É sempre bom, mesmo quando é mau. E a 10ª edição do Sudoeste foi particularmente desinteressante. Sobretudo pela ausência de concertos memoráveis: 70 bandas em catadupa, quase todas em saldo, apresentadas em registo fast-food-cronometrado, sem encore, sem interactividade, sem calor, sem nada. Repetências múltiplas: Goldfrapp, Skin, Prodigy, Xutos... E o que havia de inédito oscilou entre o mau (Madness) e a desajustada metamorfose do recinto da Casa Branca numa espécie de mega discoteca ao ar livre, com os Daft Punk a encabeçar o movimento.
As pérolas eventuais estariam nos palcos secundários. Houve elogios a Seu Jorge, a Marcelo D2, a Who made who, a José Gonzaléz, que ainda fez uma perninha com os Zero 7. Pessoalmente, destacaria os Loto e o violinista dos Arcade Fire, Owen Pallettos, que apresentou o projecto paralelo Final Fantasy. Apetecível, apesar do som, quase todo, previamente gravado.
A verdade é que ninguém sabia porque estava ali - só sabia que não estava ali por qualquer concerto particular -, como muito bem ilustrou a Antena 3 através dos mini-inquéritos à boca do palco. O festival da Zambujeira do Mar é cada vez mais uma espécie de feira popular adolescente, onde a música é, infelizmente, quem menos ordena. Vêem-se os sub-16 apanhar as primeiras bebedeiras (o ambiente foi promovido dessa forma, no mínimo, curiosa: um saco de lixo a troco de um copo de cerveja. Foram consumidos 100 mil litros em quatro dias.) e a fumar, claramente, as primeiras ganzas. É pouco. Muito pouco.
Se a zona Vip (em tese, a mais vip de todos os festivais) dispensa comentários, Álvaro Costa, na "chafarica" da Antena 3, merece uma nota. Atrás das grades do estúdio pré-fabricado, óculos escuros colocados já depois da meia-noite, lançava, estridente, abraços e beijos sobre a multidão - qual estrela rock a aceder ao assédio dos fãs. É hilariante, mas é impossível não gostar dele. Depois, há a cobertura dos jornalistas: rigorosamente igual a qualquer outro ano, sem um único pingo de criatividade. Repto: seria interessante enviar novos olhares para os festivais. Como seria importante, e sobretudo honesto, ensinar os promotores a contar. A Música no Coração assegura que estiveram no festival mais de 120 mil pessoas. Eu estive lá. E asseguro que isso é mentira.
O melhor do Sudoeste é o Alentejo.
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