sexta-feira, dezembro 28, 2007

Passagem-de-ano no Gato Vadio


Preste atenção. Bem vistas as coisas é um milagre estarmos por cá. Ou um sacrilégio. Tanto faz. O que é certo é que a tragicomédia desta aventura do Gato Vadio está cada vez mais trágica e menos cómica. Ainda assim queremos partilhar a nossa loucura até ao fim. Passagem de ano 2007/2008. Algarve? Madeira? Ryan Air? Tudo Planos B. Olhem-me só pró cardápio: Gostávamos de ter circo, malabaristas, trapezistas, striptease literário, bailarinas da Sibéria com sotaque da Beira, caviar d' aeroporto, os fatos-de-treino da Ikea para os convidados darem uma mão quando a festa acabar, ainda pensámos trazer a mesa que o Woody Allen reserva no casino de Espinho vai para nove anos, falou-se ao Vasco Pulido Valente para animar a malta com as previsões hiper-óptimistas a que nos habituou para 2008, népias, vai passar o reveillon a repor whiskys na Makro de Alfragide, às duas por três ainda nos impingiam com o The Famous Grouse Vadio, a nossa história até já vem no jornal, ao fim ao cabo isto é só paleio por que não temos nada para lhe oferecer, como de costume aliás, quem sabe umas filhozes mal-amanhadas, torresmos gourmet à la garder, rabanadas de vento é fadado como'ó destino, meia-dúzia de passitas vá que não vá, (também temos sultanas e corintos), mas meu amigo para além da nossa grácil miséria temos só o sonho e uma contagem decrescente pela frente!
Entre a Loucura e a Depressão
Passagem de ano 2007/2008
5$ (estes gajos estão loucos ou deprimidos?)
As reservas devem ser feitas na livraria do Gato Vadio,
Rua do Rosário 281, Porto.

quinta-feira, dezembro 27, 2007

Benazir Bhutto 1953-2007


Todos sabiamos que acabaria por morrer assassinada: só não sabiamos quando...

terça-feira, dezembro 11, 2007

Manoel de Oliveira: 99 anos

Foto: Inês Gonçalves


"Cada um tem a sua sina e o seu destino. A idade é um capricho. Fazer cinema é uma paixão, algo interior. Bem ou mal feitos, os filmes são uma vocação."
Jornal de Notícias

Crónica de um triste espectáculo

Ao fim dos primeiros vinte minutos, estou ao despique com Rui Rio. O desafio é ver quem boceja mais vezes. Não sei quem ganhou - às tantas, empatámos, mas pelo menos não adormecemos. Nem todos os deputados socialistas poderão dizer o mesmo. Rectifico: devo ter ganho eu, que fiquei até ao fim. Sempre me deu a vantagem de uns bocejos extra.
A Oposição da Câmara Municipal do Porto pediu uma sessão extraordinária da Assembleia Municipal - ocorrida ontem à noite - para debater a situação do Rivoli depois de o Tribunal ter-se pronunciado sobre a ilegalidade que terá estado na origem da concessão daquele Teatro a Filipe La Féria. O PSD estava lá todo, inclusivamente munido de directores municipais, não fosse dar-se o caso de ser confrontado com alguma pergunta cuja resposta poderia não estar na ponta da língua. Estranhamente, o PS esqueceu-se de mandar os vereadores, mesmo aquele que assinou a Providência Cautelar à qual a decisão judicial foi favorável. Apareceu apenas Ana Maria Pereira, quase invisível, mais tarde. A CDU, idem aspas. Apareceu Rui Sá, mudo, já o espectáculo ia avançado. A sessão estava marcada para as 21 horas. Começou atrasada. E às 21.30 horas, confrontado com a ausência de inscrições, já o presidente da mesa, José Pedro Aguiar-Branco, ameaçava encerrar o serão.

Feridos no seu orgulho - oco orgulho partidário, e não das convicções firmes - os deputados começaram a pedir a palavra. Não porque tivessem realmente alguma coisa a acrescentar. Queriam só fazer de conta que estavam realmente a debater o assunto. Pior: queriam fazer de conta, embora não tenham conseguido, que sabiam o que estavam a dizer e que sabiam para onde queriam ir. Não sabiam. Nem uma coisa nem outra. Mesmo como espectáculo, não poderia ter sido mais desolador. Se a entrada fosse paga, eu teria pedido devolução do dinheiro no fim.
Artur Ribeiro (CDU) já tinha inaugurado a sessão, roçando muito ao de leve o assunto que motivara a Assembleia. José Castro (BE) seguiu-se-lhe, enunciando o que considera ser uma "desconsideração" pela própria Assembleia, pela Justiça e pela cidade. Divagações, portanto. São os dois incontornáveis naquele palco. E Justino Santos (PS) limitou-se a ler um texto sobre o historial do Rivoli para justificar a posição socialista. Ao primeiro round, o vazio completo. Nada de novo. Pior, nem uma pergunta dirigida a quem quer que fosse.

Segundo round, o tal para o qual eram necessárias inscrições. No caso, feitas a saca rolhas. Gustavo Pimenta (PS) vai dizer o que já havia sido dito. E acrescenta que o problema não é bem La Féria, nem bem os espectáculos dele, nem bem.... hmmm, bem o problema é.... Sérgio Teixeira (CDU) vai ao púlpito dizer apenas que o silêncio da sala afecta a dignidade do órgão e regressa mais tarde, consolado por acreditar que foi o seu desabafo a motivar a súbita, embora paupérrima, participação dos deputados. José Castro (BE) regressa também para - pasme-se! - ler um texto assinado por Marcelo Mendes Pinto (CDS), ex-vereador da Cultura no primeiro mandato de Rui Rio, tecendo-lhe os maiores elogios. (Em nenhuma outra área que não a da política se passa assim de besta a bestial!) E para acrescentar que o problema não é bem La Féria, nem bem os espectáculos dele, nem bem.... hmmm, bem o problema é.... Justino Santos (PS) regressa também para partilhar com a audiência a sua pessoal agenda cultural e para atestar o quanto gostou - pede perdão a Deus para proferir o pecado - do musical laferiano "Jesus Cristo Superstar", para dizer que até vai com os filhos, na próxima quinta-feira, ver a "Música no Coração" e bem, para acrescentar que o problema não é bem La Féria, nem bem os espectáculos dele, nem bem.... hmmm, bem o problema é....

A cereja não coube ao PSD, porque é difícil eleger uma cereja numa cerejeira repleta de frutos. Ainda assim, Gabriela Queirós (PSD) pediu a palavra para, resumidamente, dizer isto: "Ok, a decisão da Câmara é ilegal. E depois? Ajudem-nos a encontrar uma forma para tornar isto legal". Seria desastroso se tivesse sido apenas isto. Mas a deputada, bem ou mal, populista ou não, atirou números para cima da mesa: 2400 pessoas frequentam hoje diariamente o Rivoli, sendo a previsão anual de frequência de 392 mil pessoas contra as 132 mil verificadas no passado.

Como ninguém havia feito o trabalho de casa, não havia como contestar. E como ninguém sabia o que estava ali a dizer, a fazer, a defender, agarraram-se todos aos números e, eis que, de repente, a Oposição esqueceu-se que o motivo da Assembleia não era nem o serviço público, nem a estratégia cultural da Câmara, nem a formação de públicos. Ontem, não era isso. Porque isso já havia sido vastamente discutido. Mas como eles não sabiam o que era, qualquer casca de banana era boa para escorregar. Escorregaram todos.
Rui Rio, estóico, aguentou-se calado. Com toda a justa propriedade. No lugar dele, também não teria aberto a boca. Abriu apenas uma breve excepção para voltar a explicar a teoria dos 5% das receitas líquidas do Rivoli que La Féria temporariamente não terá que pagar à Câmara. E abalou.

Na assistência, estavam os resistentes que se barricaram no Rivoli. Sozinhos, como se não passassem afinal de um bando de loucos que cismou que o Teatro tem outras obrigações. Os únicos que sabiam o que estavam realmente ali a fazer e a dizer; os únicos que fizeram as perguntas certas. Tarde demais. Já não havia quem lhes pudesse responder. E estava também o povo da cidade. Gente que não tem nada a ver com nada, mas que vai ali como quem ia, em tempos idos, ao Coliseu de Roma. Ver um espectáculo selvagem. Não lhes importa o assunto; importa o quanto se divertem com aquele circo. É um circo.

quinta-feira, dezembro 06, 2007

O património são as pessoas... presentes



Facto: há um Porto que se importa. O Porto de sempre, que dá cara e corpo aos manifestos: seja o Coliseu, o Rivoli, os Aliados, o que há-de vir. Não é o Porto antipoder; é o Porto que deseja um poder dinâmico, construtivo. O Porto que até pode ver o Mundo, mas prefere ver o Mundo no Porto. O Porto que anteontem, apesar do frio, do jantar, do futebol, do dia de trabalho, marcou presença no 11.º aniversário do Património Mundial.
Facto: há um Porto que não se importa. Que se cala, que se abstém, que se acomoda. O Porto que porventura não saberá o que significa ser Porto, segunda cidade do país com Centro Histórico inscrito numa parca lista de riquezas mundiais. O Porto que ignora o dever de ter mais e melhor do que já tem. O Porto que anteontem falhou à chamada. Se o Património são, também, as pessoas, a cidade conta as que às 20 horas se ergueram diante do Palácio da Bolsa. Não importa o que vale a música; importa o que vale a cidade. E a forma, literal, como o Bando dos Gambozinos a abraçou. Conta com as que às 22 horas inundaram o Salão Árabe do mesmo Palácio - os porteiros travaram entradas por, pouco depois, já não caber lá dentro "um grão de areia" - para ouvir uma conferência e duas intervenções musicais. Conta com as que, já depois da meia-noite, andavam à deriva pela cidade à espera que a cidade tivesse alguma coisa para lhes dar. E para receber. Mas a cidade, como antecipou Pedro Burmester, não estava toda lá.
O pianista, a quem coube o momento simbólico da noite, executou 4'33 de John Cage, compositor que citou antes de sentar-se ao piano. "Não quero dizer nada e, no entanto, estou a dizê-lo". Para mim, acrescentou, "isto é poesia". Burmester declamou-a assim em silêncio. E para esse silêncio é preciso coragem. Ao lado da partitura, um cronómetro laranja. Talvez os quatro minutos e 33 segundos mais longos de uma actuação. Ajeita a pauta. Pausadamente. Não tira os olhos do piano, mãos no colo, postura hirta. Ouve-se o flash da câmara fotográfica. Pouco mais. Nem sequer a tosse costumeira. Silêncio há-de convidar ao silêncio. Aí, disse tudo. Alguém ouviu?

terça-feira, dezembro 04, 2007

Porto Património Mundial

Pedro Abrunhosa cantará hoje, não por acaso, a "Balada de Gisberta", música que na história trágica de um transexual assassinado há cerca de um ano nas ruas do Porto por crianças que não deveriam sequer saber o que é matar, conta a vida de uma cidade "de pobreza, de prostituição, de miséria, de abandono, de violência, de desintegração social". O Porto também é isto.

Perdi-me do nome,
Hoje podes chamar-me de tua,
Dancei em palácios,
Hoje danço na rua.
Vesti-me de sonhos,
Hoje visto as bermas da estrada,
De que serve voltar
Quando se volta p’ró nada.
Eu não sei se um Anjo me chama,
Eu não sei dos mil homens na cama
E o céu não pode esperar.
Eu não sei se a noite me leva,
Eu não ouço o meu grito na treva,
E o fim vem-me buscar.
Sambei na avenida,
No escuro fui porta-estandarte,
Apagaram-se as luzes,
É o futuro que parte.
Escrevi o desejo,
Corações que já esqueci,
Com sedas matei
E com ferros morri.
Eu não sei se um Anjo me chama,
Eu não sei dos mil homens na cama
E o céu não pode esperar.
Eu não sei se a noite me leva,
Eu não ouço o meu grito na treva,
E o fim vem-me buscar.
Trouxe pouco,
Levo menos,
E a distância até ao fundo é tão pequena,
No fundo, é tão pequena,
A queda.
E o amor é tão longe,
O amor é tão longe… (…)
E a dor é tão perto.

A provocação de Burmester

Aparentemente, qualquer um poderá executar a partitura de John Cage e tocar a sua faixa 4'33. Mas se for Pedro Burmester a tocá-la, soará diferente. Porventura, soará hoje, no Palácio da Bolsa, no Porto, às 22 horas, como deverá soar. Simplesmente, porque não há música contida nessa partitura. Há apenas silêncio. Literalmente, quatro minutos e trinta e três segundos de silêncio.
A peça "composta" em 1952, consiste numa única instrução destinada ao executante: cumpri-la é não a tocar. Tocando-a. Porque, defendeu o pioneiro da "indeterminação", "tudo o que fazemos é música". E se aí reside a genialidade do compositor americano do século XX, falecido em 1992, semelhante genialidade caberá ao pianista Pedro Burmester. Não porque seja capaz de manter-se inerte diante do piano. Mas porque tendo prometido, no rescaldo de todas as controvérsias que envolveram a Casa da Música, de que é actualmente director artístico, não voltar a tocar no Porto enquanto Rui Rio fosse presidente de Câmara, será capaz de o cumprir, não o cumprindo.
Burmester associa-se à cidade, à celebração do Porto Património Mundial, ao evento apartidário, mas não retira veracidade à afirmação proferida em 2004. No entanto, em 4'33 – gesto criativo considerado absolutamente inovador –, não há só silêncio. Originalmente, a peça pretendeu questionar a própria música enquanto conceito, dirigindo a nossa atenção para o contexto em que a música existe e para a forma como a ouvimos. O pianista – num gesto que há-de ser recordado como provocação – não deverá querer questionar a música. Sobra o contexto em que será ouvida. Ouça quem quiser. O que souber.

Eu imPORTOme


sábado, dezembro 01, 2007

Ginginhas de Lisboa

Lisboa - fim de tarde. Lisboa - Hotel do Chiado. Lisboa - poesia. Lisboa - Inverno. Lisboa - conto de fadas. Lisboa - amor. Lisboa - perdida. Lisboa - mãos dadas. Lisboa - Bairro Alto. Lisboa - nostálgica. Lisboa - início de tarde. Lisboa - amigos. Lisboa - outra vez. Lisboa - teatro. Lisboa -restaurante nepalês. Lisboa - Verão. Lisboa - Berardo. Lisboa - beijos roubados. Lisboa - conversas para sempre. Lisboa - Aldina Duarte. Lisboa - lágrimas na estação. Lisboa - vinho tinto. Lisboa - Jardim da Estrela. Lisboa - guardas-me?. Lisboa - Largo da Graça. Lisboa - ceú estrelado. Lisboa - a correr. Lisboa - só por uma vez. Lisboa - só mais esta vez. E de todas as vezes Lisboa - Lisboa com ginginha.
A ASAE fechou a Casa das ginginhas sem saber que estava a fechar a via verde das minhas passagens por Lisboa. Não é justo.