"Amanhã eu mando uma mensagem." Para um amigo, para um familiar, para uma pessoa amada. Na espuma dos dias, quantas vezes não adiamos mensagens de afecto com a certeza de que há sempre tempo para elas, que há tempo para tudo, que há, enfim, tempo?
Através do Facebook (e de outras redes sociais), nos últimos meses, recuperei os contactos de um sem-número de pessoas. Umas nem sequer estavam longe, fisicamente falando, andavam pelas mesmas cidades que eu, pelos mesmos bares, compartilhando muitas vezes um ou outro amigo, apenas não estavam sincronizadas com os meus passos, com os meus horários, com essa coisa a que eu chamo, egoisticamente, "a minha vida". Outras, nem com muitos aviões seria possível alcançá-las para, como merecem, abraçá-las, mas passaram a estar logo ali, à distância de uns toques no teclado.
"Amanhã eu respondo." "Amanhã eu procuro." "Amanhã eu digo qualquer coisa." E o amanhã torna-se desmaterializado, intangível, significando não mais algo que irá acontecer nas próximas 24 horas, mas algo definido como "futuro", ao qual nem podemos afirmar sem sombra de dúvida que estaremos lá para ver.
Você poderá dizer que sempre foi assim. Mas interessa-me sublinhar que, há dois ou três anos, era razoável imaginar que os nossos compromissos afectivos envolviam, na melhor das hipóteses, algumas dezenas de pessoas. Hoje, desde que seja um membro mais ou menos activo do Facebook, a coisa poderá já ter sido ampliada para algumas centenas (ou milhares) de amizades (ou uma nova forma de se relacionar para a qual o dicionário ainda não apresenta uma boa definição). Como equilibrar tantos pratos ("amigos") sem deixar alguns cair no chão?
Não tenho resposta para isso. Não tenho resposta para quase nada, para ser sincero. Apenas comecei a reflectir sobre isso há poucos dias. Por email, recebi a notícia da morte de um amigo que não via há mais de 20 anos. Logo ele que no fim do ano passado havia reencontrado no Facebook. Adicionei-o, trocámos umas primeiras mensagens e deixei-o à espera de uma resposta para a pergunta: "E quando vens visitar-me?"
"Amanhã eu respondo", pensei. E o amanhã nunca veio. Já nunca virá.
Moral da história, com ou sem Facebook, citando o compositor brasileiro Renato Russo: "É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã/Pois se você parar para pensar, na verdade não há." Mande essa mensagem para pelo menos uma pessoa de quem você gosta.
Mas não amanhã. Agora.
Clique e veja o book trailer do livro "O Rapaz das Fotografias Eternas, de Edson Athayde.
ResponderEliminarhttp://www.vimeo.com/11556230
gostei de ler isto.**
ResponderEliminar