[Joerg Maxzin]
Sem cinismo, há pessoas que, para serem felizes, precisam de acreditar nas outras. Na palavra e na honra das outras. Na bondade delas. Na vocação natural que supostamente todos têm, temos, para o bem. Não chega a ser uma opção que se faz, é quase uma incompetência. É não saber ser de outra maneira. Não saber como se faz para viver de pé atrás, para duvidar, para construir bunkers. Para usar máscara e dos outros esperar a qualquer momento a espada. É não saber mesmo como se faz e também não querer muito aprender. É viver sempre verde. Há pessoas assim. Educadas para preferirem o risco do engano, do trambolhão, à angústia do sobressalto permanente.
Mas quando alguém assim em quem se acreditou tanto se despenha, quando alguém com actos impiedosamente nos lembra o quão arriscado é acreditar sem nunca pedir garantia dessa profissão de fé, não nos hipoteca só os sonhos; amputa-os! Hipotecar sonhos significa adiá-los; significa uma réstea de esperança de poder recuperá-los um dia, não importa quando. Amputá-los é matá-los! Poderá depois haver outros sonhos no lugar vago por aqueles, mas nunca mais aqueles. E saberemos sempre que esses só nasceram porque nos mataram os outros. São sonhos sucedâneos, marcas brancas de um desejo original. E destruir sonhos não é crime. Mas devia ser.
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