Mendes Bota acha que Passos Coelho está numa posição privilegiada para “perceber o povo”, afinal “vive em Massamá» e não num “condomínio fechado”. A frase não deve ser vista como um dislate do dirigente do PSD no Pontal. Foi resultado da esperteza saloia que já se anunciava na última edição do Expresso: “da estratégia do PSD faz parte mostrar o novo líder como o português comum que passa férias na recatada vila de Manta Rota, por contraste com o primeiro-ministro no luxo do Pine Cliffs”.
Sabemos que a anterior tentativa de demarcação com o PS - a revisão constitucional - não correu nada bem ao PSD. Passos deixou-se associar à privatização dos serviços públicos e à flexibilização dos despedimentos, e os efeitos tornaram-se visíveis nas sondagens. Para virar a página e voltar a sintonizar o líder com a classe média, não ocorreu aos estrategas do PSD nada melhor do que um contraste com as férias de Sócrates. Mas este regresso do PSD ao Pontal foi um regresso fora de tempo ao pior do cavaquismo, quando o homem do leme exibia a sua vivenda e justificava a ausência de currículo antifascista com o facto de não ter nascido em berço de ouro.
Com um Governo sem rumo, uma situação económica e social dramática e sem que se perceba como é que vamos ter orçamento para 2011, não deixa de ser significativo que o que o PSD tenha para oferecer seja uma ameaça de crise política combinada com uma discussão sobre as férias do primeiro-ministro e a freguesia onde vive o líder da oposição. É bem o espelho do pântano para onde estamos a caminhar. Quando a classe política der por isso, já os portugueses tiraram definitivamente férias da política. Em Massamá, no Pine Cliffs ou em Manta Rota. Pouco importa.
[Hoje, no i]
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