O Porto não é comparável a Manchester, cidade do Reino Unido que “em plena recessão mundial nunca teve tantos empregos para oferecer como no início deste ano”. E em 2005 tinha uma taxa de desemprego inexistente. O Porto, tão industrial como a cidade inglesa, talvez nunca venha a conseguir seduzir para o seu território as empresas de Lisboa como Manchester conseguiu seduzir as de Londres. Nem as empresas nem as pessoas. Porque talvez nunca venha a perceber a importância que desempenha a Cultura de uma cidade nessa operação de charme.
O Porto talvez nunca chegue a unir-se a Gaia como Manchester soube fundir-se com Salford, tornando-se “duas metades de uma só cidade”, porque enquanto uma vê no Rio Irwell uma ponte, a outra vê no Rio Douro um muro (e são as duas do PSD, imagine-se se não fossem...). O Porto talvez nunca saiba impor-se na Europa, no mundo, como uma marca, porque o que faz marca em Manchester - o futebol, a música, as pessoas - é desprezado pelo Porto: o FCP, o vinho (mais consumido fora do que dentro de portas), as pessoas.
O Porto, sem rever a sua estratégia (há estratégia?), talvez nunca mais consiga recuperar o seu lugar na História, como Manchester conseguiu, há 13 anos, depois de um derradeiro ataque do IRA.
Ainda assim, Elisa Ferreira, candidata independente do PS à Câmara do Porto, achou que uma cidade poderia seguir o exemplo da outra. Hoje, à boleia do FCP-Manchester de ontem, juntou à mesa do Hotel Pestana três representantes da autarquia inglesa para partilharem a experiência de “regenerar uma cidade”. O conselho resume-se numa frase de Eddie Smith, director executivo da New East Manchester Urban Regeneration Company: “Não existe recuperação sem estabilidade política".
E acrescentou: "Os políticos acham que a regeneração é fácil e rápida, mas não é. Recuperar uma cidade é um projecto para 30 anos. Passa pelo crescimento económico, mas também pela educação/formação das pessoas, pela habitação e pela forma como tratamos os outros. Por um exercício de cidadania. E não dá para estar sempre a começar do zero". E concluiu: "O êxito do Porto dependerá sempre da capacidade de influenciar Lisboa e Bruxelas".
Será esse o handicap do Porto, reagiu Elisa Ferreira, lamentando a falta de “consistência” do actual executivo, sobretudo em matéria de regeneração urbana. "Consistência implica que se avalie o que se vai fazendo e que, corrigindo o que for necessário, se dê continuidade às coisas".
Pronto, e a partir daqui veio, em catadupa, o choradinho do Porto 2001, da Fundação do Porto Histórico, o El Corte Inglês, o Centro de Preparação Física do FC Porto, o Circulo Portuense de Ópera, de várias ONG's e a transformação do Centro Português de Fotografia "numa mera divisão da direcção de arquivos do Ministério da Cultura".
É choradinho porque já não há paciência para a lista que se sabe de cor. Infelizmente, não é falsa. E não para de crescer.
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