quarta-feira, abril 13, 2011

Philip Roth: A humilhação


"Quando um actor representa o papel de alguém que está a desmoronar-se, fá-lo com organização e coerência; quando é ele próprio que está a desmoronar-se, e representa o papel do seu próprio fim, isso é outra coisa, uma coisa transbordante de terror e medo. (...) Gritava alto quando acordava a meio da noite e se via ainda aprisionado no papel do homem privado do seu próprio ser, do seu talento e do seu lugar no mundo, um homem desprezível que não era mais do que o somatório dos seus defeitos. De manhã escondia-se na cama durante horas, em vez de se esconder daquele papel, estava simplesmente a representar aquele papel. E, quando por fim se levantava, a única coisa em que conseguia pensar era no suicídio, e não apenas na sua simulação. Um homem que queria viver interpretando o papel de um homem que queria morrer. (...) Tento esquecer-me de mim pelo menos um minuto por hora. Sempre tive a secreta suspeita de que não tinha talento nenhum."

[É mais um conto do que um romance. Um Roth preguiçoso, mas invariavelmente bom, com as facas todas viradas ao peito. Resume-se na escolha entre a ousadia e a prudência, e depois entre decidir morrer ou continuar a viver. "O suicídio é a única coisa que está nas nossas mãos". Parece perigoso lê-lo - e é.]

2 comentários:

  1. Não o achei perigoso, a mim ensinou-me a perceber certos comportamentos da nossa sociedade.

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  2. Fantástico!:

    http://numadeletra.com/29061.html

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