quarta-feira, julho 20, 2011

Portugalito de gravata


Quando vamos ao estrangeiro ou quando o estrangeiro vem até nós, a surpresa e a inveja são, ou parecem ser, unânimes: que eles lá no estrangeiro tratam-se pelo nome próprio e não pelo grau académico ou título de função; que são mais simples, mais informais, menos vaidosos, menos ciosos da ilusão da sua aparência e, já agora, dos seus bens materiais. Os comentários pressupõem, assim se depreendia pelo menos, um desejo de mimetização, de aculturação. Puríssimo engano. O português adora dar o nó ao decoro e pendurá-lo ao pescoço, acredita que o respeito pode ser engomado e apetrechado com botões de punho, que a dignidade é tanto maior quando mais altos forem os saltos. Dos tacões. Que a competência tem cor e pode ser combinada com a tonalidade do cinto e da carteira.

A "orientação" dada pela Universidade Católica portuguesa aos alunos, professores e funcionários sobre o dress code que deverão exibir naquele estabelecimento de ensino - nada de chinelos, de calções, de t-shirts baratas - é o mais embaraçoso sinal da pequenez do Portugalito. "Em Direito, os alunos serão futuros advogados e juízes. Tem de haver decoro na forma como se apresentam para que possam ser respeitados", afirmou o constitucionalista Jorge Miranda, caucionando a medida. Vale a pena, vale mesmo a pena gastar dois minutos a pensar nesta afirmação. Quem não corar, desengane-se - concorda com ela.

1 comentário:

  1. é de uma provocação deliciosa a foto, não me lembro de ver uma gravata rosa tão bem empregue, Sra. Dra.

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