sexta-feira, novembro 26, 2010

Nuno Cardoso encena Eugene O'Neill



Tiago Bartolomeu Costa
No Ípsilon

Se Eugene O'Neill (1888-1953) fosse um rio, "era um rio largo, aparentemente plácido, com correntes subterrâneas e absolutamente mortal, com uma fúria muito grande". Quem assim descreve o dramaturgo norte-americano é Nuno Cardoso, que amanhã, no Auditório Municipal de Vila Nova de Gaia, estreia "Jornada para a Noite", peça escrita em 1941 e estreada em Portugal pelo Teatro Experimental do Porto, em 1958, numa mítica encenação de António Pedro, apenas dois anos passados da sua primeira apresentação nos EUA.

A nova "Jornada para a Noite" de Nuno Cardoso é só o início de uma fúria Eugene O'Neill nos palcos portugueses: no espaço de um mês, haverá três estreias, correspondendo a quatro peças do dramaturgo norte-americano. Já na próxima semana, em Almada, com estreia a 25 e carreira até 19 de Dezembro, Joaquim Benite regressa a "Hughie" (1941) e a "Antes do pequeno-almoço" (1916), depois de em 1984 já as ter apresentado também em conjunto. E, também em Almada, mas a partir de 1 de Dezembro, Rogério de Carvalho - que em 2009 encenou "Jornada para Noite" - estreia "O Luto Vai Bem com Electra", a sua versão de "Mourning Becomes Electra" (1931), tríptico inspirado na "Oresteia" de Ésquilo, que Cardoso pensava encenar daqui a uns anos.

Joaquim Benite afirma que a influência de O'Neill, Prémio Nobel da Literatura em 1936, se sente em toda a dramaturgia norte-americana, "de tendência autobiográfica", onde "a experiência de transformação e criação da sociedade é individual", num contraponto à tradição europeia. Essa influência, "sente-se em Arthur Miller e em Tennessee Williams". Mas para Benite, embora fazendo parte da grande família do realismo teatral a que pertencem Ibsen, Strindberg e Tchéckhov, o teatro de O'Neill aproxima-se, por vezes, do "realismo poético" de Lorca. Já Nuno Cardoso diz que o tempo teatral das peças de O'Neill "acompanha o tempo da acção", nomeadamente em "Jornada...", onde "cria uma hipérbole sobre a família que pode existir ao nosso lado".

Segundo Rogério de Carvalho, que já experimentou ambas, a diferença entre "Jornada..." e "Electra" joga-se na relação com o exterior. "'Jornada...' é mais concentracionária", ao passo que em 'Electra' "as personagens "vivem sufocadas pelo passado, e pelos mortos, não se conseguindo libertar da culpa e dos estigmas".  O'Neill "é avassalador", diz Cardoso", e "isso deixa os actores descobrirem como trabalhar as personagens".


Jornada para a Noite, Eugene o'Neill; Encenação: Nuno Cardoso; Cenografia: F. Ribeiro; desenho de luz e sonoplastia: Eduardo Brandão; assistência de encenação: Victor Hugo Pontes. Elenco: Ângela Marques (Mary Cavan Tyrone ), Eduardo Breda (James Tyrone Jr.), João Pedro Vaz (James Tyrone ), Luís Araújo (Edmund Tyrone ) e Susana Sá (criada Cathleen). Auditório Municipal de Gaia, até 12 de Dezembro (de quarta-feira a sábado, às 21h30, e, ao domingo, às 16h).

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