Gostamos do João Pereira Coutinho. Acontece-nos isto com frequência, gostarmos mais de cronistas de direita, conservadores iluminados apenas pelas convicções da sua hermética quinta mental, do que dos da esquerda que tendemos a subscrever. A primeira vez que lemos JPC, já aqui o dissemos, teria ele pouco mais de 20 anos, um ilustre desconhecido que escrevia ainda para o Jornal de Matosinhos. Desde então, cheirando aquela escrita, picante e arrojada, a futuro promissor, nunca mais deixámos de seguir o rapaz. Gostamos de rapazes que nos divertem, a quem volta e meia podemos chamar "Palhaço", rapazes que são tão exagerados nas posições que defendem, nas analogias que se lhes atravessam no cérebro, que lhes concedemos o benefício de estarem só a cumprir um número que um dia funcionou, vendeu e que agora têm de alimentar sob pena de perderem o seu público. Gente como nós, que lhes acha graça - e gente como eles, que por certo lhes seguirá, fora do papel de jornal, as convicções. E se esse exercício nos prende e espicaça, então a função deles é cumprida com distinção.
Mas do João Pereira Coutinho gostamos mesmo, genuína e independentemente de o levarmos mais ou menos a sério e de acharmos que às vezes as suas ideias vivem ali paredes-meias com o stand-up. Temos a impressão de que na vida real, o rapaz será tão razoável como nós. E que, tal como nós, entende que as crónicas podem ser um bocadinho encenadas para provocar reacções efervescentes em quem as lê.
Vem isto a propósito do texto publicado no Diário Transladado Ouriquense, em que se analisa o exterior do rapaz - as mãos, a pose, a inclinação da cabeça - para tirar conclusões sobre as suas motivações interiores. JPC escreveu, ontem, no Correio da Manhã, um daqueles textos que, sem o recurso à hipérbole que é a sua impressão digital, não teria graça nenhuma. No caso, sobre a lapidação de uma mulher no Irão e consequente manifestação de repudio em Lisboa. Há sempre quem se ofenda. O rapaz volta a passar com distinção.
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