sexta-feira, fevereiro 20, 2009

Razões para dar o benefício da dúvida a Elisa Ferreira I


Deus sabe como acreditei em Francisco Assis quando ele apareceu, em 2005, vindo da Europa, a querer salvar o Porto, estava a cidade ainda longe de estar como está hoje: em coma profundo. Como repudiei as acusações que lhe faziam: a falta de imagem, como se um autarca devesse ter figura de top model; o excesso de bagagem cultural vertido numa entrevista à Visão, como se um autarca devesse ter berço de palha; a timidez, como se um autarca se medisse pelos beijos que dá. Como acreditei nas boas intenções, na boa vontade, nas ideias que prometiam, nos ideais sustentados, nos projectos que apresentou em campanha. Como acreditei naquela equipa escolhida, aparentemente, a dedo.

Francisco Assis é educado, honesto, genuíno, culto, inteligente, bondoso, arguto... e preguiçoso. É impossível não o prezar, não respeitar tudo o que o define como pessoa. Mas Deus sabe a desilusão que, como político, me causou. Os dossiers pouco estudados, as vitórias (o Bolhão, o Rivoli...) pouco potenciadas. A desistência. O regresso ao dourado exílio europeu que nunca teve coragem de abandonar, sequer no início da via sacra na Oposição. Assis não perdeu quando perdeu as eleições; perdeu quando prometeu ficar e não cumpriu. E como, apesar disso, lamento pela cidade que não lhe deu a oportunidade.


E agora, 2009, Elisa Ferreira, outra deputada vinda da Europa. Mulher de imagem polida, eventualmente mais ao gosto de quem gosta tanto de imagens, menos tímida, mais aguerrida. Para quem está a borrifar-se para esses parâmetros dados pelo embrulho ou pela forma, a candidatura dela, ainda que previsível, causa alguma hesitação. Estive indecisa, nos últimos meses, entre estar por ela ou contra ela. E aquela entrevista dada ao JN, em Janeiro, não acelerou a minha decisão. Fraquinha, fraquinha. Que o Porto é um grande desafio, que a vitória da Câmara é a coisa mais importante da vida dela (mas não ao ponto de largar o parlamento europeu se a não ganhar!), que faltam actores no Norte, blá blá blá, balelas!

O problema é que a vida de uma cidade é como a nossa vida pessoal: habituamo-nos à rotina e esquecemo-nos que podemos ser infinitamente mais felizes do que aquilo que somos. Que podemos fazer mais, ter mais, ser melhores. Que a vida não é uma coisa para se salvar; é coisa para se viver! Que a vida não é um happening sazonal com direito a tenda na praça e a passadeira vermelha. Autêntico circo de aldeia. É coisa para se viver todos os dias.

Com Rui Rio não estamos deitados numa maca num corredor de hospital a receber soro à espera da nossa vez; com Rui Rio temos uma doença terminal, vamos vivendo na sombra dos dias, com a lentidão dos condenados, inscritos numa lista de espera onde a nossa vez chegará, se chegar, quando já for tarde demais. E essa espera já nem dói porque andamos medicados, dopados, esquecidos de nós...

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