quinta-feira, abril 30, 2009
quarta-feira, abril 29, 2009
100 dias de governo Obama
Os primeiros 100 dias de Obama em slideshow no New York Times. Aqui, na foto, a 27 de Fevereiro, no Iraque.
terça-feira, abril 28, 2009
Do desejo transformado
Cicciolina irrompe, fresca e luminosa, pelo palco do Congresso onde o mote para a conversa é o desejo e nós pensamos: “Não pode ter 57anos!“ O rosto liso, lisinho, vestido floral a moldar-lhe as curvas, perfeitas, os olhos sublinhados com lápis verde de brilho, saltos agulha rosa bebé a darem-lhe altura. Nas mãos, uma joaninha de peluche. Verificámos a biografia mal saímos dali: 57 anos e cinco meses. A italiana não é a única ali a enganar a máquina do tempo.
No Seminário de Vilar, no Porto, local escolhido pela Associação Espaço T para reunir todos os que quisessem ficar a saber mais sobre as infinitas variáveis do verbo desejar – nos últimos dois dias passaram por ali mais de 40 congressistas e muito mais de 300 pessoas –, ao lado da ex-actriz pornográfica esteve Cindy Jackson. A americana do Ohio, 53 anos igualmente indecifráveis, seria mulher comum se não tivesse sujeitado o corpo a mais de 40 plásticas, um recorde mundial.
No Seminário de Vilar, no Porto, local escolhido pela Associação Espaço T para reunir todos os que quisessem ficar a saber mais sobre as infinitas variáveis do verbo desejar – nos últimos dois dias passaram por ali mais de 40 congressistas e muito mais de 300 pessoas –, ao lado da ex-actriz pornográfica esteve Cindy Jackson. A americana do Ohio, 53 anos igualmente indecifráveis, seria mulher comum se não tivesse sujeitado o corpo a mais de 40 plásticas, um recorde mundial.
Ambas partilharam o desejo do sonho americano que, cumprido, permitiu-lhe driblar o destino. “Sei que não é politicamente correcto dizer isto, mas uma imagem sofisticada protege-nos do juízo de valor que os outros sempre fazem quando olham para nós”, afirmou Cindy, louríssima, cinta tão fina como a de Barbie, a boneca que lhe despoletou os sonhos quando, em tenra idade, ainda sofria com a sua impopularidade na escola. Essa mesma boneca que o pai lhe ofereceu aos seis anos, cognome pelo qual ainda hoje é conhecida. "Barbie humana". Odeia. "Compararem-me com uma boneca é insultuoso. Lutei muito para ter o que tenho", explicou.
“Mudei o meu destino porque mudei a minha anatomia”, insistiu. “Hoje, tenho uma carreira, escrevi livros, viajo pelo mundo”.
Cicciolina não falou das plásticas que seguramente também já terá feito, mas do seu percurso na indústria pornográfica, que classificou como “um belo período de divertimento”. Natural da Hungria – italiana via casamento –, nascida no seio de uma família pobre, a mulher cujo nome verdadeiro é Anna Ilona Staller, faz o seguinte balanço da sua vida: “Tudo somado, sou uma pessoa muito feliz. Não me arrependo de nada. Ganhei muito dinheiro – 250 mil euros por filme – e tive prazer em muitos deles: com mulheres, com homens, em grupo, com japoneses, franceses... Mas nenhum prazer é comparável ao que se sente quando existe amor. Aí, a sensualidade é mental, não é física.”
Fala do seu protagonismo pornográfico com candura; a mesma que usa para explicar por que razão enveredou por aí (da aventura política no parlamento italiano não falou): “Um dia, já era conhecida na rádio e na televisão, um amigo perguntou-me se queria experimentar a pornografia: Pensei: “Ser porno star? Porque não?” Hoje, afirmou, sublinhou e repetiu, a sua maior fonte de prazer é o filho, adolescente. “Sou feliz porque vivo para ele”.
Com duas mulheres deste calibre não poderia ser fácil para qualquer outro congressista partilhar a sua tese sobre o desejo, excepto se fossem Miguel Stanley, o dentista mais famoso do país a fazer o elogio da saúde em detrimento da estética, embora o compreenda e respeite. E Adelino Ferreira, delegado regional do Instituto da Droga e Toxicodependência, que alertou para actual “incapacidade de tolerar a espera” que faz com que a maioria das pessoas procure sempre soluções “num remédio externo”. "Estamos a criar uma sociedade toxígena".
segunda-feira, abril 27, 2009
Ferreira Leite e Mário Crespo
Pareciam camaradas de partido! Não me lembro de uma entrevista do Mário Crespo em que um entrevistado tenha falado tanto e tão tranquilamente. Crespo quase só interrompeu Ferreira Leite para lhe completar os raciocínios! (Ah, e eles, não são camaradas de partido; são camaradas de supermercado! Lindo!)
MEC e as mulheres
Só quando os homens chegam a uma certa idade é que podem dizer com certeza que as mulheres são melhores do que eles em tudo - mesmo na bola, a carregar pianos, a lutar com jacarés ou nas outras coisas em que ganhávamos quando éramos mais novos e brutos e fortes.
Quando se é adolescente, desconfia-se que elas são melhores. Nos vintes, fica-se com a certeza. Nos trintas, aprende-se a disfarçar. Nos quarentas, ganha-se juízo e desiste-se. Nos cinquentas, começa-se a dar graças a Deus que seja assim. Os homens que discordam são os que não foram capazes de aprender com as mulheres (por exemplo, a serem homenzinhos), por medo ou vaidade ou estupidez. Geralmente as três coisas.
Desde pequenino, habituei-me que havia sempre pelo menos uma mulher melhor do que eu. Começou logo com a minha linda e maravilhosa mãe, cuja superioridade - que condescendia, por amor, em esconder de vez em quando - tem vindo a revelar-se cada vez mais. As mulheres são melhores e estão fartas de sabê-lo. Mas, como os gatos, sabem que ganham em esconder a superioridade. Os desgraçados dos cães, tal como os homens, são tão inseguros e sedentos de aprovação que se deixam treinar. Resultado: fartam-se de trabalhar e de fazer figuras tristes, nas casas e nas caças e nos circos. Os gatos, sendo muito mais inteligentes, acrobatas e jeitosos, sabem muito bem que o exibicionismo vão leva à escravatura vil.
Isto não é conversa de engate. É até um tira-tesões. Mas é a verdade.
E é bonita.
Miguel Esteves Cardoso
8 de Março de 2009
[Os amigos-amigos sabem sempre enviar-nos textos que são balas directas ao coração. Com uma diferença essencial: não matam; ressuscitam. Obrigada, querido Luís.]
sábado, abril 25, 2009
"Não deixes que o cravo de ontem encrave a revolução de hoje"
Hoje às 22 horas, na GATO VADIO, o filme “Outro País” de Sérgio Trefaut.
Ver programação conjunta da Iniciativa Libertária do Porto
a propósito da Revolução dos Cravos.
quarta-feira, abril 22, 2009
Mais um ponto para Gaia
Já perdi a conta à goleada cultural que Gaia tem dado ao Porto nos últimos anos. Ontem, a inauguração do Arquivo Sophia de Mello Breyner Andresen, foi só mais um.
"Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não."
Sócrates num filme sempre pop II
Quando o homem falava do Freeport "A torto e a direito" era mau porque estava a vitimizar-se. Quando deixou de falar, era mau porque estava a ignorar o assunto. Ontem voltou a falar e voltou a ser mau porque voltou a vitimizar-se. É o que dizem. Não há pachorra para o discurso de Sócrates, seja ele inocente ou culpado. Mas há muito menos pachorra para quem não sabe dizer outra coisa que não seja que o homem está a vitimizar-se.
terça-feira, abril 21, 2009
Hilda Hilst
Se fosse viva, Hilda Hilst faria hoje 79 anos. Das raras autoras brasileiras a quem me rendo. Inteira e perdidamente.
"Se eu disser que vi um pássaro
Sobre o teu sexo, deverias crer?
E se não for verdade,
em nada mudará o Universo.
Se eu disser que o desejo é Eternidade
Porque o instante arde interminável
Deverias crer? E se não for verdade
Tantos o disseram que talvez possa ser.
No desejo nos vêm sofomanias, adornos
Impudência, pejo.
E agora digo que há um pássaro
Voando sobre o Tejo.
Por que não posso
Pontilhar de inocência e poesia
Ossos, sangue, carne, o agora
E tudo isso em nós que se fará disforme?"
Do desejo, 1992
segunda-feira, abril 20, 2009
Homens bonitos III
Directamente para a galeria de homens bonitos, o protagonista de um dos piores filmes que vi nos últimos tempos: Duplicity. Já em 2006, quando vi "Children of a men", tinha dito que gostava que Clive Owen fosse nosso vizinho. Continua a ser verdade.
domingo, abril 19, 2009
Ressurreição de Susan Boyle
Entra no palco desajeitada, mão na cinta, a equilibrar-se nuns saltos que denuncia não estar habituada a calçar. Tal como o vestido, albino cor da pele, de um glamour antiquado, em clara estreia absoluta. A face rosada, o cabelo cinzento, sem brilho, sem escova, completam o quadro. "Sei que não sou bonita", haveria de confessar a escocesa Susan Boyle. "Tenho 47 anos e essa é apenas uma parte de mim". Revela a idade no bambolear de anca de quem ignora as balizas do ridículo, de quem desconhece que a crueldade dos adultos supera largamente a das crianças. Nos bastidores é alvo de chacota.
Susan Boyle, feia como sabe ser, deselegante como desconfia ser, confessa perante milhares de pessoas que assistem ao programa inglês "Britain's got talent", perante milhares de britânicos que assistem ao concurso em casa, perante um júri de rara hostilidade, que quer ser cantora profissional, que ambiciona ser - pasme-se! - como Elaine Paige, célebre actriz britânica que foi Evita em 1978 e a gata Grizabella no Cats em 1981. O público presente ri; em casa imagina-se o mesmo. O júri avança com aquele tique de quem dá o caminho todo aos tolos. E pergunta-lhe, com a condescendência que também costuma dar-se aos tolos, o que é que ela pretende cantar.
"I dreamed a dream", do musical "Os Miseráveis", responde. O júri continua a rir. O público também. É facil imaginar-lhes o pensamento. Ela ergue o polegar para trás da cortina, está pronta, podem soltar a música. Ela há-de soltar a voz. É a única que sabe o que ela vale. Começa a cantar: "I dreamed a dream in time gone by..." Menos de meio segundo depois, o público ergue-se numa onda crescente, instantânea de ruído, aplaude, ri, mais este riso é já diferente. Sabe a milagre. Às mulheres feias a maior parte da vida parece estar vedada. Se rasgam esse obstáculo, só pode ser milagre.
No fim daqueles dois minutos de absoluto arrepio, o júri dá a mão à palmatória. "Agora, já ninguém ri de si", reconhece Pears. Taylor completa: "Estavam todos contra si. Fomos todos cínicos". Cowell ironiza: "Soube no momento que você apareceu que iríamos assistir a algo extraordinário. E estava certo". Ela recebe os três "sim" necessários para passar, suponho, à fase seguinte. Bate com os pés no chão como uma criança. Uma mulher que nunca teve o privilégio de ser beijada ou tocada por alguém é ainda uma criança. Faz uma vénia, sopra um beijo. O público está todo de pé.
A história está toda aqui: http://www.youtube.com/watch?v=9lp0IWv8QZY&feature=related. Em sete minutos. A história da ressurreição de Susan Boyle. A mulher virgem, que entregou a vida à Igreja. Que perdeu a mãe e o emprego no último ano. E a história da nossa humilhante e preconceituosa pequenez. "Sei que não sou bonita, mas sei que sei cantar", disse ela. Não consigo ver o vídeo sem chorar, e já o vi uma dezena de vezes. Na net foi visto por um número que nem sei dizer: 34765348. Sirva ele para aprendermos alguma coisa.
Francisco Amaral
"É no domínio dos afectos que as coisas podem efectivamente durar. Por muito que digam que os afectos não duram. O que não dura são as relações; os afectos duram."
Francisco Amaral, Farpas JN
sábado, abril 18, 2009
quinta-feira, abril 16, 2009
O Porto by Super Bock
Já está a passar na televisão um novo anúncio da Super Bock. Este é o antigo. Seja como for, a Super Bock faz mais pelo Porto do que muita gente bem intencionada. Não é publicidade à cerveja; é publicidade à cidade.
Porto vs Manchester
O Porto não é comparável a Manchester, cidade do Reino Unido que “em plena recessão mundial nunca teve tantos empregos para oferecer como no início deste ano”. E em 2005 tinha uma taxa de desemprego inexistente. O Porto, tão industrial como a cidade inglesa, talvez nunca venha a conseguir seduzir para o seu território as empresas de Lisboa como Manchester conseguiu seduzir as de Londres. Nem as empresas nem as pessoas. Porque talvez nunca venha a perceber a importância que desempenha a Cultura de uma cidade nessa operação de charme.
O Porto talvez nunca chegue a unir-se a Gaia como Manchester soube fundir-se com Salford, tornando-se “duas metades de uma só cidade”, porque enquanto uma vê no Rio Irwell uma ponte, a outra vê no Rio Douro um muro (e são as duas do PSD, imagine-se se não fossem...). O Porto talvez nunca saiba impor-se na Europa, no mundo, como uma marca, porque o que faz marca em Manchester - o futebol, a música, as pessoas - é desprezado pelo Porto: o FCP, o vinho (mais consumido fora do que dentro de portas), as pessoas.
O Porto, sem rever a sua estratégia (há estratégia?), talvez nunca mais consiga recuperar o seu lugar na História, como Manchester conseguiu, há 13 anos, depois de um derradeiro ataque do IRA.
Ainda assim, Elisa Ferreira, candidata independente do PS à Câmara do Porto, achou que uma cidade poderia seguir o exemplo da outra. Hoje, à boleia do FCP-Manchester de ontem, juntou à mesa do Hotel Pestana três representantes da autarquia inglesa para partilharem a experiência de “regenerar uma cidade”. O conselho resume-se numa frase de Eddie Smith, director executivo da New East Manchester Urban Regeneration Company: “Não existe recuperação sem estabilidade política".
E acrescentou: "Os políticos acham que a regeneração é fácil e rápida, mas não é. Recuperar uma cidade é um projecto para 30 anos. Passa pelo crescimento económico, mas também pela educação/formação das pessoas, pela habitação e pela forma como tratamos os outros. Por um exercício de cidadania. E não dá para estar sempre a começar do zero". E concluiu: "O êxito do Porto dependerá sempre da capacidade de influenciar Lisboa e Bruxelas".
Será esse o handicap do Porto, reagiu Elisa Ferreira, lamentando a falta de “consistência” do actual executivo, sobretudo em matéria de regeneração urbana. "Consistência implica que se avalie o que se vai fazendo e que, corrigindo o que for necessário, se dê continuidade às coisas".
Pronto, e a partir daqui veio, em catadupa, o choradinho do Porto 2001, da Fundação do Porto Histórico, o El Corte Inglês, o Centro de Preparação Física do FC Porto, o Circulo Portuense de Ópera, de várias ONG's e a transformação do Centro Português de Fotografia "numa mera divisão da direcção de arquivos do Ministério da Cultura".
É choradinho porque já não há paciência para a lista que se sabe de cor. Infelizmente, não é falsa. E não para de crescer.
Semeador de Estrelas
quarta-feira, abril 15, 2009
FCP 0 - Antiportistas 1
Nós, europeus
Portugal arrisca-se a registar uma das mais baixas taxas de participação nas eleições de 7 de Junho para o Parlamento Europeu. Apenas 24% dos portugueses (34% no conjunto da UE)dizem estar dispostos a votar. E apenas três países têm taxas inferiores a Portugal: Polónia (13%), Áustria (21%) e Reino Unido (22%).
A conclusão resulta do inquérito Eurobarómetro, realizado entre 16 de Janeiro e 22 de Fevereiro junto de mil portugueses, num total de 26.718 cidadãos da União Europeia inquiridos e divulgada hoje em Bruxelas.
A cinco meses das eleições europeias, 56% dos portugueses (53% de europeus) referiram "não ter interesse" nesse acto eleitoral;71% confessa "não conhecer razoavelmente o papel do Parlamento Europeu" e 72% diz "não estar suficientemente informado para ir votar".
A conclusão resulta do inquérito Eurobarómetro, realizado entre 16 de Janeiro e 22 de Fevereiro junto de mil portugueses, num total de 26.718 cidadãos da União Europeia inquiridos e divulgada hoje em Bruxelas.
A cinco meses das eleições europeias, 56% dos portugueses (53% de europeus) referiram "não ter interesse" nesse acto eleitoral;71% confessa "não conhecer razoavelmente o papel do Parlamento Europeu" e 72% diz "não estar suficientemente informado para ir votar".
domingo, abril 12, 2009
Gosto de ti
Gostava de gostar mais de ti e menos dos que não gostam tanto de mim ou menos do que eu gosto deles. Gostava que esta coisa de gostar de alguém fosse sempre justa, equilibrada, simétrica. E que nunca se quebrasse. Que nunca fosse possível deixar de gostar de alguém. Eu gosto de todas as pessoas de quem já gostei. Temo que vá gostar assim até ao fim. Não conseguirmos deixar de gostar de alguém significa não conseguirmos libertar-nos de ninguém. Parecendo bonito, não podia ser mais feio.
Gostar de alguém implica saber dizer porquê. E eu quase nunca sei. E quase nunca perco tempo a pensar nisso. Gosto e pronto. Há quem não compreenda isto, embora compreenda bem, e sem questionar, quando dizemos: "Não gosto e pronto". Não gostar de alguém que não se conhece bem é socialmente mais aceitável do que gostar muito de alguém que se conhece mal.
Gostar de alguém implica saber dizer porquê. E eu quase nunca sei. E quase nunca perco tempo a pensar nisso. Gosto e pronto. Há quem não compreenda isto, embora compreenda bem, e sem questionar, quando dizemos: "Não gosto e pronto". Não gostar de alguém que não se conhece bem é socialmente mais aceitável do que gostar muito de alguém que se conhece mal.
Gostar de alguém implica sentir falta, lembrarmo-nos dela a meio da noite, do sono, de um filme, de um poema, de uma conversa de café. Implica preocupação, desejo de que tudo corra bem, receio de que alguma coisa esteja mal. Desejo de partilhar. E implica tempo para pôr isto em prática. Se não há tempo, e quase nunca há, gostar de alguém implica um permanente peso de consciência. Se uma pessoa pesa muito, várias pessoas pesam muito mais.
Por isso, as pessoas deixam de gostar umas das outras. Porque é mais fácil. Porque se deixarem de gostar deixam de sentir o peso. Por isso vão substituindo pessoas de quem um dia gostaram por outras pessoas de quem gostam agora. Porque gostar de alguém há muito tempo ainda é mais penoso do que gostar de alguém há pouco tempo. O tempo, na amizade, não significa necessariamente gostar mais, mas tem forçosamente que significar saber mais, compreender melhor. E, mesmo sem querer, esperar mais.
As pessoas, hoje, gostam pouco de dar. Mas também não gostam muito de receber. Às vezes, ainda não receberam metade de tudo o que temos para lhes dar e, asfixiadas, já não aguentam receber mais. E deixam de gostar de nós. Porque não há nada pior do que recebermos atenção que não pedimos.
Às vezes tenho saudades da forma como algumas pessoas já gostaram de mim.
Gostava de gostar mais de ti.
Tanto faz, os cartazes...
Eu sei que tanto faz. Tanto faz, a propósito das eleições - das Europeias e das outras que hão-de vir - discutir a localização dos cartazes ("No Marquês não!", grita o Sá Fernandes); as pessoas que neles aparecem ("Se Manuela Ferreira Leite aparece é porque é ela a candidata", deduz Menezes); ou os slogans escolhidos. Desde que não se discutam ideias - não vá alguém ficar a pensar que a cada cartaz de cada partido cabe realmente um projecto concreto - está tudo bem.
Mas já agora, vazio por vazio, podia mesmo era discutir-se os slogans. E sobretudo os marqueteiros que os escolheram. Não é uma coincidência incrível que todos tenham optado pela mesma estratégia, ou seja, por escolher a frase que menos hipótese tem de querer dizer alguma coisa? Nem que seja levantar um ínfimo véu de alguma coisa? Mesmo que essa coisa seja uma promessa que não têm a menor intenção de cumprir? Cá para mim, andam por aí fugas de informação nos estaminés dos publicitários, dos LPMs e Cunhas Vaz's, ou lá quem é que decide estas coisas.
Observe-se, a título de exemplo, a eloquência socialista. A Norte, Elisa Ferreira diz: "Porto para todos". É suposto entusiasmar alguém? Mobilizar alguém? Fazer com que alguém pense: "Ah, bom, vou votar nesta senhora porque nos cartazes ela diz que... qualquer coisa de jeito, qualquer coisa empolgante". O Porto, como qualquer outro sítio, para o bem e para o mal, é para todos, para todos os que nele habitam. Lá está a estratégia de nada dizer. Para a Europa, Vital Moreira informa: "Nós, europeus". Quase custa a acreditar! Extraordinário era se ele tivesse um enigmático slogan, do tipo: "Nós, americanos". E aí, nós, eleitores, ficariamos a pensar que talvez ele tivesse um qualquer trunfo na manga, ainda que Obama e a América não sejam para aqui chamados. Mas pelo menos lançava a confusão, a dúvida, o desafio. E sempre era algo mais divertido para discutir do que termos que levar agora com o Sá Fernandes e a sua geografia constitucional.
Homens Bonitos II
Há homens assim, que não estão sujeitos à subjectividade do gosto. Quique Flores é um deles, é definitivamente um homem bonito. Daí que estou disposta a promover um abaixo-assinado para que deixem o espanhol ficar por cá, mesmo que a equipa que lidera se despenhe à tripa forra. Em primeiro lugar, o que não será dispiciendo, porque sou portista, e um treinador... vá lá, pouco eficaz no Benfica dá sempre jeito. Depois, porque nunca o futebol português em geral, e o Benfica em particular, teve um treinador tão objectivamente bonito. Tenho a impressão de que nunca segui tanto os noticiários do Benfica como nos últimos meses.
Homens Bonitos I
Hoje, o Correio da Manhã, numa rubrica chamada "Separados à Nascença", compara Miguel Sousa Tavares a Jiménez Arbe, mais conhecido por El Solitário, mais conhecido ainda por Ladrão. A comparação é de um mau gosto extraordinário. E nem sequer está em causa o facto de um ser absolutamente notável e o outro não passar de um mentecapto. O que me chateia é que possa comparar-se MST, seguramente um dos homens mais bonitos de país (não sei se deveria dizer mesmo o mais bonito), com quem quer que seja, quanto mais com um bandido!
Tiago Azevedo Fernandes
"O Porto precisa de alguém capaz de unir os munícipes e de criar sinergias com os municípios vizinhos. Nenhum dos candidatos ou potenciais candidatos conhecidos me parece em boas condições para o fazer. De qualquer modo estou convencido de que Rui Rio quer ir para o Parlamento Europeu. Daqui a uns dias já se vai ver se este meu palpite se confirma ou não."
Tiago Azevedo Fernandes, Farpas JN
sábado, abril 11, 2009
Ainda o Twitter
José Manuel Fernandes, Henrique Monteiro, Jorge Fiel, Luciano Alvarez e Paulo Querido. Cinco jornalistas, cinco homens, todos na antecâmara da meia idade, podiam estar na mesa de café, ou da casa de um deles, a beber whisky velho, a fumar charutos cubanos e a falar da vida. Mas não, preferem estar ali, frente ao computador, cada um do seu, suponho, a twittar há horas a fio.
Há qualquer coisa de sórdido voyeurismo nesta minha tentação de ficar ali a vê-los. Mais sórdido porque não consigo não imaginar o que fazem enquanto twittam. Mas também, há que reconhecê-lo, há qualquer coisa de sórdido voyeurismo mas ao contrário nesta coisa de ficar ali a falar para todos quando podiam ficar só a falar entre eles.
Hoje, dá-se folga ao jornalismo, à política (o Magalhães não conta e o PSD é stand up comedy) e enquanto esperam pelo futebol, galgam memórias. A idade, os cabelos mais ou menos brancos, as namoradas que não tiveram, os livros que leram e os livros que não leram. Cumplicidade masculina. É bonito. Eu, se fosse eles, cobrava bilhete.
Quem quer casar com o PSD que é bonito e formosinho?
Luís Filipe Menezes disse hoje à TSF que acredita que Manuela Ferreira Leite poderá vir a ser cabeça-de-lista do PSD às eleições europeias. E diz que até a apoiaria. A ser verdade, Pedro Passos Coelho já deve ter a mão na garrafa de champanhe, porque não acredita que não possa ser ele a escolha óbvia do partido depois de tanta dança do ventre que tem feito nos últimos meses. O próprio Menezes também já deve ter a mão na rolha da celebração, porque ninguém consegue convencê-lo de que nem sempre aquele chavão idiota do "de bom de mim fará quem atrás de mim virá" bate certo. Alguém tem que lhe dizer que não, não era ele o homem certo para derrotar Sócrates. Mas como ele acredita que era, também Marco António Costa, contaminado pela crença do chefe, deve ter já um líquido comemorativo na geladeira. Pois se Menezes saltasse de Gaia, lá estaria o discípulo para tomar conta da casa.
Esta malta do PSD é absolutamente patética!
Do verbo twittar...
É para aí a segunda vez que me debruço sobre o Twitter. Vasculho um-a-um todos aqueles que pertencem a malta conhecida, a malta respeitada, a malta com piada, a malta amiga, a malta desconhecida, sem respeito, sem piada. E depois deste esforço hercúleo, para aí duas horas de viagem a tentar entender não só o interesse da coisa como a tentar apaixonar-me pela própria coisa, fiquei enjoada. Literalmente. Juro. Quase a desistir, derrotada, porque estou certa de que alguma coisa há-de estar a escapar-me nesse Admirável Mundo Novo Twitteiro, a derradeira punhalada: descubro que até o David Lynch anda por aí a twittar. Além de enjoada, fiquei deprimida. Pior só mesmo descobrir que Clint Eastwood também twitta. Deus o guarde. Juro que cortava os pulsos!
sexta-feira, abril 10, 2009
Revistas temáticas
Eu gostava da Única. Guardava-a religiosamente, limpava-lhe o pó, exibia na estante dos livros a sua lombada como se também ela fosse livro. Muitas Únicas juntas, com post its multicolores - a cada cor um tema - a espreitar lá de dentro, eram realmente uma coisa Única. Por isso, pergunto: quem foi o iluminado que inventou esta moda ridícula das revistas temáticas?! E o que é que passou pela cabeça do Expresso quando decidiu aderir a esta tendência?! Por algum acaso há estudos que provem que isso funciona?! Há vários meses que as minhas Únicas vão directamente para o caixote do lixo quase sem aquecer o sofá. A desta semana não é excepção.
quinta-feira, abril 09, 2009
Entrevistas "de vida"
Colecciono entrevistas. Há muitos anos. Em papel. Organizo os nomes por ordem alfabética e se tenho muitas entrevistas do mesmo entrevistado crio um dossier próprio para a criatura. Gosto de entrevistas, ponto. E gosto muito de entrevistas "de vida". E os entrevistados adoram dar entrevistas "de vida". Não há entrevista "de vida" que não contemple a infância do visado. Tudo bem. Mas que raio, se há três mil e quinhentas formas de abordar o assunto, por que é que optam por fazê-lo sempre desta forma: "E a sua infância como foi?" Não há uma única semana em que não leia esta pergunta num sítio qualquer - mas geralmente é sempre no mesmo.
quarta-feira, abril 08, 2009
Está a morrer e não quer ver
Colectiva "Está a morrer e não quer ver"
Espaço Campanhã, Porto
inaugura a 11 de Abril, às 16H0ras
Espaço Campanhã, Porto
inaugura a 11 de Abril, às 16H0ras
terça-feira, abril 07, 2009
Inconfidências
Medo. Mesmo. Menina. Melancia. Memória. Momentos. Magia. Mão-na-mão. Montanhas. Muros. Mudar. Mundo. Morada. Marte. Morangos. Mistérios. Molhados. Mar. Morrer. Matar. Marar. Luz. Lugares. Limão. Língua. Louca. Limbo. Lábios. Lágrima. Lua. Lembrar. Lamber. Libertar. Chocolate. Champanhe. Cara. Coração. Casulo. Cometa. Companhia. Casar. Colorir. Complicar. Calafrio. Carrocel. Cúmulo. Cumplicidade. Cigarras. Cigarros. Chá. Cerejas. Cartola. Coelhos. Canto. Choro. Corpo. Colapso. Chão. Consolo. Cinza. Ciúme. Cicatriz. Caminho. Contigo. Céu. Chama-me. Sintomas. Solidão. Sangue. Socalco. Silêncio. Solta. Segredo. Sol. Silhueta. Sépia. Sonho. Sina. Sinfonia. Sexo. Seduzir. Suar. Salivar. Selar. Salvar. Seguir. Separar. Saudade. Sempre. Selva. Sobreviver. Noite. Nua. Nervo. Narciso. Norte. Ninguém. Não. Vício. Vinho. Vermelho. Vulgar. Voar. Vertigem. Viagem. Verdade. Vazia. Vaidade. Vacilar. Viver. Vão. Verão. Dor. Dormente. Doença. Dentro. Desgosto. Destino. Descomplicar. Espuma. Ego. Eternidade. Erros. Enganos. Esquinas. Ética. Erva. Estrada. Escura. Existência. Entrelinhas. Estrelinhas. Eu. Escolher. Esperar. Esquecer. Ritual. Repetido. Respirar. Reiterar. Reservar. Rezar. Rir. Recomeçar. Rasto. Roleta. Russa. Rouca. Gelada. Gritar. Gostar. Gastar. Guerra. Garras. Quentes. Queima. Querer-te. Quebrar. Preguiça. Perfume. Prenúncio. Passado. Peixes. Putas. Prata. Prazer. Partilhar. Peito. Partida. Pintar. Perder. Prender. Privado. Poesia. Pura. Perto. Parto. Ponte. Pistas. Pérolas. Pipocas. Promessas. Pecados. Pretos. Purgatório. Inferno. Intermitente. Incompleto. Inconfidências. Infantil. Infinito. Inverno. Interior. Inspiração. Impressões. Digitais. Desejo. Despir-te. Detalhe. Delicado. Deserto. Desassossego. Dom. Desafio. Diabo. Dormir. Divagar. Devagar. Duvidar. Dama. Boca. Bilhete. Belo. Branco. Banal. Beber. Beijo. Bússula. Bingo. Bolachas. Ouro. Ópio. Ouvir. Ocultar. Outro. Apocalipse. Abraçar. Acertar. Anjos. Acompanhados. Alma. Ardente. Ansiedade. Ampulheta. Aversão. Amarela. Ausência. Água. Asas. Amar. Arder. Afundar. Apagar. Altar. Apelido. Acidental. Adeus. Tiranos. Tragédia. Trilho. Torpor. Timidez. Turva. Tenda. Tempo. Teia. Tinta. Tensão. Toa. Tu. Todo. Tigre. Triste. Travão. Transparente. Fronteira. Fadas. Favas. Faltas. Fingir. Falhar. Fugir. Flutuar. Ferida. Fiasco. Fado. Fodido. Fiel. Fulvo. Fundo. Fim.
domingo, abril 05, 2009
Magic Numbers na Casa da Música
Foi na Casa da Música, pouco depois da uma da manhã. Podia ter sido em Paredes de Coura entre o fim da tarde e o início da noite. Seja como for, foi lindo!!!
Manuel António Pina
"A única salvação (estranha palavra) é pelo amor. A melhor literatura é sempre, de algum modo, um acto de deslumbramento e amor (ou de amizade, que é a mais alta forma do amor), mesmo quando é – e, às vezes, justamente porque o é – assassina ou suicidária. E, se quer que lhe diga uma coisa surpreendente, acho que o melhor jornalismo também."
Manuel António Pina, Farpas JN
sexta-feira, abril 03, 2009
O meu falso pipi
Mais uma mentira sobre o autor de "O meu pipi", dizem-me... Um desapontamento. E eu a achar que havia mulheres arejadas e com piada em Portugal!...
O meu pipi
A Time Out descobriu o autor de "O meu pipi". E afinal não é um autor,muito menos conhecido, mas uma autora. Sofia Saraiva, 32 anos, profissional de publicidade. Ler notícia aqui.
Homens de 53 anos
Tropeçar três vezes seguidas em três homens de 53 anos não é coincidência que possa ignorar-se. E das três vezes perder, rendida, as horas na conversa, menos ainda. Um médico, um músico, um escritor, dois divorciados, um homossexual. Pouco depois, voltar a tropeçar noutro. Outro médico. 53 também, juro. Casado. E voltar a acontecer o mesmo. Conversas intermináveis, dia fora, noite dentro, cheias. Era impossível não ficar a pensar naquilo, nisto. Nada de súbitas pulsões sexuais nabokovianas (mas ao contrário) sobre as quais os Freuds da mesa de café adorariam teorizar. Apenas pensar no que são hoje esses (estes?) homens com meio século e 36 meses no lombo. Se como apregoam por aí aos quatro ventos, os 30 anos são os novos 20, os 50 têm necessariamente que ser os novos 40?
Os homens que têm hoje 53 anos teriam atingido a maioridade em 1974 se nessa altura a maioridade fosse aos 18 anos, o que só aconteceu em 77, e não aos 21. Os que já trabalhavam tiveram, pela primeira vez, acesso ao salário mínimo nacional: 3300 escudos. Muito pouco, quase nada, se considerarmos que durante vários anos o poder de compra manteve-se em níveis negativos. Os outros tinham as universidades, infinitamente menos cursos do que hoje, e quase todos de humanidades. E tinham a emigração, quanto mais não fosse no Verão. Pois se até Sócrates ia vindimar para França nas férias...
Assistiram ao lançamento do último disco ao vivo da carreira de Elvis Presley, um fiasco. E ao início da sua decadência. Não é boa memória para se guardar aos 18 anos do Rei do Rock. Mas talvez esses homens andassem mais entretidos com as músicas da Revolução, com os Beatles ou com um rock mais pujante: SexPistols? Led Zeppelin?. Os homens que têm hoje 53 anos às tantas são responsáveis pela queda de vendas de Elvis. Compravam vinis pelo correio, actualizavam-se em revistas estrangeiras, que também pouco chegavam cá. Viam cinema no Cinema. Aposto que não há um único que não tenha visto "Tubarão" de Spielberg e os Kubricks todos e todos os Padrinhos de Coppola. E muita pornografia à-la-Pop-Art. Era o que se podia arranjar.
Os homens que têm agora 53 anos sonharam com mulheres que Portugal não tinha. Sexo, drogas e rock'n'roll. Viveram a adolescência e a juventude sem saber o que era a Sida e o que eram preservativos. Se perderam a cabeça, (estes) salvaram-se. Hão-de ter tido os pais casados até à morte, frequentado a catequese e a missa ao domingo. Muitos hão-de ter começado a consumir drogas. Seguramente hão-de lembrar-se das primeiras calças de ganga que compraram. Do primeiro fato e da primeira gravata.
Os homens que têm hoje 53 anos, tinham 30 em 1986. Naturalmente já votavam. E votar ainda era um direito prezado, de que ninguém abdicava por uma tarde de praia. Hão-de ter-se dividido entre aqueles que votaram Freitas do Amaral e perderam e os que votaram Mário Soares e ganharam. Entre os que aplaudiram a adesão de Portugal à União Europeia e os que abominaram.
Adiante. Os homens que têm hoje 53 anos são cavalheiros à moda antiga. Sabem que não há nada que façam que uma mulher, para o bem e para o mal, não seja capaz de fazer também, mas sabem equilibrar o trato entre a consciência disso e o secreto desejo que uma mulher sempre tem de ser tratada como mulher. Seja lá isso o que for, eles sabem como se faz. Sabem falar de política, do Verão Quente, da Thatcher e da Pintasilgo, de livros, de filmes, de música sem a pretensão de ostentar o que sabem, falar sabendo que talvez o outro não saiba, mas explicando tudo discretamente como se outro soubesse tudo para que não se atrapalhe e se perca. E sabem falar de coisas simples, dos pequenos nadas da vida e não propriamente do que está na berra. Têm paciência, tempo, sabem ouvir e entender tudo, mesmo o que se não diz ou diz ao contrário. Têm sempre a frase certa. O silêncio acertado.
Os homens bonitos que hoje são homens com 53 anos não pensam neles dessa forma. Como bonitos ou feios. Não jogam (os maus não contam), não seduzem, não encaram todas as mulheres como presas sem critério. Não assassinam amizades com o sexo oposto quando o desfecho não era o esperado. A meio da vida deixaram de correr sabe-se lá para chegar onde, mas não estacionaram à sombra da bananeira. Ususfruem do tempo, do aqui e agora. Vivem mais a compreender e a assimilar do que a ajuizar e a condenar. São sensíveis, quase poéticos. Deixaram de ter medo de não serem os maiores, os mais fortes, os que têm mais graça. São civilizados.
Os homens que hoje têm 53 anos (estes?) aos 18, aos 25, 30 não deviam ter piada nenhuma. Insuportavelmente iguais a todos os outros. Às tantas, os homens só deixam de ser todos iguais quando começam a envelhecer.
Miguel Esteves Cardoso, numa entrevista a Carlos Vaz Marques, em Outubro do ano passado, disse que há uma idade para tudo. "A grande coisa a partir dos 50 anos é a experiência, a sabedoria, não é ter jeito, ser excitante ou ter graça. É ser sábio. Ser sábio é poder olhar para as coisas e poder dizer: isto não tem graça mas tem o seu lugar". É isto.
quinta-feira, abril 02, 2009
Vidas de silêncio
O que leva uma mulher a entrar num mosteiro de clausura?
Impressionante reportagem multimédia de Catarina Santos, que viveu o dia-a-dia das monjas carmelitas, no Mosteiro de Bande, em Paços de Ferreira.
No site da Rádio Renascença. Aqui:
Impressionante reportagem multimédia de Catarina Santos, que viveu o dia-a-dia das monjas carmelitas, no Mosteiro de Bande, em Paços de Ferreira.
No site da Rádio Renascença. Aqui:
quarta-feira, abril 01, 2009
Mário Soares na primeira pessoa
"Sou um homem de esperança.
Tenho esperança, em primeiro lugar, no povo português. E depois, na condição humana, independentemente daquilo em que cada um crê. Esperança na espécie humana, no Homem, nessa coisa singular e extraordinária que é saber distinguir o bem do mal. Tenho esperança numa utopia que nos conduza a um mundo melhor, com mais liberdade e menos violência, em que possamos dialogar mais e combatermo-nos menos, esperança numa utopia que nos faça a todos iguais. E tenho esperança no progresso, na evolução contínua da humanidade. E da medicina, que quase conseguiu vencer a dor. Física. Agora é preciso vencer a dor espiritual, o medo, a angústia que tantos têm da morte.
A morte não me é familiar, no sentido em que não me aflige. Não penso nela. Sei que todos vamos ter de ser confrontados com esse problema, todos vamos ter que desaparecer um dia. E os que têm a graça da fé têm um privilégio sobre os outros nessa passagem da vida para a morte. Mas eu não tenho fé - nem medo da morte. Dizem que a crença é uma graça divina – não fui tocado por essa graça, ainda. Até hoje, não fui. A morte, para mim, não é um mistério. Não me aflige que para lá da vida seja o Nada. Como não me aflige o que houve antes de eu estar, como dizia o meu pai, na “ordem dos possíveis”, isto é, quando ainda não tinha sido gerado. Não sabemos o que houve antes de nós nem o que haverá depois de nós. Acredito que seja o Nada, não sei. Sou essa circunstância. Não tenho dúvidas nenhumas de que quando morrer vou para debaixo da terra. Só espero morrer com a mesma dignidade com que tentei viver toda a minha vida.
Tenho 84 anos, bem vivos e bem vividos. Durmo bem, sem comprimidos, felizmente. E não me arrependo de nada. O meu cérebro está a funcionar - não digo inteiramente, mas funciona (ri) -, o espírito crítico mantém-se e estou suficientemente lúcido para saber que tenho que aceitar a morte quando ela chegar. Isso é uma maneira de mostrar coragem. Porque na vida é preciso ter coragem, fazer escolhas, ter dignidade em todas as circunstâncias, mesmo quando querem desmoralizar-nos ou tornar-nos indignos. Podemos ajudar o nosso cérebro a funcionar bem até ao fim. Quando isso acontece, quando o conseguimos, é uma grande felicidade. E podemos fazer o bem, praticar o bem, independentemente de sermos crentes ou não, religiosos ou não.
Não tenho fé, mas tenho esperança. E, como S. Paulo, à caridade prefiro o amor. O amor pelo próximo, pelo nosso semelhante. Tenho formação iluminista, sou racionalista: não sou capaz de chegar a uma verdade a não ser pela evidência, pelo experimentalismo. Não nego a existência de Deus - sou agnóstico e não ateu. A diferença é que não nego a existência Dele; custa-me apenas aceitar Deus como homem à nossa semelhança. Racionalmente, não me entra no espírito. Não obstante isso, insisto, tenho esperança. Esperança na política. Na política com P grande. Porque, para mim, a política nunca teve interesse material, nunca foi uma forma de ganhar a vida, pelo contrário. Sempre foi actividade nobre do espírito humano com vista ao bem dos outros. É nessa que acredito.
É um mistério saber porque nascemos e porque morremos. Não sei se um dia esse mistério será revelado, mas sei que isso não nos obriga a acreditar na transcendência. Por isso é que sou agnóstico. Tenho dúvidas profundas sobre isto.
Porquê as dúvidas?
O meu pai era religioso e eu adorava-o. A minha mãe era menos. O meu pai até costumava dizer, com alguma graça, que ela só se lembrava de Santa Bárbara quando trovejava. A minha mãe era ribatelana, o meu pai leiriense, nasceu perto de Fátima. O meu pai, grande conspirador contra a ditadura, porque esteve preso e foi deportado, esteve muito ausente enquanto fui criança, na minha criação. Quando regressou a casa, teria eu nove anos, sentou-se, um dia, ao meu lado, na cama, e perguntou-me se eu sabia o Pai Nosso - não sabia. Se sabia a Avé Maria - também não sabia. Tentou rezar comigo, mas já era um pouco tarde.
No entanto, sempre tive um certo fascínio pela religião. Participei em muitos eventos ecuménicos e aprendi muito. Eu era sempre um dos não crentes de serviço. O debate entre as diferentes religiões é muito difícil, como é entre crentes e não crentes, mas faz-se e é possível."
[Mário Soares, hoje, no II Seminário Nacional subordinado ao tema "Hospital, lugar de esperança", organizado pela Coordenação Nacional das Capelanias Hospitalares, no Hospital S. João, no Porto.]
Tenho esperança, em primeiro lugar, no povo português. E depois, na condição humana, independentemente daquilo em que cada um crê. Esperança na espécie humana, no Homem, nessa coisa singular e extraordinária que é saber distinguir o bem do mal. Tenho esperança numa utopia que nos conduza a um mundo melhor, com mais liberdade e menos violência, em que possamos dialogar mais e combatermo-nos menos, esperança numa utopia que nos faça a todos iguais. E tenho esperança no progresso, na evolução contínua da humanidade. E da medicina, que quase conseguiu vencer a dor. Física. Agora é preciso vencer a dor espiritual, o medo, a angústia que tantos têm da morte.
A morte não me é familiar, no sentido em que não me aflige. Não penso nela. Sei que todos vamos ter de ser confrontados com esse problema, todos vamos ter que desaparecer um dia. E os que têm a graça da fé têm um privilégio sobre os outros nessa passagem da vida para a morte. Mas eu não tenho fé - nem medo da morte. Dizem que a crença é uma graça divina – não fui tocado por essa graça, ainda. Até hoje, não fui. A morte, para mim, não é um mistério. Não me aflige que para lá da vida seja o Nada. Como não me aflige o que houve antes de eu estar, como dizia o meu pai, na “ordem dos possíveis”, isto é, quando ainda não tinha sido gerado. Não sabemos o que houve antes de nós nem o que haverá depois de nós. Acredito que seja o Nada, não sei. Sou essa circunstância. Não tenho dúvidas nenhumas de que quando morrer vou para debaixo da terra. Só espero morrer com a mesma dignidade com que tentei viver toda a minha vida.
Tenho 84 anos, bem vivos e bem vividos. Durmo bem, sem comprimidos, felizmente. E não me arrependo de nada. O meu cérebro está a funcionar - não digo inteiramente, mas funciona (ri) -, o espírito crítico mantém-se e estou suficientemente lúcido para saber que tenho que aceitar a morte quando ela chegar. Isso é uma maneira de mostrar coragem. Porque na vida é preciso ter coragem, fazer escolhas, ter dignidade em todas as circunstâncias, mesmo quando querem desmoralizar-nos ou tornar-nos indignos. Podemos ajudar o nosso cérebro a funcionar bem até ao fim. Quando isso acontece, quando o conseguimos, é uma grande felicidade. E podemos fazer o bem, praticar o bem, independentemente de sermos crentes ou não, religiosos ou não.
Não tenho fé, mas tenho esperança. E, como S. Paulo, à caridade prefiro o amor. O amor pelo próximo, pelo nosso semelhante. Tenho formação iluminista, sou racionalista: não sou capaz de chegar a uma verdade a não ser pela evidência, pelo experimentalismo. Não nego a existência de Deus - sou agnóstico e não ateu. A diferença é que não nego a existência Dele; custa-me apenas aceitar Deus como homem à nossa semelhança. Racionalmente, não me entra no espírito. Não obstante isso, insisto, tenho esperança. Esperança na política. Na política com P grande. Porque, para mim, a política nunca teve interesse material, nunca foi uma forma de ganhar a vida, pelo contrário. Sempre foi actividade nobre do espírito humano com vista ao bem dos outros. É nessa que acredito.
É um mistério saber porque nascemos e porque morremos. Não sei se um dia esse mistério será revelado, mas sei que isso não nos obriga a acreditar na transcendência. Por isso é que sou agnóstico. Tenho dúvidas profundas sobre isto.
Porquê as dúvidas?
O meu pai era religioso e eu adorava-o. A minha mãe era menos. O meu pai até costumava dizer, com alguma graça, que ela só se lembrava de Santa Bárbara quando trovejava. A minha mãe era ribatelana, o meu pai leiriense, nasceu perto de Fátima. O meu pai, grande conspirador contra a ditadura, porque esteve preso e foi deportado, esteve muito ausente enquanto fui criança, na minha criação. Quando regressou a casa, teria eu nove anos, sentou-se, um dia, ao meu lado, na cama, e perguntou-me se eu sabia o Pai Nosso - não sabia. Se sabia a Avé Maria - também não sabia. Tentou rezar comigo, mas já era um pouco tarde.
No entanto, sempre tive um certo fascínio pela religião. Participei em muitos eventos ecuménicos e aprendi muito. Eu era sempre um dos não crentes de serviço. O debate entre as diferentes religiões é muito difícil, como é entre crentes e não crentes, mas faz-se e é possível."
[Mário Soares, hoje, no II Seminário Nacional subordinado ao tema "Hospital, lugar de esperança", organizado pela Coordenação Nacional das Capelanias Hospitalares, no Hospital S. João, no Porto.]
PS.: À saída do hospital, uma senhora com 70 anos, ou mais, percebe que é Mário Soares quem está a entrar no carro e chama por ele, grita, insiste em dar-lhe um beijo, abraça-o. A cena não dura mais de quinze segundos. Já ele partira quando ela, como que a justificar-se dos risinhos de quem ali estava, disse alto: "Tenho uma casa, devo-a a ele, foi ele que ma deu. Se não hoje não tinha nada. Homem bom."
Soares é fixe
Há dois ou três socialistas neste país que admiro profundamente, quase cegamente, e que são os responsáveis por ser eu também socialista. Com orgulho, obrigada. Mário Soares é um deles, o maior deles. E, no entanto, Soares é diferente. Porque a admiração mistura-se, no caso dele, com uma espécie de devoção que só sinto por pessoas como, vá lá, o meu pai. Mas como amar um pai de forma total não é grande proeza, logo exemplo suficientemente claro, arrisco dizer que o discurso, não só necessariamente político, do líder histórico do PS está para mim como um concerto dos Tokyo Hotel para uma menina de 12 anos. Sem puxar os cabelos, mas com igual e tremenda comoção.
Hoje, no Hospital S. João, no Porto, Mário Soares falou da esperança que lhe compensa a ausência da fé, do amor que prefere à caridade, do que o move há 84 "vivos e bem vividos" anos. Falou da morte e do medo que dela não tem. Medo tenho eu (quantos de nós?) do dia em que isso lhe acontecer.
Hoje, no Hospital S. João, no Porto, Mário Soares falou da esperança que lhe compensa a ausência da fé, do amor que prefere à caridade, do que o move há 84 "vivos e bem vividos" anos. Falou da morte e do medo que dela não tem. Medo tenho eu (quantos de nós?) do dia em que isso lhe acontecer.
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