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segunda-feira, setembro 05, 2011

Vergílio Ferreira: Na tua face


Havia um desperdício enorme no que eu amava e eu pensava não podes desperdiçar o desperdício. O que é que se ama numa mulher? Porque se ama só a pele e um pouco da pele mais para dentro. O resto, que é afinal o que mais se ama, não existe. (...) Gostava de saber porque te amo nesta forma estranha de te não ter amado nunca. Houve primeiro a ausência de Bárbara em ti e que deixava um sinal de presença como uma flor seca num livro. Mas depois cresceste sobre isso e deitei a flor fora. E não precisei de procurar quem me arrefecesse a parte mais quente do meu ser vital. Porque o amor é assim, tem o lado mais quente com que se é aos sacões e instável e o lado morno com que se é contínuo e estável. 

(...) O que perturbava agora era essa estranha inquietação de um amor que não houve senão quando planificado na simples afeição de estarmos juntos. Eu com ela e ela comigo, penso. De a vida se resolver por si na quietude de haver nela o belo e o horrível, a alegria e o sofrimento. Tudo tinha arrefecido ao longo dos anos, como podia haver calor para antes disso? O que tivesse havido era frio de depois, mas nem houve. Mas sofre-se pelo que nos levam, mesmo que tencionássemos deitá-lo fora. Porque o nosso orgulho é imenso e a humilhação dele também.

quinta-feira, junho 23, 2011

Vergílio Ferreira

Nunca mais nos veremos? Perguntei com a estupidez de quando não há perguntas a fazer. Mas ao mesmo tempo, por baixo da minha insensatez, eu sentia o impulso absurdo de recuperar uma irrealidade perdida. Nunca mais? E imprevistamente era aí que eu repousava, na tua face, na imagem final do meu desassossego.
Vergílio Ferreira in "Na tua face"

sexta-feira, setembro 03, 2010

Vergílio Ferreira: Cartas a Sandra

"Curiosamente, onde menos te encontro é onde tu exististe. Desprendeste-te donte estiveste e é em mim que mais me acontece tu estares. Mas nem sempre. Quantos dias se passam sem tu apareceres. E às vezes penso é bom que assim seja para eu aprender a estar só. Mas de outras vezes rompes-me pela vida dentro e eu quase sufoco da tua presença. Ouço-te dizer o meu nome e eu corro ao teu encontro e digo-te vai-te, vai-te embora. Por favor. E eu sinto-me logo tão infeliz. E digo-te não vás. Fica. Para sempre. Há em mim uma luta entre o desejo de que te esqueça e o de endoidecer contigo."

quinta-feira, março 23, 2006

Vergílio Ferreira: Pensar

"Inventa a eternidade na simples comoção de olhar uma estrela. Basta que a olhes pela primeira vez, depois de a teres olhado inúmeras vezes. E, então, não precisarás de nenhum deus que te ponha a mão no ombro e diga estou aqui. Uma estrela espera-te desde toda a eternidade. Procura-a. E vê se a não perdes durante a vida inteira. A tua estrela pode não estar no céu. Põe-na lá."