É sempre assim. Todos os anos. Invariavelmente. Com Paredes de Coura chega o sagrado. E a nostalgia por cada edição única, irrepetível, indizivelmente mágica. Estreei-me no festival em 1999, teria uns 20 anos. Rendi-me instantaneamente ao cenário. À música, que quase não conhecia e que agora quase não quero conhecer até ser ali apresentada. Às pessoas, muitas das quais só encontro uma vez por ano. É ali. Paredes de Coura é um intervalo da vida.
A primeira noite de 1999 devolve-me o anúncio de Steffi Graf. A tenista anunciara que se iria retirar das competições. E uma das amigas com quem tinha percorrido cem quilómetros para chegar ao recinto, a Dani, acérrima adepta da alemã e do ténis, desfez-se, inconsolável, num pranto. A tristeza, que ameaçava manchar a noite, só foi superada graças aos Suede. Inesquecível concerto com o Eduardinho, absolutamente louco, a trautear as canções todas de cor. Também com o corpo. A edição de 2000, que nunca caberá em palavras, estabeleceu uma nova fronteira na vida: haverá sempre um antes e um depois daquela data. A prova viva de que os contos de fadas existem mesmo. Os Coldplay davam os primeiros passos, ainda com as reticências da audiência que depois se lhes vergou. Mr. Bungle, Yo La Tengo, Sofa Surfers: nunca mais houve um cartaz assim. Os Flaming Lips permanecem como o melhor concerto da minha vida.
2001 foi um Agosto de tempestade. Lembro-me da noite em que os Morcheeba e os The Gift actuaram para um grupo de resistentes embrulhados em lençóis de plástico. E do olhar triste do João Carvalho, fundador do festival que é impossível não ter no fundo do coração. Lembro-me do conto de fadas, inciado no ano anterior, ter acabado nesse dia. Sem nunca acabar. 2002 teve um cartaz diferente do que era habitual. Os Korn e os Incubus não mereciam fazer parte da família. Mas Cousteau e os Gotan Project terão eventualmente salvo o festival.
2003 voltou a ser um ano Optimus. Mas os Mew, banda sonora dos telemóveis, não entusiasmaram a edição. Ainda assim, guardo-os com os Yeah Yeah Yeahs e os Radio4. A memória trai-me em 2004, invadida de perdas imperdoáveis: Coco Rosie, Josh Rouse, Mark Eitzel, Blues Explosion. Mas é enaltecida em 2005, sobretudo com o memorável concerto dos Arcade Fire. E dos Pixies, já velhotes, mas que nunca tinha visto. E o grande, grande Vincent Gallo!!!
Paredes de Coura é o intervalo da vida a que queremos voltar sempre. É uma espécie de família que nunca deixa de fazer parte do nosso coração, mesmo quando não cumpre integralmente as expectativas. Como um amor que nunca, nunca acaba. Obrigada. Para sempre.
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