sexta-feira, março 03, 2006

Depressão na estrada

(Fotografia: José Miguel Gaspar)

Gosto de andar de carro com a cara voltada para as outras caras que vão nos outros carros. Gosto de ver as caras das pessoas. E de ver o que fazem quando vão a conduzir ou quando, como eu, vão só ao lado de quem conduz. Gosto sobretudo de ver se vão felizes. E quase nunca vão. A média será de dez para um. Nas filas paradas é mais perceptível, como é óbvio. Os casais vão a discutir, quase sempre, ou vão terrivelmente calados - não sei o que é pior. Os condutores solitários têm o olhar mais preso no vazio do que na estrada, o que poderá, digo eu, que nem sequer conduzo, explicar alguns acidentes. Continua a haver muita gente a falar ao telemóvel, apesar de ser proibido. Algumas falam através daqueles kits, que são permitidos, mas que lhes dá uma aparência completamente tresloucada. Dou comigo a ter saudades da alegria dos emigrantes de Agosto que conduzem com o cotovelo de fora e fazem questão de partilhar a sua música estridente. Mas hoje vi duas pessoas felizes no mesmo carro. E isso contagiou-me.

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