terça-feira, dezembro 31, 2013

Let's jump!


Para 2014, é só isto. Ou como explicava o Senhor Valéry (do Gonçalo M. Tavares), que era pequenino mas dava muitos saltos: "Sou igual às pessoas altas só que por menos tempo." Jump!


segunda-feira, dezembro 30, 2013

Pedro Burmester: O concerto que faltava

[Casa da Música]

[O jornalismo tem regras. E tem contingências de espaço. Nem sempre é possível dizer tudo, e muito menos tudo o que se quer, da forma que se sente. O jornalismo é feito de factos, não de afectos. Mas às vezes custa muito cumprir as regras. Porque às vezes as regras parecem distanciar-nos mais da verdade do que aproximar-nos dela. E porque há pessoas tão raras, capazes de gestos tão singulares, que escrever sobre elas, mesmo que seja rigorosamente factual, parecerá sempre apenas emocional.

Aqui fica a versão alargada do texto que escrevi sobre Pedro Burmester para a Notícias Magazine de dia 8 de Dezembro, com tudo o que seria passível de figurar na transgressão das regras e com tudo o que não cabia num espaço que, sabe quem escreve, é sempre pouco.]

Esteve dez anos sem pisar um palco no Porto, silêncio que foi um ruidoso protesto contra a ausência de política cultural de Rui Rio, presidente da Câmara da cidade entre 2001 e 2013. Pedro Burmester, que acaba de completar 50 anos, quarenta de carreira, foi o primeiro director artístico da Casa da Música, mas nunca tocou na Casa que sem ele não existiria. Hoje fecha-se um ciclo. Não é regresso nem reconciliação, é estreia absoluta carregada de simbolismo. A sala Suggia está esgotada para o ouvir.

Nunca saberemos o que poderia ter sido o Porto se Pedro Burmester não se tivesse ausentado. Mas sabemos o que não teria sido se ele não tivesse estado presente: no mínimo, a Casa da Música (CdM) não existiria. Não é coisa pouca. Portugal terá um dos melhores pianistas do mundo, mas o Porto tem o homem que aos 35 anos acreditou que todas as pessoas poderiam, através da música, caber no mesmo lugar. Não era só um sonho artístico, era um projecto de igualdade. Estávamos em 1998. Mas o que nunca pareceu fácil haveria de tornar-se ainda mais difícil.

Depois de uma improvável vitória autárquica em 2001, rapidamente se percebeu que Rui Rio, social-democrata até então vagamente desconhecido, iria cumprir mais de um mandato na Câmara do Porto. No bolso trazia, como orgulhosamente avisou, uma máquina de calcular para observar a cultura. Observou, calculou e arrasou. No primeiro ano, reduziu o orçamento da cultura em 60%. Depois acabou com o próprio pelouro da Cultura, esvaziou o Teatro Municipal Rivoli, exigiu demissões e impôs novos protagonistas na Casa da Música, todos gestores, todos do PSD. Os seus doze anos de presidência autárquica foram marcados pelo mais espesso vazio cultural de que há memória numa cidade que fora eleita, na antecâmara da sua chegada, Capital Europeia da Cultura.

A Casa da Música (CdM) era o sonho de Pedro Burmester. Idealizou-a em 1998, pensou detalhadamente numa casa que albergaria todas as músicas para todas as pessoas. Seria "uma revolução", vaticinou. Foi dele a ideia de acolher no equipamento a Orquestra Nacional do Porto, foi dele a ideia de criar células como o Remix Ensemble, o Remix Orquestra ou o Estúdio de Ópera. Foi dele o projecto artístico. Foi até dele a escolha do arquitecto holandês Rem Koolhaas, autor da obra, que haveria de ser galardoado em 2000 com o Pritzker. Pela crença na Casa da Música, "contra a vontade da família e amigos", Pedro Burmester largou a carreira musical e o piano, os concertos e os discos. Mas os novos gestores tinham dificuldade em ver nele o mentor do projecto, quanto mais a alma. E Rui Rio parecia decidido a não facilitar a vida a quem tivesse ambições culturais. As ambições de Bumester não eram egocêntricas, eram puramente democráticas, o que longe de ajudar só piorava.

"Tive muitas decepções na política", confessa o pianista numa tarde de sábado, no mesmo camarim da CdM onde se refugiava quando no passado precisava de fumar. “Encontrei muitas pessoas que usam a causa pública só para servirem a sua carreira pessoal”. Mas também conheceu o outro lado, “pessoas sérias, dedicadas, que fazem coisas pelos outros”. Para ele, são essas pessoas que contam. "Só faz sentido o trabalho para o bem comum. Fazer coisas só para nós é ridículo. Um dia deixamos de existir, e se o que fizemos não servir para os outros, então não serve para nada".  Era esta convicção que o fazia correr. 

Em 2003, em pleno e aceso divórcio dos agentes culturais com a autarquia, o pianista e então administrador da CdM, alertou numa entrevista ao JN, para o risco que Rio representava. "Vai transformar o Porto numa aldeia", antecipou. Rio ofendeu-se, exigiu a sua demissão. "Se for sério, demite-se. Depois, pode fazer as críticas que quiser", ripostou. Burmester acabaria por ser afastado, tal como o resto da administração. Mas deixou uma promessa: "Enquanto Rui Rio mantiver a sua política cultural, ou a ausência dela, não toco na cidade". Há palavras de honra e palavras de circunstância. Passaram dez anos e Burmester manteve intacta a honra cumprindo o que hoje designa como “um boicote que infelizmente não serviu para nada”. 

Rio nunca cedeu. Burmester também nunca mudou de opinião, mesmo hoje, à distância, sobre o ex-presidente da Câmara do Porto. "Terá sido um excelente contabilista, embora me pareça que gerir bem as finanças é obrigação de qualquer autarquia". De resto, tem dificuldade em reconhecer nele o salvador da Pátria que, nos últimos tempos, e de forma cada vez mais efervescente, tantos parecem ver. "Acho estranhíssimo que se consiga pensar nele como solução para Portugal, caso o estado do país piore. Mas Portugal sempre foi historicamente assim, sempre gostou desses homens providenciais que fazem bem as contas, e que parece que sabem o que é melhor para os outros. Já tivemos vários desses: Salazar, Cavaco Silva enquanto primeiro-ministro e Rui Rio têm perfis semelhantes", classifica. E insiste que não se enganou. "Aquilo que Rui Rio provou ser em doze anos foi o que eu achava em 2003". Ou seja? "É limitado para o cargo que ocupou".

"Rui Moreira vai ser um excelente presidente"

Em Abril de 2005, quando a CdM foi finalmente inaugurada, Burmester não estava lá. Voltou em 2006, como director artístico, mas nunca subiu ao palco. "Mesmo que a política cultural tivesse mudado, nunca iria programar-me a mim próprio", diz, sem surpresa. Um ano depois, quando o Porto celebrava o 11º aniversário como Património Cultural da Humanidade marcou presença no salão Árabe do Palácio da Bolsa. Especulava-se se deixaria cair a sua palavra. Não deixou. Executou a peça "4'33" do compositor norte-americano John Cage. Quatro minutos e meio de silêncio. Deixou a Casa da Música em 2009, raras vezes foi visto na cidade, e obviamente nunca no palco.

A sua última aparição pública na cidade enquanto pianista foi no Dragão, em 2003, pendurado numa grua. O Futebol Clube do Porto (FCP) inaugurava o novo Estádio onde hoje tem lugar cativo - e fé. "O FCP preenche aquela coisa que não tenho, que é a fé. Não tenho fé, não sei o que é. Não digo que não sou uma pessoa religiosa, que sou, ou pelo menos entendo a dimensão religiosa, até porque ela só enriquece (não a ter é ter seria ter uma lacuna qualquer), mas a fé não sei o que é.  O Porto preenche esse vazio desde pequeno."  Essa fé pode salvar o campeonato deste ano? "Para já, o que me preocupa não é o resultado, mas repetição dos erros, Espero quem está à frente continue com o mesmo discernimento que tinha, se não ainda fico mais preocupado." Pinto da Costa é Deus para a maioria dos portistas. Burmester não vai tão longe. 

Talvez o país não perceba, mas o Porto sabe-o: o concerto de Pedro Burmester, hoje, na Casa da Música, não é só mais um concerto. Ele diz que é. A fazer de conta. "Vou fazer de conta que é, para não ficar nervoso". Mas sabe que não é. Como poderia ser só mais um concerto se é o primeiro na Casa que foi "a grande aposta" da sua vida, e na qual nunca tocou? Como poderia ser só mais um concerto se representa o fim do exílio artístico que se auto-impôs na cidade que é a sua? Não é só mais um concerto, é o concerto que faltava. "Digo sempre que toco igual, seja para dez pessoas, para cem ou para mil. Seja onde for, tento sempre fazer o meu melhor. Portanto, é só mais um". Não é, pois não? "Aqui entre nós", sorri, "não é. Mas vou fazer de conta que é".

E se fizéssemos de conta que no dia do concerto era Rui Rio? "Se eu fosse Rui Rio", continua Burmester, a rir, no intervalo do ensaio, "compraria bilhete para a primeira fila da sala, assistiria ao concerto e faria questão de me cumprimentar no fim". Burmester tem humor, Rio precisaria de fair-play. Será fácil adivinhar a sua ausência. Estará presente Rui Moreira, presidente da Câmara há 48 dias, que elegeu a cultura como uma das três prioridades para o Porto e cuja vitória fez o pianista feliz. "É cosmopolita, é do Porto e gosta muito do Porto. Sendo de Direita gosta da Esquerda, o que não deve ser fácil de gerir. Apresentou-se como independente porque consegue ter equidistância em relação às coisas. Está atento às pessoas e tem sentido de equilíbrio e correcção na maneira como olha para elas, que é o mais importante". Pedro Burmester acha que o independente ganhou porque "as pessoas sentiram isso". E tem quase a certeza que não vão enganar-se. "Tenho quase a certeza que vai ser um excelente presidente da Câmara". A boa impressão de Moreira é anterior às eleições. "Lembro-me até de ter indicado o Rui Moreira para presidente da fundação da CdM, teria sido um belíssimo presidente".  

Declaração de interesses: Pedro Burmester vive no concelho da Maia, é aí que vota. Não fez campanha por Rui Moreira, foi assediado por outras candidaturas para o fazer, mas não apoiou publicamente ninguém.

Acompanha a política nacional, o que hoje significa estar também atento às políticas europeias. E não embarca na aversão nacional à Alemanha. "A ira sobre a Alemanha é uma ira sobre uma certa política que a Alemanha neste momento representa. Temos que saber distinguir as coisas. Nada me move contra o povo alemão ou contra qualquer povo. Pode mover-me contra as políticas que a Alemanha impôs, e que quase que diz: "nós produzimos muito e bem, e quem não produz muito e bem tem que ser penalizado". Nisso estou em desacordo. Mas tenho uma afinidade imensa com a cultura alemã e em grande parte com a música e a cultura, não deixa de ser o espelho de um povo. Quem produziu Bach e Mozart e Beethoven e Goethe e e Kant e Heidegger e Schopenhauer tem de ter um lado muito bom. Agora, uma coisa é a cultura, outra é o povo e outra são as políticas. Não misturo tudo no mesmo saco".

De resto, Pedro Burmester é um optimista confesso e não há crise ou o Governo que lhe derrube a esperança. "Se olharmos retrospectivamente para o mundo, para o país ou para o nosso canto, acredito que as coisas têm melhorado... mesmo se às vezes andam para trás. Não acredito que vá acabar o Estado Social, nem acredito que venham aí ditaduras. Posso ser ingénuo e estar enganado, mas acredito que se vierem aí ditaduras, as pessoas vão saltar, vão para a rua lutar. Os tempos são difícieis, é verdade, mas eu sou optimista", confirma.

O pianista moral

Pedro Burmester nunca parece o que não é. É tímido e idealista, de uma humildade à prova de bala, rara simplicidade, é demasiado normal para quem tem um talento superior e inescapável. Terminou o Curso Superior de Piano do Conservatório do Porto com vinte valores, surpreendeu professores, correu mundo, rendeu públicos. Tem mais de mil concertos no percurso, mas não gosta de pensar em si como "artista", nem de alimentar a aura que sobre ele se desenhou. "Gosto de pensar em mim como um homem que dorme bem, que tem consciência tranquila, que tenta sempre fazer o que é correcto e justo. Não quero mais do que isso". 

Completou 50 anos em Outubro, mas fez questão de não os celebrar. "Disse, na brincadeira, que se chegar aos 60 farei festa. Porque os 60 são uma idade respeitável. Agora, aos 50, não se é velho nem novo, acontece-nos só aquilo que vem nos livros: olhamos para trás e reflectimos mais, discernimos melhor".
Olhamos para trás e encontramo-lo num berço da alta burguesia portuense. Não o renega, mas é na Esquerda que encontra identidade. "A Direita desconfia do ser humano, ou acha que ele tem sempre um lado mau que prevalece, ou entende que é preciso enquadrá-lo de alguma forma, ou acha que se alguém tiver de ficar para trás, paciência". Ele está nos antípodas deste princípio. "Acredito que o lado bom das pessoas, quando existe, prevalece sempre. E não acredito em ninguém que impõe quem são os melhores".

Nunca planeou a vida, muito menos a carreira. Mas continuando a olhar para trás, descobrem-se ciclos de dez anos. Foi aluno de Helena Sá e Costa (1913-2006) durante dez anos, deu o primeiro concerto aos dez anos, gravou um disco com Schubert e Schumann em 2010 depois de dez anos sem gravar disco nenhum. E ficou dez anos sem tocar no Porto. "Calhou. Nunca fiz planos. Nunca", insiste com a convicção de que "desprendimento é uma virtude ou pelo menos uma vantagem, é liberdade". "Há alturas da vida em que chegamos a cruzamentos, temos várias estradas e fazemos opções, mas são sempre opções de momento. Não olho para o fim da estrada. O que é que eu gostava daqui a dez anos? De me sentir bem comigo próprio, de fazer o que deve ser feito, fazer as coisas certas."

Não sabe se os últimos dez anos passaram depressa ou devagar. Sabe que foram "anos bons". Foi pai três vezes: de Júlia, que tem dez anos e toca violoncelo, de Ricardo que tem oito anos e toca piano, de Maria Inês, que herdou o nome da avó, e tem apenas oito meses. Sabe que foram anos de aprendizagem. "Ter estado do lado de lá, ensinou-me a gostar mais do público. Ainda sinto desconforto a pisar o palco, é uma coisa muito exposta, intrusiva de alguma forma, mas a relação pacificou-se, hoje sou mais generoso em palco do que era". Sabe que foram anos de redescoberta. "Há uns anos dizia que não me faria grande confusão fazer outra coisa que não a música, não me via dependente do piano. Hoje sei que, mesmo quando for velhinho, a música, o piano, vão lá estar sempre". Talvez o ame mais agora, reconhece. Talvez porque perdas irreparáveis o elucidaram sobre quem é.

"No último ano e meio perdi a minha irmã, o meu pai e a minha mãe". E não fora a persistência desta mãe e talvez ele tivesse sido jogador de futebol. "A mãe não me deixava jogar à bola para não magoar as mãos", recorda a rir. Esta mãe que, já doente, chegou a acreditar que hoje estaria presente no seu concerto inaugural na CdM. Compensou-a ensaiando perto dela. Hoje, ela estará lá sem estar. "A morte da minha mãe mudou a minha relação com o piano. Ela gostava tanto do que eu fazia, entregou tanto de si para que eu e os meus irmãos - Gerardo é pintor, Alexandre é arquitecto, Rita é fotógrafa - fizéssemos aquilo que fazemos, que seria ingrato não lhe agradecer. A forma que tenho de agradecer é continuar, é tocar e gostar de o fazer".

Pedro perdeu ainda Bernardo Sassetti, que com Mário Laginha completava o projecto "Os três pianos", mas nunca esmoreceu. "Tento ver as perdas como luzes que ficam cá dentro, estão acesas em nós e às vezes ficam mais fortes pela ausência. Porque são pessoas que nos deram tanto, que deixaram tanto, que não desaparecem. O Bernardo é um caso desses, nunca vai envelhecer, vai ser sempre na minha memória o que era".

Pedro Burmester é uma espécie de homem moral de que falava Darwin, movido por forte sensibilidade e imbeliscável ética, que defende contra tudo a igualdade entre todos, mesmo que isso implique o seu sacrifício pessoal. Talvez por isso saiba que nenhuma guerra foi perdida. "Voltava a fazer tudo o que fiz. Não estou zangado com ninguém, ninguém me deve nada. Não guardo nenhum rancor, nem de Rui Rio. E a Casa da Música está aqui, existe. Portanto, só pode ter valido a pena." E a Casa é como sonhou? "Terá sempre um handicap: é grande. Uma coisa grande tende a parar, é como um  barco grande no mar: para mudar de rumo ou para reagir, demora muito tempo. Acho que a casa deve estar atenta para não ficar no mesmo sítio. Não pode reiventar-se em cada ano, mas deve estar atenta e se calhar já não falta muito para vir o tempo em que deve dar uma voltinha".

E se um dia o desafiassem para outra empreitada, aceitava? "Avaliava", surpreende. "Se o desafio da CdM fosse hoje, provavelmente diria que não porque não me sentiria capaz de o fazer. A vantagem de ser mais novo é ser inconsciente", diz, sempre a rir. "Fui um bocadinho inconsciente, não fui?", pergunta. E responde. "Correu bem. A minha crença era tão grande que levou tudo à frente. Havendo essa mesma crença, se um novo desafio tivesse características semelhantes, acho que não diria que não".

Porque era o concerto que faltava, o recital de hoje é tão simbólico que será fácil antecipar o desfecho. A sala que ele baptizou Suggia (em homenagem a Guilhermina, violoncelista), numa interminável ovação, que numa palavra quererá dizer apenas: obrigada. Talvez a cidade não lhe deva nada, talvez só essa palavra.

[Foi exactamente assim, sala cheia, interminável ovação, cinco encores, uma corrente de emoção, um obrigada colectivo dito de pé, num momento em que tudo naquela Casa voltou mesmo a fazer sentido.]

PROGRAMA:
J.S. BACH - Partita nº 6, BWV 830 
FRANZ LISZT - Bênção de Deus na Solidão 
FERNANDO LOPES-GRAÇA - Variações sobre um tema popular português 
GYÖRGY LIGETI - Musica Ricercata 

domingo, dezembro 29, 2013

Canções em repeat em 2013

[José Miguel Gaspar]

Moonson, I have a tribe
Pink Rabbits, The National
Jubilee street, Nick Cave
The mother we share, Chvrches
Come down to us, Burial
Love is to die, Warpaint
Fragment two, These New Puritans
Broken, James Bugg
If you're looking to a way out, Tindersticks
My father, Nina Simone
Advanced Falconry, Mutual Benefit
C.L. Rosarian, Mutual Benefit
The vampire of time and memory, Queens of the stone age
Medicine, Daughter
Sofrendo por você, Sensible Soccers
Song for Zula, Phosphorescent
Heavy feet, Local Natives
Red eyes, The war on drugs
Ljoss, Forest Swords
Paper Trails, Darkside
We both know, Au Revoir Simone
Sharteeth, The Octopus Project
Alive, Empire of the sun
Something more the power, ASIWYFA
Drew, Goldfrapp
So good at being in troubles, Unknown Mortal Orchestra
Avalanche, Zola Jesus
Love is the devil, Dirty Beaches
Cherry, Chromatics
The fall, Rhye
Fall Creek, James Blake & Bon Iver
Baby says, The Kills
I'm waiting here, David Lynch
I follow you, Melody's Echo Chamber
Cause, Rodriguez
Dropla, Youth Lagoon
Wishes, Beach House
Lenço enxuto, Samuel Úria
Werewolf heart, Dead Man's Bones
Somewhere else, Indians
I love you, but you're dead, Mark Eitzel
Where are we now, David Bowie
Says, Nils Frahm
After life, Arcade Fire

sábado, dezembro 28, 2013

Concertos inesquecíveis em 2013

[Paulo Pimenta]

Pedro Burmester, Casa da Música, Porto
Phosphorescent, Paredes de Coura
Alabama Shakes, Paredes de Coura
Crystal Castles, Hard Club Porto
Forest Swords, Theatro Circo Braga
James Blake, Primavera Sound Porto
Nick Cave, Primavera Sound Porto
Mark Eitzel, Lux, Lisboa
These New Puritans, Hard Club Porto
The XX, Lisboa
Savages, Primavera Sound Porto
Beach House, Hard Club Porto
Sensible Soccers, Paredes de Coura e Braga
Explosions in the sky, Primavera Sound Porto
Local Natives, Primavera Sound Porto
Daughn Gibson, Primavera Sound Porto
My Bloody Valentine, Primavera Sound Porto
Blur, Primavera Sound Porto
Yo La Tengo, Casa da Música Porto
ASIWYFA, Paredes de Coura
Devendra Banhart, Casa da Musica, Porto 
Jay-Jay Johanson, Casa das Artes, Famalicão
Divine Comedy, CC Vila Flor, Guimarães
Cold Cave, Paredes de Coura
Glass Candy, Primavera Sound Porto
Wild Nothing, Primavera Sound Porto
Unkown Mortal Orchestra, Paredes de Coura
Smashing pumpkings, Marés Vivas, Gaia

[Não necessariamente por esta ordem, mas por uma ordem aproximada]

Da plateia em 2013

[Oleg Oprisco]

Class Enemy, Nuno Cardoso **
A visita da velha senhora, Nuno Cardoso *****
Gertrude, Simão do Vale **
A ballet story, Victor Hugo Pontes ***

Livros sublinhados em 2013


A ponte sobre o Drina, Ivo Andric
Mistérios, Knut Hamsun
A arte de chorar em coro, Erling Jepsen
Quanto mais depressa ando, mais pequena sou, Kjersti Annedatter Skomsvold
O sentido do fim, Julian Barnes
Os níveis da vida, Julian Barnes
Rebeldes, Sandór Marai
Montediddio, Erri de Luca
Engano, Philip Roth
Contos completos, Lydia Davis
Na solidão dos campos de algodão, Bernard Marie-Koltès
A solidão da velha senhora, Friedrich Durrenmatt
Sou o vento, Jon Fosse
Le bleu est une coleur chaude, Julie Maroh
A literate passion: letters, Anais Nin e Henry Miller
O que é a arte?, Lev Tolstoi
Pequenas criaturas, Ruben Fonseca
A pedra ainda espera dar flor, Raul Brandão
A boca na cinza, Rui Nunes
Uma viagem no Outono, Rui Nunes
Livro do ano, Afonso Cruz
Para onde vão os guarda-chuvas, Afonso Cruz
A estação dourada, Urbano Tavares Rodrigues
Nenhuma vida, Urbano Tavares Rodrigues
Square Tolstoi, Nuno Bragança
A desumanização, valter hugo mãe
Uma escuridão bonita, Ondjaki
Os militares e o poder, Eduardo Lourenço
Agora e na hora da nossa morte, Susana Moreira Marques
O Verão de 2012, Paulo Varela Gomes

Fitas em pause em 2013


Like someone in love, Abbas Kiarostami *****
Pietà, Kim Ki-Duk *****
Dans la maison, François Ozon *****
To the wonder, Terrence Malick *****
Promise Land, Gus Van Sant *****
Le consequenze dell'amore, Paolo Sorrentino *****
Apollonide, Bertrand Bonello *****
Habemus Papam, Nanni Moretti *****
Nostalghia, Andrei Tarkovsky *****
The Grandmaster, Wong Kar Wai ****
A gaiola dourada, Ruben Alves ****
La vie d'Adèle, Addellatif Kechiche ****
Frances Ha, Noah Baumbach ****
Io e Te, Bernardo Bertolucci ****
O cemitério da Europa, Alexander Ford ****
A última etapa, Wanda Jakubowska ****
Anna Karenina, Joe Wright ****
The impossible, Juan Antonio Bayona ****
Amores Imaginários, Xavier Dolan ****
The way, way back, Nax Faxon & Jim Rash ****
Lincoln, Steven Spielberg ****
Life of Pi, Ang Lee ****
The sessions, Ben Lewin ****
Fracture, Gregory Hoblit ****
Perfect sense, David Mackenzie ***
The place beyond the pines, Derek Cianfrance ***
Spring breakers, Harmony Korine ***
Silver Linings playbook, David O. Russel ***
Zero Dark Thirty, Kathryn Bigelow ***
Prisoners, Denis Villeneuve ***
Before midnight, Richard Linklater **
Behind the candelabra, Steven Soderbergh **
Parkland, Peter Landesman **
Lovelace, Rob Epstein **
The Master, Paul Thomas Anderson **
Only God forgives, Nicolas Winding Refn *
The bling ring, Sofia Coppola *
Two mothers, Anne Fontaine *
The paperboy, Lee Daniels *

A desilusão:

Os dois filmes mais aguardados do Ryan Gosling: The place beyond the pines e Only god forgives. E também o Before Midnight.



sexta-feira, dezembro 27, 2013

quarta-feira, dezembro 25, 2013

terça-feira, dezembro 24, 2013

A change at Christmas



If I could stop time
It would be a frozen moment just around Christmas
When all of mankind reveals its truest potential
And there is sympathy for the suffering
And the world embraces peace and love and mercy
Instead of power and fear
And as sure as I'm standing here
I swear it really does appear that a change comes over us

quinta-feira, dezembro 19, 2013

Julie Maroh: Le bleu est une coloeur chaude


Emma,

Tu dors près moi alors que j'écris ces lignes. Je te connais depuis tellement d'annés que je suis capable de savoir ce que tu a ressenti dès l'instant ou on m'a mise dans ce lit d'hospital... De la culpabilité.
Tu te dis que si tu avais fait plus attention à moi, tu aurais pu voir les symptômes de mon mal-être. Tu te dis que tu aurais pu me sauver, même si tous les médecins te prouvent le contraire.

Mais mon amour, tu m'as sauvée d'un monde établi sur des préjugés et des morales absurdes, pour m'aider à m'accomplir entièrement. Personne n'est fautif de ce qui arrive aujourd'hui.
Ce que j'emporte avec moi ce sont mes plus beaux souvenirs, la plupart vécus avec toi... nos rires, notre amour... le bleu de ton regarde et le bleu de te cheveux qui ont hanté mes nuits d'adolescent tout ce temps où t'ai aimée sans oser le vivre.

Alors, maintenant que je parts e tu te restes, je t'en prie... tu dois vivre. Tu dois vivre pleinement cette vie si précieuse qu'il te reste, et être - comme moi aujourd'hui sur mon dernier lit - sans regrets et en paix avec toi-même.

La vie que tu m'as offerte m'aurait pu être meilleure.

Emma... tu m'avais demandé si je croyais que l'amour eternel existe. L'amour est quelque chose de trop abstrait et d'indiscernable. Il est dépendant de nous perçu et vécu par nous. Si nous n'existions pas, il n'existerait pas. Et nous sommes tellement changeants...

Alors l'amour ne peut que l'être aussi.

L'amour s'enflamme, trépasse, se brise, nous brise, se ranime... nous ranime. L'amour n'est peut-être pas éternel mais nous, il nous rend éternels...
Par-delà notre mort, l'amour que nous avons éveille continue d'accomplir son chemin.

Clémentine.

quarta-feira, dezembro 18, 2013

A minha canção do ano!



Chegou quase no fim do ano e é uma tempestade. Em loop, loop, loop!

terça-feira, dezembro 17, 2013

Adriano Moreira


Hoje, em bela entrevista ao DN...

"A chamada reforma do Estado teria um belo começo se fosse iniciada pela revisão interna dos partidos existentes (...) O que define uma nação é ser uma comunidade de afectos, daí que de cada vez que se fere essa identidade se esteja a destruir a identidade nacional."

... a que se junta a belíssima entrevista à Visão, de quinta-feira passada:

"Os grandes desastres mundiais começaram com coisas fúteis. A morte de um príncipe provocou 20 milhões de mortos, na I Guerra Mundial. A eleição de um baixote de bigode e cabelo preto vitimou 50 milhões, na II Guerra. A Alemanha não devia esquecer que eum aguentou o muro foram os povos que gostam de ir à praia e que, nos cemitérios da Normandia, não há alemães, mas sim soldados ingleses e americanos."

"O imprevisível está à espera de uma oportunidade."

segunda-feira, dezembro 16, 2013

Personalidade do ano para imprensa estrangeira


O ex-Presidente da República Mário Soares foi distinguido pela Associação da Imprensa Estrangeira em Portugal com o Prémio Personalidade do Ano/Martha de la Cal deste ano.

O galardão é um reconhecimento do contributo da personalidade premiada para a divulgação da imagem do país no exterior. “Os correspondentes quiseram, com este prémio, constatar o importante papel desempenhado por Mário Soares na democracia e na História de Portugal”, justifica a associação para a atribuição do Prémio Martha de la Cal.

Se a distinção reconhece a “longa e intensa trajectória política” do histórico socialista, que fez 89 anos este mês, ela ocorre nesta altura porque também assinala a “enérgica actividade” de Mário Soares nos últimos meses, mesmo apesar do seu internamento hospitalar em Fevereiro.
[Público]

Só em Portugal Mário Soares é tratado como um velho senil. Triste país!


domingo, dezembro 15, 2013

quinta-feira, dezembro 12, 2013

António Lobo Antunes: O último abraço que me dás


O lugar onde, até hoje, senti mais orgulho em ser pessoa foi o Serviço de Oncologia do Hospital de Santa Maria, onde a elegância dos doentes os transforma em reis. Numa das últimas vezes que lá fui encontrei um homem que conheço há muitos anos. Estava tão magro que demorei a perceber quem era. Disse-me
- Abrace-me porque é o último abraço que me dá
durante o abraço
- Tenho muita pena de não acabar a tese de doutoramento
e, ao afastarmo-nos, sorriu. Nunca vi um sorriso com tanta dor entre parêntesis, nunca imaginei que fosse tão bonito.
Com o meu corpo contra o dele veio-me à cabeça, instantâneo, o fragmento de um poema do meu amigo Alexandre O'Neill, que diz que apenas entre os homens, e por eles, vale a pena viver. E descobri-me cheio de respeito e amor. Um rapaz, de cerca de vinte anos, que fazia quimioterapia ao pé de mim, numa determinação tranquila:
- Estou aqui para lutar
e, por estranho que pareça, havia alegria em cada gesto seu. Achei nele o medo também, mais do que o medo, o terror e, ao mesmo tempo que o terror, a coragem e a esperança.
A extraordinária delicadeza e atenção dos médicos, dos enfermeiros, comoveu-me. Tropecei no desespero, no malestar físico, na presença da morte, na surpresa da dor, na horrível solidão da proximidade do fim, que se me afigura de uma injustiça intolerável. Não fomos feitos para isto, fomos feitos para a vida. O cabelo cresce-me de novo, acho-me, fisicamente, como antes, estou a acabar o livro e o meu pensamento desvia-se constantemente para a voz de um homem no meu ouvido
- Acabar a tese de doutoramento, acabar a tese de doutoramento, acabar a tese de doutoramento
porque não aceito a aceitação, porque não aceito a crueldade, porque não aceito que destruam companheiros. A rapariga com a peruca no braço da cadeira. O senhor que não olhava para ninguém, olhava para o vazio. Ali, na sala de quimioterapia, jamais escutei um gemido, jamais vi uma lágrima. Somente feições sérias, de uma seriedade que não topei em mais parte alguma, rostos com o mundo inteiro em cada prega, traços esculpidos a fogo na pele. Vi morrer gente quando era médico, vi morrer gente na guerra, e continuo sem compreender. Isso eu sei que não compreenderei. Que me espanta. Que me faz zangar. Abrace-me porque é o último abraço que me dá: é uma frase que se entenda, esta? Morreu há muito pouco tempo. Foda-se. Perdoem esta palavra mas é a única que me sai. Foda-se. Quando eu era pequeno ninguém morria. Porque carga de água se morre agora, pelo simples facto de eu ter crescido? Morra um homem fique fama, declaravam os contrabandistas da raia. Se tivermos sorte alguém se lembrará de nós com saudade. De mim ficarão os livros. E depois? Tolstoi, no seu diário: sou o melhor; e depois? E depois nada porque a fama é nada.
O que é muito mais do que nada são estas criaturas feridas, a recordação profundamente lancinante de uma peruca de mulher num braço de cadeira. Se eu estivesse ali sozinho, sem ninguém a ver-me, acariciava uma daquelas madeixas horas sem fim. No termo das sessões de quimioterapia as pessoas vão-se embora. Ao desaparecerem na porta penso: o que farão agora? E apetece-me ir com eles, impedir que lhes façam mal:
- Abrace-me porque talvez não seja o último abraço que me dá.
Ao M. foi. E pode afigurar-se estranho mas ainda o trago na pele. Durante quanto tempo vou ficar com ele tatuado? O lugar onde, até hoje, senti mais orgulho em ser pessoa foi o Serviço de Oncologia do Hospital de Santa Maria onde a dignidade dos escravos da doença os transforma em gigantes, onde só existem, nas palavras do Luís, Heróis.
Onde só existem Heróis. Não estou doente agora. Não sei se voltarei a estar. Se voltar a estar, embora não chegue aos calcanhares de herói algum, espero comportar-me como um homem. Oxalá o consiga. Como escreveu Torga o destino destina mas o resto é comigo. E é. Muito boa tarde a todos e as melhoras: é assim que se despedem no Serviço de Oncologia. Muito boa tarde a todos e até já, mesmo que seja o último abraço que damos.
Hoje, na Visão

quarta-feira, dezembro 11, 2013

Mesmo!


Sim, este homem leva-me às lágrimas!



Manoel de Oliveira, 105 anos, dá para acreditar?

Nadir Afonso (1920-2013)


"Quando entendi as leis da obra de arte, percebi que já não precisava de mais, comecei a sentir que essas leis são universais e que eu podia estar muito bem em qualquer lugar. Se tiver um metro quadrado de espaço para trabalhar, sou tão feliz como numa grande cidade. Comecei a sentir que a minha obra era cosmopolita, em qualquer parte se podia desenvolver."
[Entrevista ao Público, em 2009]

terça-feira, dezembro 10, 2013

segunda-feira, dezembro 09, 2013

domingo, dezembro 08, 2013

O concerto que faltava


Era impossível ter sido mais bonito. Não foi só o concerto do ano, foi um daqueles momentos raros em que tudo volta a fazer sentido. Pedro Burmester diz que a cidade não lhe deve nada. Não é verdade. A cidade devia-lhe pelo menos uma palavra: Obrigada.

sábado, dezembro 07, 2013

Este homem não existe!


"No dia em que completou 89 anos de idade, o ex-Presidente da República, Mário Soares, marcou presença em Viana do Castelo, “solidário” com a luta dos trabalhadores dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC) e foi aclamado, pelas mais de 2500 pessoas que encheram o coração da cidade quando gritou bem alto:“Estou solidário convosco e, estarei solidário convosco até ao fim”.
[Público]

Home moment

sexta-feira, dezembro 06, 2013

Francisco Louçã: Mandela, "não me atrevo a demorar-me"



O anúncio da iminência da morte de Nelson Mandela foi antecipado pelo governo sul-africano, quando a deterioração do seu estado de saúde fo reduzindo as suas resistências. O mundo assistiu entretanto, de longe, às homenagens mais tocantes de crianças e famílias que deixavam um ramo de flores no passeio da sua casa, desejando evitar o inevitável.

Não sei o que cada um e cada um lembraria então deste homem. Uns, o seu compromisso com a luta armada contra o apartheid, porque mudou tudo. Outros, a sua vontade de libertar o oprimido e de libertar o opressor, porque mudou o necessário. Outros talvez a resistência de uma vida inteira na prisão, porque foi tudo. Alguns certamente a sua paixão pela liberdade: "A verdade é que não somos ainda livres; alcançámos apenas a liberdade de sermos livres, o direito a não sermos oprimidos", escrevia ele no fim da sua Autobiografia. "Não demos o último passo na nossa viagem, mas sim o primeiro de uma estrada ainda mais comprida e difícil". 

Não sei o que pensam os que agora se emocionam e, no entanto, sinto como eles. Sei o que lembrarei: coragem, a coragem que não sabe se resulta, que não sabe se vai ser premiada, que não sabe se morre sozinha, que não sabe se vai ser esquecida, que não sabe nada mais do que ser honesta consigo própria. E essa honestidade é uma força gigantesca, magnífica, rara, apaixonante.

No final da sua Autobiografia, Mandela escreve que "Percorri esse longo caminho para a liberdade. Tentei não fraquejar; dei passos errados ao longo do percurso. Mas descobri o segredo: que, depois de escalar uma grande montanha, apenas se descobre que há muitas mais montanhas para subir. Parei aqui um pouco para descansar, para deitar uma olhada à vista maravilhosa que me rodeia, para olhar para a distância, de onde vim. Mas posso descansar somente por um momento, porque com a liberdade vêm as responsabilidades - e não me atrevo a demorar-me, pois a minha caminhada ainda não terminou". Pois não terminou.

quinta-feira, dezembro 05, 2013

Nelson Mandela (1918-2013)


Invictus
Out of the night that covers me,
Black as the Pit from pole to pole,
I thank whatever gods may be
For my unconquerable soul.

In the fell clutch of circumstance
I have not winced nor cried aloud.
Under the bludgeonings of chance
My head is bloody, but unbowed.

Beyond this place of wrath and tears
Looms but the Horror of the shade,
And yet the menace of the years
Finds, and shall find, me unafraid.

It matters not how strait the gate,
How charged with punishments the scroll.
I am the master of my fate:
I am the captain of my soul.

quarta-feira, dezembro 04, 2013

terça-feira, dezembro 03, 2013

Special one


Playboy

segunda-feira, dezembro 02, 2013

Um sítio onde pousar a cabeça

Oleg Oprisco

Nunca tinha caído
de tamanha altura em mim
antes de ter subido
às alturas do teu sorriso.

Regressava do teu sorriso
como de uma súbita ausência
ou como se tivesse lá ficado
e outro é que tivesse regressado.

Fora do teu sorriso
a minha vida parecia
a vida de outra pessoa
que fora de mim a vivia.
E a que eu regressava lentamente
como se antes do teu sorriso
alguém (eu provavelmente)
 nunca tivesse existido.

M.A. Pina


sábado, novembro 30, 2013

sexta-feira, novembro 29, 2013

Julian Barnes: Os níveis da vida


"Talvez o mundo não progrida pela maturidade, mas por ficar num estado de permanente adolescência, de descoberta arrebatada.

(...) Juntamos duas pessoas que ainda não se tinham juntado; e às vezes o mundo transforma-se, outras vezes não. Podem despenhar-se e arder, ou arder e despenhar-se. Mas às vezes algo de novo acontece, e então o mundo transforma-se. Juntos naquela primeira exaltação, juntos naquele primeira e estrondosa sensação de alento, são maiores do que os dois eus separados. Juntos, vêem mais longe e mais distintamente.

(...) Vivemos uma vida normal, verdadeira, e no entanto - e por isso mesmo - temos aspirações. Terráqueos, conseguimos às vezes chegar tão longe como os deuses. Alguns elevam-se com a arte, outros com a religião; a maioria com o amor. Mas quando subimos também podemos despenhar-nos. Há poucas aterragens suaves. Podemos dar connosco aos saltos pelo chão, com uma força capaz de partir pernas, arrastados para uma qualquer via-férrea estrangeira. Todas as histórias de amor são potenciais histórias de dor. Se não no princípio, depois. Se não para um, para outro. Às vezes para ambos.

Então por que aspiramos continuamente a amar? Porque o amor é ponto onde se encontram a verdade e a magia.

(...) Juntamos duas pessoas que ainda não se tinham juntado. Às vezes é como a primeira tentativa para prender um balão de hidrogénio a um balão de fogo: preferimos que se despenha e arda ou que arda e se despenha? Mas às vezes resulta, e algo de novo se faz e o mundo transforma-se. Então, a dada altura, mais cedo ou mais tarde, por esta ou aquela razão, um deles é levado. E aquilo que é levado é maior do que a soma que lá estava. isto pode não ser matematicamente possível; mas é emocionalmente possível. 

(...) O desgosto é uma condição humana e não médica e, se há comprimidos para nos ajudar a esquecê-lo - e tudo o resto - não há comprimidos para o curar. Os que são atingidos pelo desgosto não estão deprimidos, estão só devida, justa e matematicamente tristes (custa exactamente o que vale). 

(...) O amor pode não levar onde pensamos ou esperamos, mas, independentemente do desfecho, ele deveria ser uma chamada à seriedade e à verdade. Se não for por isso, se o seu efeito não for moral, então o amor não é mais do que uma forma exagerada de prazer. Ao passo que a dor, ao contrário do amor, parece não habitar o espaço moral. A posição defensiva e enroscada a que nos obriga, se queremos sobreviver, torna-nos mais egoístas. Não é um lugar arejado; não tem vista. Deixamos de nos ouvir viver. (...) Há muitas coisas que não nos matam, mas nos debilitam para sempre."

quinta-feira, novembro 28, 2013

terça-feira, novembro 26, 2013

Da música que nos salva



Hoje, no Hard Club, agarrada à barriga.

segunda-feira, novembro 25, 2013

Urbano Tavares Rodrigues: Nenhuma vida


Escrevi apaixonadamente este curto romance num Verão bastante fresco, pouco antes de fazer noventa anos. Escrevi-o com o amor à palavra e à invenção verbal de toda a minha obra. É um texto algumas vezes duro e agressivo, mas onde também têm cabimento a ternura e o amor, que são o esplendor da vida.
Não me compete a mim julgá-lo e estou, aliás, ainda muito perto dele para o ajuizar criticamente. 
Quem escrever bem de verdade pode abordar, sem cair na mediocridade, questões sociais e políticas  e inclusive a gesta épica da luta pelo socialismo e pelo comunismo. Já não tenho tempo de vida para me arrojar a esse cometimento, e basta-me sonhá-lo.
Daqui me vou despedindo, pouco a pouco, lutando com a minha angústia e vencendo-a, dizendo um maravilhado adeus à água fresca do mar e dos rios onde nadei, ao perfume das flores e das crianças, e à beleza das mulheres.
Um cravo vermelho e a bandeira do meu Partido hão-de acompanhar-me tudo será luz.

[Carregado de simbolismo, porque foi a despedida e porque Urbano quis despedir-se com o seu último olhar sobre o país. Infelizmente,  é um conto bastante sofrível.]