quinta-feira, novembro 16, 2006

"Cultura com mais peso na economia europeia do que sector automóvel"


[Nota: é um prazer, e um alívio, haver um - pelo menos um - jornal em Portugal que tenha coragem de fazer manchete com Cultura. Não exactamente a cultura do espectáculo; mas a outra, a que a precede. ]
O Público faz hoje manchete com um estudo da União Europeia - "A Economia Cultural na Europa", encomendado pela Comissão Europeia à KEA, European Affairs -, que já tinha sido divulgado por Isabel Pires de Lima, anteontem, na sua fugaz visita ao Porto, apesar de só ontem ter sido apresentado em Bruxelas.
A conclusão, mesmo para quem se move apenas por números, parece não deixar margem para dúvidas: a cultura contribui mais para a economia dos 25 do que os automóveis. O sector cultural e criativo contribuiu para 2,6 por cento do PIB da União Europeia em 2003, mais do que o imobiliário e produtos alimentares e bebidas. Em Portugal, é o terceiro principal contribuinte para o PIB, a seguir aos produtos alimentares e bebidas.
O peso no emprego também é significativo: em 2004 empregou 5,8 milhões de pessoas, o que representa 3,1 por cento do total de empregos na Europa dos 25. E, enquanto o emprego decresceu na UE, aqui cresceu 1,8 por cento. E é um emprego qualificado: 46,8 por cento dos trabalhadores têm pelo menos um curso universitário (contra 25,7 por cento do global e 31,9 por cento em Portugal).
A Economia Cultural na Europa revela que, entre 1999 e 2003, o contributo do sector cultural para o PIB português cresceu 6,3%. Em Portugal, o volume de negócios do sector cultural aumentou a uma taxa média anual de 10,6% entre 1999 e 2003, o dobro da média global da União Europeia - 5,4%.
No retrato mais negro, Portugal é o país com menos universitários a trabalhar no sector da cultura: 31,9%. A UE não consegue encaixar Portugal em nenhum dos três grandes modelos da economia cultural que identifica: não está no modelo britânico (o das indústrias criativas), nem no francês (indústrias culturais), nem no nórdico (economia da experiência). Não é claro se esta ausência tem a ver com falta de dados nas mãos da União Europeia, ou com falta de posicionamento político de Portugal.

1 comentário:

  1. A “nota” diz bem do estado do nosso jornalismo. Afinal, o estudo que fez a manchete do Público “já tinha sido divulgado” pela há dois dias pela ministra Pires de Lima, no Porto, perante uma plateia carregada de… jornalistas! Jornalistas que foram cobrir a fugaz passagem da ministra e outros que, sem estarem a trabalhar (atraídos, talvez, pela fugacidade da temática em debate) também ouviram a ministra. Parece que só os jornalistas do Público correram atrás da manchete. Tristes jornalistas.

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