O Alentejo, interior e litoral, é um gigantesco SPA para a alma: tem o céu mais inacreditavelmente bonito de Portugal, com dezenas de estrelas cadentes por minuto; o pôr-do-sol mais romântico; a melhor temperatura durante o Verão; as melhores praias - a praia do Vale dos Homens persiste, ano após ano, como um segredo desabitado - , o melhor odor, nas ruas, nos pomares, que são particulares mas parecem públicos, a melhor gastronomia; as pessoas mais hospitaleiras e generosas; as melhores casas de turismo rural, das quais o Monte do Pápa Léguas, na Zambujeira do Mar, ou a Quinta da Dourada, em Portalegre, serão apenas dois notáveis exemplos. E os melhores preços. Sou sempre feliz ali. Infinitamente.
No entanto, na Zambujeira e, por contaminação, em Odeceixe, o festival Sudoeste danifica as melhores memórias. E o Alentejo, aquele Alentejo, passa a ser, subitamente, uma espécie de ovni maligno capaz de causar danos a quem não o conhecer fora daquele período. Dois exemplos, rápidos e recentes: pagar 75 euros por uma noite significa, habitualmente, dormir numa quinta de cenário idílico, com piscina, pequeno-almoço, fruta biológica, bicicletas, passeios xpto, animais e outras mordomias. Durante o Sudoeste significa dormir numa casa raquítica, algures numa sala com chão de tijoleira, assim, sem mais nada. Nem sequer acesso à cozinha. É verdade que é impossível reservar um sítio decente com um mês de antecedência. As melhores casas herdam reservas do ano anterior. Mas a escandalosa exploração a que as pessoas se entregam durante o festival é, no mínimo, deprimente. Sobretudo, porque apaga a aura de rara magia que só reconheço no Alentejo e, por motivos diferentes, nos Açores. Em Trás-os Montes também.
A exploração, que já é inadmissível na restauração, torna-se absolutamente criminosa quando é alastrada à Guarda Nacional Republicana. Ontem, a GNR do Cercal montou uma operação STOP à saída de S. Teotónio. Haveria milhares de pessoas a regressar a casa, muitas teriam bebido e fumado em excesso. A operação, mais do que razoável, parecia obrigatória. Ironia: rigorosamente ninguém estava a fazer o teste de álcool; os agentes, com a moleza que lhes é característica, perguntavam por tudo até alcançar a tão desejada multa: Já fez a inspecção? A morada da carta corresponde à da sua residência? Alguém conduz a viatura além do senhor? Perguntavam por tudo menos pela taxa de consumo de álcool. E nisto gastavam alegremente meia hora, cansando ainda mais quem já estava cansado, prejudicando a condução segura. Não deveriam ser punidos com uma coima? E proibição de exercer o cargo durante, pelos menos, três meses?
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