Cinco da manhã. Acordo com uma daquelas dores de qualquer coisa que me obriga a sair da cama para ir às urgências. Penso que, apesar de tudo, não será grave e talvez não seja boa ideia ir a um hospital público. Imaginei que numa vulgar triagem qualquer pessoa me passaria à frente e a minha dor não me permitia esperar. Tinha, apenas, cinco horas para me restabelecer e apresentar ao trabalho. Além disso, da última vez que fui a um hospital público com uma dor semelhante, entrei às 15 horas e fui operada à meia-noite. Essas traumáticas nove horas de espera negligente, que me obrigaram a ficar com uma absolutamente desnecessária e gigantesca cicatriz, fizeram-me optar, desta vez, pela clínica particular mais próxima de casa: a da Boavista.
Toco à campainha da dita clínica 15 minutos antes das seis da manhã. O equipamento parece abandonado, apesar da placa exterior assegurar existir serviço de atendimento durante 24 horas. À terceira tentativa, lá surge um porteiro ou um segurança ou uma figura parecida. Ajudo-o, a custo, a preencher uma ficha, apesar de o meu nome já constar daquela unidade de saúde. O funcionário ignora a minha angústia; escreve o meu nome com a lentidão de quem acaba de acordar. Não existe um único utente à espera, mas ele manda-me esperar. Espero. Espero mais de meia hora até aparecer uma enfermeira imberbe, também ela acabadinha de acordar. Está baralhada. Não encontra um mísero termómetro. Manda-me esperar enquanto vai procurar o instrumento de medição da temperatura. Volta. Diz que não o consegue encontrar. Volta a desaparecer. Regressa. Não faz perguntas. Não tenho febre. A tensão arterial também parece estar dentro dos valores normais. Manda-me esperar "lá fora" pelo médico. Não há ninguém na sala de espera, mas eu espero. Espero quase uma hora, indecisa entre estatelar-me no chão ou vomitar nele, até surgir o médico. Com olheiras, lento e quase mudo. Repete a operação já cumprida pela enfermeira. Dá-me pancadinhas na barriga e pergunta-me se quero tomar soro. Não quero. Não pergunta se tenho antecedentes. Manda-me embora. Já passa das oito horas da manhã. E deseja-me felicidades.
Felicidades?! Pago 70 euros por uma consulta sonolenta que não existiu e sou informada pelo porteiro das farmácias de serviço - todas erradas. Quando percebo a falha, já todas as outras estão abertas. Entro na primeira. A farmacêutica diz que o médico me receitou quase 50 euros de medicamentos que posso adquirir por menos de metade do preço se optar por genéricos. Opto obviamente por genéricos. E amaldiçoo a clínica. Os médicos deste país são isto: um bando de funcionários públicos disfarçados.
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