No ano passado foi assim...
Afinal, não houve planetas tangíveis, próximos - nem Júpiter nem Marte nem Vénus. Mas quem quer ficar a olhar para o tecto quando pode olhar para o céu? Houve estrelas. Tantas. Estrelas como pirilampos. Todos ali no céu. Como se estivessem a fazer malabarismos com tochas de fogo só para ficarmos mais felizes. Podia ser o Alentejo, aquele céu. Os pirilampos são como as estrelas: vêem-se melhor em Agosto. Só que são mais raros. Cada vez mais. E, claro, não é no céu distante que voam. Ao contrário das estrelas, a luz dos pirilampos é luz de reconhecimento, de enamoramento. Os pirilampos voam pouco, mas ainda assim, mais do que as pirilampas, que são mais pesadas. Em compensação, elas, as pirilampas, brilham mais, para poderem ser vistas por eles. Brilham mais quando querem acasalar. Estratégia de sedução. Ontem, parecia que todas as estrelas do céu estavam apaixonadas. Como se fossem pirilampos. Apeteceu-me entrar ali, em silêncio, descalça e às escuras. De mãos dadas. No céu.
Este ano... só nuvens. E gaivotas. Um céu em greve. Sobraram as mãos. Dadas.
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