quinta-feira, julho 07, 2011

O quarto F (II): A utopia de James Blake


Não é uma banda do outro mundo, não figura sequer na galeria daquelas que temos-de-ver-pelo-menos-uma-vez-na-vida. É pop docinha, não engorda, mas também não alimenta. Mesmo se usa todos os truques de Houdini, fogo-de-artifício, confettis, balões, céu virtual, tudo para nos fazer levantar voo. Não levantámos - desculpa Chris Martin, não é nada pessoal -, mas os Coldplay que ontem arrastaram 50 mil para o Optimus Alive já não são os tímidos Coldplay que, no Verão de 2000, arriscaram a estreia em Coura, ainda à luz do dia, diante de um público pouco disponível para conceder-lhes o benefício da dúvida. Hoje são uma banda absolutamente intergeracional. E essa democratização, nos dias que correm neste país, faz falta e faz bem.

De resto, já se sabe, os melhores concertos da noite acontecem sempre de dia. Anna Calvi, uma das revelações do ano, ainda não carburou o suficiente dentro de nós para que a pudéssemos ir ver - talvez possamos vir a arrepender-nos pelo atraso, faz parte da vida. Mas James Blake, sobre quem recaíam todas as nossas expectativas, sim, acelerou-nos o batimento cardíaco. O rapaz de 22 anos, cara de 15, entrou ali, contou-nos os segredos, partilhou as utopias, e sugou-nos o sangue. E, claro, ofereceu-nos "Limit to your love", que pediu emprestado a Feist para a transformar, esta sim, numa canção de fazer levantar voo. Foi o concerto da noite. 

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