A Finlândia conhece hoje o resultado das eleições legislativas e tudo indica que será Portugal, e a sua necessidade de resgate financeiro, a determinar a opção de voto dos finlandeses. Se os eurocépticos estiverem entre os mais votados, Portugal ganha (mais) um problema.
Esta semana, Pedro Passos Coelho tornou público um episódio privado que servirá não só para ilustrar como Portugal está descapitalizado - de dinheiro e de reputação - como para explicar a nossa súbita relação com a Finlândia. O líder do PSD estaria sentado à mesa de um restaurante, na Madeira, quando um turista finlandês, passando por ele, terá comentado: “Espero não ter de ser eu a pagar essa refeição quando chegar à Finlândia.”
O episódio, que reflecte a crescente falta de vontade dos países ricos (do Norte) em ajudar os países pobres (do Sul), ganha hoje um valor acrescentado, porque os finlandeses, cerca de 4,3 milhões, vão a votos numa altura em que o partido que mais se opõe a ajudar financeiramente Portugal é aquele que mais subiu nas sondagens. E o pedido de ajuda externa português foi precisamente o tema que dominou a campanha.
Com uma intenção de voto que pode superar os 18%, o partido dos Verdadeiros Finlandeses, liderado pelo populista e eurocéptico Timo Soini, não deverá vencer as eleições – tudo indica que será o partido de Centro-Direita, Kokoomus, a ganhar –, mas a Finlândia é o único Estado-membro da zona euro cuja concessão de empréstimo, através do Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF), depende não só da autorização prévia do Parlamento como de uma decisão tomada por unanimidade. E em véspera de eleições nada pode garantir que Timo Soini, 49 anos, não venha a integrar um governo de coligação. Pelo contrário. Até porque o sistema filandês não permite maiorias absolutas. Se há quatro anos o seu partido ocupou apenas quatro dos 200 lugares disponíveis, a partir de amanhã, a ocupação poderá mais do que quadruplicar.
O pensamento profundamente anti-europeu de Soini, adepto fervoroso de futebol e católico praticante num país onde mais 90% pratica o luteranimo, resume-se na frase que usou num dos debates televisivos e que não oferece margem para dúvidas: “Os países nórdicos não podem continuar a financiar as festas do Sul da Europa.” E disse mais: “O nosso governo concedeu um enorme empréstimo à Grécia e garantiu-nos que isso salvaria o Euro. Depois, veio a Irlanda. E agora, Portugal. Durante três meses garantiram-nos que Portugal resistiria. Agora, garantem-nos que não tem alternativa. Pois, a alternativa não é sermos nós a pagar a boa vida dos outros.”
Numa altura em que o principal exercício dos portugueses parece ser decorar o nome dos estrangeiros de quem dependerá o caminho marítimo para a saída da crise, Jyrki Katainen é um bom nome a reter. Todas as projecções apontam o líder do partido da Coligação Nacional como o futuro primeiro-ministro da Finlândia – o oitavo maior país da Europa, embora o terceiro menos povoado. E, ao contrário da Extrema-Direita, Katainen, 39 anos, eleito pelo Financial Times, em 2008, como o melhor ministro das Finanças da Europa, defende o auxílio financeiro a Portugal. Esteve em Budapeste no fim-de-semana em que os ministros das finanças da Zona Euro aprovaram o resgate (o mesmo fim-de-semana do congresso do PS, em Matosinhos) e já afirmou que só irá coligar-se com partidos que respeitem os compromissos já assumidos.
Por outro lado, também já afirmou, que “não há almoços grátis”. Disse-o em Março, referindo-se à Irlanda e à necessidade de assegurar a “sustentabilidade da dívida”. Mas sobre Portugal, quando o resgate era ainda uma incógnita, também foi claro: “Eu sei que o governo português está a fazer o que pode. Mas se os mercados ainda não confiam nele, só lhe resta fazer mais, reformar mais.”
Resta-nos também, a nós que não somos governo, saber quem vai retroceder primeiro: se Katainen na vontade de ajudar Portugal; se Soini na vontade de não ajudar.
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