segunda-feira, novembro 15, 2010

Erasmo de Roterdão: O elogio da loucura


"Os que tiveram o raro privilégio de tais sentimentos sofrem qualquer coisa de semelhante à demência; falam sem bastante coerência, sem modo humano, pronunciam palavras sem sentido e subitamente transformam todo o aspecto do rosto. Os álacres, ora tristes, ora lacrimejando, ora sorrindo, ora suspirando, estão verdadeiramente fora de si. Quando regressam a si, não sabem dizer onde estiveram, se no corpo ou fora do corpo, se vigilantes ou dormentes. Que viram, que disseram, que fizeram? Não se lembram, tudo se passou como entre nuvens, como num sonho. Sabem só que foram felicíssimos durante a sua loucura. Deploram ter voltado a si e nada mais desejam do que a perpétua insânia. E dessa felicidade futura não gozaram mais do que a ténue prova. Também eu já me esqueci de mim, porque ultrapassei os limites."

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