sexta-feira, março 31, 2006
Coincidências
quinta-feira, março 30, 2006
quarta-feira, março 29, 2006
Vende-se Rivoli
O anúncio, como se depreende, é uma piada - e nem sequer se pode dizer que seja de mau gosto. Eu, pelo menos, ri-me bastante. (Claro que não descarto a possibilidade de o defeito poder ser do meu mau gosto...) E o teatro, como se depreenderá também, é o Teatro Rivoli, alvo de esvaziamento gradual por parte da Câmara Municipal do Porto e, por isso mesmo, centro de polémica na última reunião camarária.
A meio da tarde, Rui Rio, que entretanto terá sido apanhado de surpresa com o sucedido, destilou no seu meio de eleição privado - o site autárquico -, toda a sua fúria em cima do dito jornal. Um jornal que, "mais uma vez contribuiu para a publicação de uma mentira, enganando os seus leitores"; um jornal que "publicou um anúncio que não é politicamente inócuo"; um jornal que ousou "dar amplo espaço noticioso ao debate sobre o Rivoli que teve lugar na última reunião do executivo".
Por tudo isto, Rui Rio decidiu fazer descer a sua sábia e justa mão sobre o jornal como um pai sobre um filho que falta a escola para ficar a brincar no recreio. O castigo vem anunciado no site: "A Câmara Municipal do Porto decidiu mover uma acção judicial contra o jornal e apresentar uma participação-crime contra o seu director, Leite Pereira, enquanto responsável máximo pela publicação em causa."
Ora, a reacção quase-quase fez com que, por uma vez, tivesse que vergar-me, rendida, diante da inteligência do senhor presidente da Câmara. E isto não é ironia. Ele que andava cheio de vontade de processar o JN; ele que passou meses a publicar diariamente a sua desilusão com as notícias publicadas no jornal e que infelizmente (para ele) nunca conseguiu desmentir; ele que acha que o jornal não o entende e descontextualiza as suas sempre doseadas afirmações; ele que até impôs um travão aos desbocados dos seus vereadores (o 25 de Abril não é como o sol, não nasce para todos) encontrou finalmente um não-assunto para se colocar na poltrona onde se sente melhor: a de vítima. Uff! Estava a ver que não!
Só é pena que Rui Rio, que já provou não perceber nada de jornalismo (valor-notícia; fontes, regras deontológicas, etc e tal) venha agora provar também que não percebe nada do complexo funcionamento de uma máquina como é a de um jornal. Seja a de que jornal for. E a manifestação pública da sua ignorância (por cortesia, não falarei do seu bom-senso) retira imediatamente esse apreço que quase-quase ganhei por ele. Convenhamos, um homem que consegue sempre moldar as histórias por forma a ganharem o formato que mais lhe convém merece sempre algum respeito. Nem que seja o simples respeito pela ginástica mental. Mas quando um autarca chega ao ponto de induzir os munícipes a pensar que o anúncio foi de autoria do jornal, quem é que engana quem, afinal?
A verdade é que mal estariam os jornais deste país se cada director tivesse que verificar cada anúncio do caderno de classificados. E no JN são algumas centenas. Quando muito, Rui Rio poderia lamentar a negligência do departamento comercial por não ter verificado a autoria do anúncio (a quem poderia agora imputar responsabilidades) e exigir um desmentido no dia seguinte. Se, por hipótese, um funcionário da autarquia, sei lá, um cantoneiro (nem sei se ainda existem, mas é um exemplo) me insultar na rua deverei processar o presidente da Câmara? Em última instância, seguindo a sua linha de raciocínio, é ele o responsável, não é?
No meio disto tudo fiquei com uma dúvida. Será que nesses múltiplos telefonemas de "pessoas iludidas" e interessadas em comprar o Teatro Rivoli estaria alguma instituição espanhola? Se sim, é bem provável que tudo isto não tenha passado de uma jogada do Governo de José Sócrates.
P.S.: Para que conste, o JN publicou uma nota, digna, no dia seguinte à publicação do anúncio, ou seja, ontem.
Nota da Direcção Comercial
Foi publicado ontem, no caderno de Classificados, um anúncio com o título "Teatro" que poderá ter levado os leitores a pensar que um qualquer teatro municipal da cidade se encontrava à venda, uma vez que tinha como contacto a Câmara Municipal do Porto. Este anúncio foi recebido no balcão-sede, no dia 24 de março, tendo sido pago em numerário, e sem que tivessem sido tomadas as devidas precauções na identificação do anunciante. A Direcção Comercial do JN lamenta o sucedido.
terça-feira, março 28, 2006
Mudar o mundo
domingo, março 26, 2006
Cronistas JN
quinta-feira, março 23, 2006
Dias cinzentos
Vergílio Ferreira: Pensar
Obrigatório: Oswald Le Winter
terça-feira, março 21, 2006
"Ok, ok, tem um bom papel"
segunda-feira, março 20, 2006
Herman Sic
sexta-feira, março 17, 2006
Muro das lamentações
Plasticina II
Plasticina
quinta-feira, março 16, 2006
terça-feira, março 14, 2006
Na solidão dos campos de algodão
segunda-feira, março 13, 2006
Rita
Costumo definir a minha família como sendo a santíssima trindade: um pai único, uma mãe única, um irmão único. São a única coisa que tenho na vida em dose individual. Individualmente especial. Sem eles, sem qualquer um deles, a minha não faria sentido. Não sou mãe, mas entendo a dor quem está privado da Rita. E, às tantas, todos podemos dar o nosso contributo. Por pouco que seja.
Quem possuir alguma informação sobre o seu paradeiro pode contactar o pai: 93. 972 16 92 . Ou o irmão: 93. 877 30 12. Ou as autoridades policiais.
Novo JN
sábado, março 11, 2006
País esquizofrénico
Para o Expresso, Mário Soares foi sobranceiro: "O semblante que exibia e a recusa em falar aos jornalistas eram provas concludentes de que ainda não digeriu os resultados de 22 de Janeiro nem percebeu que a sobranceria (tão evidente na campanha como esta semana) não o levará a reconquistar o coração dos portugueses."
Estranha coincidência
Despedida
sexta-feira, março 10, 2006
Rodrigo Guedes de Carvalho
O centro do filme é uma casa assombrada. É o purgatório?
Porque é que essa aldeia não é identificada?
Não sendo crente, o imaginário popular merece-lhe respeito?
Mas coloca-se sempre no papel do observador, como estando de fora, como não fazendo parte daquilo…
Definiu um público alvo?
Terá a ver também com uma cobertura mediática invulgar?
Também porque não quis...
A cultura merecia ter mais expressão nos media?
É um espectador assíduo de cinema português?
Não totalmente assíduo, mas ultimamente vi praticamente tudo. Houve filmes da última década que me escaparam.
Dois filmes nomeados para os Oscars levantaram questões essenciais sobre o jornalismo. Entre a vampirização dos afectos [“Capote”] e a incondicional vigilância da verdade [”Boa noite e boa sorte”] onde se situa?
Mas é-lhe permitida emoção, piscar o olho ao espectador?
"Boa noite e boa sorte" retrata sobretudo um período turbulento de pressões. Já as sentiu?
Os seus livros resultam da adaptação de episódios reais fornecidos pelo jornalismo?
No seu caso, a informação funciona como elemento inibidor?
O livro chama-se “A mulher em branco”. Qual é o fio condutor?
Daí o título...
Fez pesquisa sobre a matéria?
O livro será apresentado em Abril, no Porto, com a mesma discrição de “A casa quieta”?
Fica a ideia de que se protege no jornalismo na proporção em que se expõe na literatura...
Não me refiro a literatura autobiográfica. O facto de escrever sobre sangue não quer dizer que esteja a sangrar, mas escrever sobre sangue dirá uma coisa diferente do que diria se escrevesse sobre água.
Deposita nos livros o que despreza na sua vida?
O encanto da escrita reflecte algum desencanto com o jornalismo?
A arte dá-nos mais da vida do que a própria vida?
Acho que sim. Porque a arte é imortal. Vai sobreviver-nos. Faz parte das nossas ambições mais básicas. É por isso que lemos livros, vamos ao cinema, apreciamos escultura. Precisamos disso. Ao contrário, há muitas coisas da vida real sem as quais viveríamos bem. Precisamos desse procurar do belo - no limite, é nesse sentido que os artistas trabalham, nem que seja um belo horrível. Nós temos, felizmente, dentro de nós, esse desejo de abstracção.
Questiona o seu talento enquanto escritor?
“O problema não é não correspondermos às nossas expectativas; é não correspondermos às expectativas dos outros” escreveu em “A casa quieta”. É isto?
Esse argumento que referiu é o “Entre os dedos”?
Não, é outro. O “Entre os dedos" já está feito, e já estamos a trabalhar sobre ele. Agora estou a escrever outro argumento, que é sobre a forma como uma mulher se vê. Ela vê-se de uma forma diferente daquela que os outros a vêem. Depois, se isto está na cabeça dela ou não... terá que ver o filme.
Essa superação constante nos seus livros passa muito pelo apuramento da forma. É mais importante do que o conteúdo?
Chegou a esse registo apenas pela influência de António Lobo Antunes, com quem é invariavelmente comparado?
Assusta-o ser confundido só com mais uma pessoa mediática a publicar livros?
Qual é o balanço entre perdas e ganhos?
Se lhe perguntar se é escritor provavelmente dir-me-á que não...
Mas o seu campeonato é o da literatura...
quinta-feira, março 09, 2006
Rodrigo Guedes de Carvalho: A casa quieta
Frida Khalo
quarta-feira, março 08, 2006
segunda-feira, março 06, 2006
Contagem decrescente
Vasco, Constança e Clara
Oscars 2006
1) Não entendo porque razão "O segredo de Brokeback Mountain" perdeu o oscar de melhor filme. Não entendo porque é que o perdeu para "Crash".
2) Não entendo porque razão Felicity Huffman (Transamérica) perdeu o oscar de melhor actriz principal. Não entendo porque é que o perdeu para Reese Witherspoon (Walk the line).
3) Não entendo porque é que George Clooney não foi oscarizado com "Good night and good Luck". Não entendo porque é que foi distinguido como actor secundário em Syriana.
4) Não entendo porque é que a Academia insiste em ser sempre só isto.
A academia no seu pior
domingo, março 05, 2006
Hotel do Chiado
Inesperadamente, apaixonou-se pelo oposto do chocolate do oriente, quando ela - mais branca, mais magra, mais baixa, mais nova do que todas as outras mulheres que lhe haviam roubado a atenção -, se encontra já na recta final do estágio no mesmo jornal onde ele se estreara, e que agora acusa de o subestimar. “Passei metade da vida a recusar propostas. Abandonei o curso de Direito, o ensino na universidade, as noites na rádio. Adiei os livros que tenho escritos na cabeça, não levei nenhum dos três casamentos a sério”. Mas, reconsidera, “que culpa tem o jornal da minha cegueira?”
Vou, sem querer, acompanhando aquela conversa, a vários andares do chão, no hotel do Chiado – para mim, escala obrigatória -, onde vestígios de caipirinhas do lado dele, reforços de saquinhos de chá do dela, e a luz de uma Lisboa inteira a ser progressivamente substituída por sombra, ajudam a denunciar há quanto tempo devem já estar ali a colar frases ao sol do fim da tarde.
Faço as contas com a injustiça que pode conter a aparência. Deve haver mais de 15 anos a separá-los. Quando ele começou a trabalhar, ela deveria ter, no máximo, oito anos, a idade de uma das filhas dele, qualquer coisa começada por V, que acaba de ligar a pedir para o pai não se esquecer de levar a bicicleta a casa da mãe, em Sintra. Ele, barba por desfazer, parece ainda mais velho, debruçado sobre a mesa, a tentar digerir, sem parecer ridículo, a ternura da voz da criança que lhe deixou estrelas nos olhos. Ela, mais insegura do que é possível descrever, a enrolar incessantemente os caracóis com a ponta de dois dedos esguios, parece incontornavelmente mais nova.
“Como sabes”, inicia ele a enésima história, “foi em 1859, com um acordo rectificado em 1904, que se estabeleceu o domínio da parte oriental de Timor por Portugal, constituindo uma excepção em todo o arquipélago asiático, que era dominado pela Holanda”. Um acordo tácito. Ela não sabe. Não faz a mais pequena ideia. Ele sabe que ela não sabe, mas insiste em começar as frases assim. Não será inocente. Há ali a intenção de abolir qualquer distância entre eles, mesmo a intelectual, mais óbvia do que a própria idade. Mas ela nem sequer parece muito incomodada com as coisas que desconhece. Limita-se, claramente rendida, a ouvir as histórias. De Timor, do Kosovo, da Guiné, da passagem de Macau para a China. E da política da cidade. E do novo presidente da República. E da vida dos músicos que coabitam com ele no carro. É, aliás, o que mais parece gostar nele. As histórias que ele, imparável, vai depositando no regaço dela.
”Nunca te agradeci por teres aparecido na minha vida”, diz-lhe, pegando-lhe na mão, perdendo o tom pedagógico. Ela sorri. Fala pouco e muito baixo. Quase não ouço o que diz. Olha-o como quem se despede. “Eu sei que posso viver sem ti, mas sou mais feliz contigo”, continua ele, desfazendo o cliché ao explicar que “as pessoas que importam são aquelas que conseguem ver para além daquilo que dizem que somos”. Ela, ao que parece, consegue. Mas o estágio dela acaba amanhã. Diz-lhe que não se imaginaria a viver em Lisboa. Ele pede-lhe para ficar. Insiste. Discorre argumentos profissionais e outros. Levanto-me antes de se separarem talvez para sempre.
sexta-feira, março 03, 2006
Blogs no feminino
Depressão na estrada
Gosto de andar de carro com a cara voltada para as outras caras que vão nos outros carros. Gosto de ver as caras das pessoas. E de ver o que fazem quando vão a conduzir ou quando, como eu, vão só ao lado de quem conduz. Gosto sobretudo de ver se vão felizes. E quase nunca vão. A média será de dez para um. Nas filas paradas é mais perceptível, como é óbvio. Os casais vão a discutir, quase sempre, ou vão terrivelmente calados - não sei o que é pior. Os condutores solitários têm o olhar mais preso no vazio do que na estrada, o que poderá, digo eu, que nem sequer conduzo, explicar alguns acidentes. Continua a haver muita gente a falar ao telemóvel, apesar de ser proibido. Algumas falam através daqueles kits, que são permitidos, mas que lhes dá uma aparência completamente tresloucada. Dou comigo a ter saudades da alegria dos emigrantes de Agosto que conduzem com o cotovelo de fora e fazem questão de partilhar a sua música estridente. Mas hoje vi duas pessoas felizes no mesmo carro. E isso contagiou-me.