-na-loja-Optimus-da-Casa-da-Música, ali entre um portátil e um i-phone, são, dizem eles agora, "espectáculos especiais para 100 convidados", que procuram garantir "uma experiência mais intimista e familiar".

Está tudo doido?! Quem paga a intimidade, a Optimus ou a Casa da Música (nós)?

[Lista de concertos intimistas e familiares: hoje: Slimmy; dia 19 Flow; dia 20 Rui Reininho]

quinta-feira, dezembro 04, 2008

Greve dos professores

Coitadinhos dos professores que são tal mal pagos e ambicionam ter um "bom" ou "muito bom". Coitadinhos que até aceitam perder 75 euros por dia para fazer greves (no plural!!!), tão abnegadinhos que eles são! Ah, se eu tivesse tempo e pachorra para dissertar sobre cada um dos professores, dos meus, a quem devo a minha ignorância. E sobre todos os outros a quem não devo a ignorância porque decidi ignorá-los e estudar sozinha.
Alguém se importa de meter essa gente no lugar? De lhes explicar que não são os únicos mal pagos? Os únicos avaliados? Os únicos a levar trabalho para casa? Algum professor, um desses que merece "muito bom", importa-se de explicar ao Mário Nogueira e restante rancheira de sindicatos a diferença entre "negociar" a avaliação e "suspender" a avaliação?
Abençoada seja Maria Lurdes Rodrigues!

Afinal, enganei-me...

Enganei-me, enganaram-me. Não era o mestre Manel Cruz ontem, no Passos. Era uma coisa (que raio era aquilo?!) chamada F.R.I.C.S com os convidados Mr. José Cid (a cantar o Povo que Lavas no Rio e por aí fora...) e, de facto, o senhor Cruz, mas disfarçado.

quarta-feira, dezembro 03, 2008

Mestre Manel Cruz, hoje, às 22h, no Passos


"Tu és tu sempre que tu és
És mesmo tu quando pensas que és outra coisa
E tu pensas que não, mas tu és
mesmo bom a ser sempre quem és"

segunda-feira, dezembro 01, 2008

Banco Alimentar contra a Fome

[Foto: Bruno Castanheira]


Há pessoas que me rendem de uma forma completamente comovida: Isabel Jonet é um desses casos. O Banco Alimentar contra a Fome, que este fim-de-semana bateu novo recorde - 1905 toneladas de alimentos recolhidos em dois dias - não é eficaz só porque o processo é transparente (e transparência é, como se sabe, coisa rara em Portugal); só porque os portugueses à cautela da necessidade que podem vir a sentir amanhã decidiram ajudar hoje; só porque há 20 mil (e 2o mil é um número brutal!) miúdos e menos miúdos a fazer ali voluntariado. O Banco Alimentar contra a Fome é eficaz porque Isabel Jonet está ali. Não parece nada e, no entanto, faz toda a diferença.