Assiste-se no Porto à morte lenta (?) de uma estrutura chamada Culturporto criada em 1997 para ressuscitar alimentando, isto é, munindo de conteúdos próprios, o Teatro Municipal Rivoli. Daí, chamar-se Associação de Produção Cultural. E daí, possuir uma directora artística (Isabel Alves Costa) a quem, em teoria, caberia definir o conteúdo programático a apresentar naquele espaço. A isto soma-se ainda um programador para a animação da cidade (Júlio Moreira) e uma equipa com cerca de 50 elementos.
Ora, o que acontece desde que Rui Rio - com o aval reforçado da população nas últimas eleições autárquicas, é certo -, tomou conta do leme cultural, é a mais descarada metamorfose de uma instituição, cujos objectivos definidos nos estatutos obrigam a programar, organizar, produzir actividades numa mera sala de acolhimento, de aluguer, espécie de Coliseu 2. Com duas agravantes: o Coliseu ainda não acolhe congressos de criminologia e, não sendo uma entidade pública, não tem responsabilidades acrescidas, que se prenderão também com a formação de públicos ou com o apoio a novos artistas e novas formas de expressão artística. Se no Coliseu não chocará assistir num dia ao comovente e poético espectáculo de novo circo do palhaço russo Slava Polunin e no outro a um concerto do nacionalíssimo Emanuel, já no Rivoli esta mistura é, ou deveria ser, inconcebível. Confundir isto é não perceber nada.
Com um orçamento reduzido a pouco mais do que os salários de quem lá trabalha e uma programação concebida em formato patchwork-de-quem-chegar-primeiro, o Rivoli vê-se assim destituído de qualquer sentido. Ou, pelo menos, do seu sentido original, que era substancialmente mais promissor. Foi isto questionado pelo PS e pela CDU, ontem, numa reunião pública de Câmara. E se o cenário é mau, se é surpreendente que a directora artística não se manifeste publicamente (para quem não percebeu, a senhora poderá estar a fazer muita coisa, mas não está seguramente a programar - excepção eventual feita à dança, mas para essa área existe outra senhora, de méritos reconhecidos, chamada Ana Cristina Vicente), mais desoladora será a explicação do vereador da cultura, Fernando Almeida. Um bancário, para que conste.
Confrontado com as questões do socialista Miguel von Hafe ("O que se faz com 1400 contos no Verão? Com dois mil contos no Serviço Educativo? Com cinquenta funcionários, que custam um milhão de euros, contratados para auxiliar a produção? Qual é o critério de acolhimento, onde constam produtoras independentes como a da Teresa Guilherme?..."), Fernando Almeida limitou-se, paupérrimo no discurso, a elencar uma série de actividades sem nexo. E depois sim, apesar de não ter respondido a uma única questão, foi claro: "Não me preocupa nada que o Rivoli não tenha produção própria. Gostaria de encontrar uma entidade privada para o gerir". Como é que um responsável por uma estrutura pública, com regras próprias, pode dizer, impunemente, que está a borrifar-se para as regras?
No fim da dita reunião, o senhor foi cercado por jornalistas. Perguntaram-lhe que papel sobra a Isabel Alves Costa. Riu-se e deixou verter antes de fugir: "Ok, ok, ela tem um bom papel". Importam-se de me dizer qual é? O dela e das outras pessoas que são pagas com o nosso dinheiro?
P.S.: As reuniões camarárias são aconselhadas a públicos com sentido de humor.
Já escrevi um comentário com o mesmo teor aqui:
ResponderEliminarwww.cduporto.blogs.sapo.pt
José Manuel
Também escrevi um post sobre este assunto em
ResponderEliminarwww.cduporto.blogs.sapo.pt
José Manuel