quinta-feira, agosto 19, 2010

"E o povo, pá?" by Hugo Gonçalves

[Foto: JMG]

Mendes Bota discursou no comício do PSD, no Pontal, e disse: [Passos Coelho] é o verdadeiro exemplo do português simples. Este homem vive em Massamá, não vive em condomínio fechado.” Sempre me espantei com esta artimanha política, esta narrativa que nos vende o político como um de nós. Confesso que me assusta que alguém como eu, como nós, alguém de qualidades médias, assuma uma missão que exige qualidades extraordinárias.

Eu quero que o primeiro-ministro seja mais capaz que a grande maioria, que seja um exemplo e nos inspire a melhorar, não quero que seja como nós, o povo, porque o povo chega atrasado, junta-se à porta dos tribunais para arrear nos arguidos, pára na estrada se passa por um acidente, deixa-se arrebatar por músicas de Verão como “I got a feeling”, vê demasiada merda na televisão, mete baixa para ir de férias, não passa factura e não tem pagamento por multibanco para poder tourear as finanças.

Mendes Bota também disse: “Ele é um homem que passa férias junto aos outros, aos normais portugueses, não passa férias em hotéis de luxo e de cinco estrelas. Este homem compreende o povo porque vem do povo.” Já Mendes Bota não compreende o povo, que gosta mais de ser povo se não tiver se não tiver de viver num caixote de betão e marquise em Massamá e puder ir passar uns dias ao Brasil num hotel com pulseirinha de tudo incluído.

Já diziam os Homens da Luta: “E o povo, pá? O povo quer dinheiro para comprar um carro novo, pá.” O povo, como o entende Mendes Bota, já não existe. O povo já não quer ser do povo.

Hoje, no I

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