É sempre o mesmo nojo que me invade em cada reunião de Câmara, em cada Assembleia Municipal do Porto. E sempre, sempre a mesma tristeza. Saio invariavelmente muda; hoje saí pior, embora o panorama não tenha sido diferente ou agravado por qualquer circunstância nova. É só a continuada falta de respeito, a persistência na ironia bacoca, a arrogância sem critério, a total ausência de pensamentos ou posturas nobres que me atropela e impede de continuar a acreditar que é inevitavelmente por ali, pelo poder político, por aquele poder político, que alguma coisa pode ainda mudar, melhorar.
Hoje discutia-se exclusivamente a política cultural da cidade. A Oposição queria respostas; a Maioria PSD/PP (não) respondeu com um entediante powerpoint retirado da internet, elencando as inúmeras estruturas da cidade. Tal e qual um filho questiona os pais sobre a ausência de uma alimentação equilibrada e os pais respondem com os quadros e os bibelots que existem lá em casa. "É isso que poderemos deixar às gerações vindouras".
No fim, o contraste. O aterrador paradoxo capaz de arrancar arrepios ao mais empedernido coração. Pessoas que da cultura só conhecem o nome, mas dos filhos, vários e doentes, conhecem a pobreza. Vivem todos num quarto ou numa cave ou em qualquer outro sítio desumano. Mesmo assim pedem para não serem despejadas. A resposta do Executivo, para quem a coesão social é a prioridade, sai com a mesma secura, a mesma insensibilidade, o mesmo riso despropositado nos lábios. "Já tínhamos avisado. Não pode ter ali a barraca. Há uma via nova para abrir".
O povo encolhe-se, trata-os por "vossas excelências", treme a ler os bilhetes escritos à mão que leva para apresentar as suas angústias sem se enganar, mortifica-se quando se engasga pressionado pelos três minutos que tem de antena. Sai como entrou: a pedir desculpa por existir.
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