sexta-feira, abril 01, 2011

Henry Miller: O Big Sur e as laranjas de Jerónimo Bosch


Na vida diária, durante a vigília, quando tudo está bem e as preocupações se desvanecem, quando o intelecto é silenciado e lentamente começamos a fantasiar, não nos rendemos alegremente ao fluxo eterno, não flutuamos em êxtase na corrente calma da vida? Todos nós já tivemos momentos de total abandono em que nos tornámos plantas, animais, criaturas das profundezas e habitantes dos ares. Alguns até já tiveram momentos em que foram semelhantes aos deuses da Antiguidade. Quase todos já tiveram um momento em que a vida foi tão boa, esteve tão completamente em sintonia, que quase exclamaram: "Ah, agora está na hora de morrer!" O que se esconde aqui, no âmago da euforia? Pensar que isto não vai, não pode durar? Pressentir um ultimato? Talvez.

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