sexta-feira, agosto 25, 2006

Diálogos pueris I

Ele: Não fui eu que inventei a infidelidade. Ela já existia antes de mim. Eu sou só como os homens todos.
Ela: Há homens fiéis. Eu conheço muitos.
Ele: Eu conheço muitos mentirosos.
Ela: A tua mulher sabe isso?
Ele: Não faz perguntas para não ouvir as respostas. E sabe que o nosso casamento é uma instituição inabalável.
Ela: Inabalável como? Quantas vidas paralelas consegues manter?
Ele: Inabalável. O nosso casamento é uma espécie de SA. A máquina - os filhos, a casa, a vida social, o médico e a escola das crianças -, nunca deixa de funcionar. Depois, há o resto.
Ela: O resto?
Ele: A adrenalina, o contrário da rotina. O casamento deixa de ser divertido em muito pouco tempo. E a vida é uma passagem rápida. Não se pode desperdiçar.
Ela: E a cumplicidade fica de que lado?
Ele: Do lado de fora. A cumplicidade é o lado bom da vida.
Ela: A cumplicidade não é isso. Adiante. Quantas vidas paralelas consegues manter?
Ele: Normalmente, duas. A minha mulher e a outra. Tive uma que durou dois anos.
Ela: Dois anos não é rotina?
Ele: Não, porque não havia as obrigações. Não havia os chinelos e o robe.
Ela: E porque é que acabou?
Ele: Porque ela queria casar. As mulheres querem sempre casar.
Ela: Nunca vacilaste?
Ele: Vacilar como?
Ela: Nunca te apaixonaste por um desses casos? Nunca tiveste vontade de começar tudo outra vez, e dessa vez a sério?
Ele: Não. Ou melhor, talvez. Mas espero que passe. E passa sempre. A minha única preocupação é fazer a minha mulher feliz.
Ela: Isso é uma piada? Fazê-la feliz? Achas que ela é feliz?
Ele: Tenho a certeza.

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