sábado, março 02, 2013

2 de Março



Se a manifestação de 2 de Março tiver tido mais gente que a de 15 de Setembro é mais importante? E se tiver tido menos? Não vale? Se tiver tido um milhão e meio é grave? E se tiver tido menos de um milhão? Não conta? A partir de que número o sofrimento deve ser levado a sério? Querer aferir a importância da manifestação pela adição de pessoas é ridículo. A conta não é de somar, é de subtrair. Todas as pessoas que estiveram lá, estiveram porque lhes foi tirada alguma coisa. Em alguns casos, demasiadas coisas. Incluindo o direito à alternativa política, que não existe neste país, e que é a maior amputação de que se pode padecer num regime democrático. Temos democracia, temos liberdade, podemos votar, mas não temos em quem votar. Não somos um milhão assim, seremos muitos mais.

E se as elites (?) fossem sujeitas a votos, não estaríamos melhor. Já nos sugeriram que emigrássemos (por que razão nós e não eles?), já nos disseram para aguentarmos, hoje disseram-nos para limparmos matas. Nada contra o trabalho manual, mesmo se aquém das qualificações. Em teoria. Mas espanta-me a forma como se fala dos licenciados neste país. Como se os licenciados, só por serem licenciados, fossem automaticamente uns bandalhos petulantes que não querem trabalhar, só desfilar o canudo. Espanta-me ainda mais que a mesma sugestão, a da limpeza das matas, não seja feita a criaturas como Duarte Lima ou Oliveira e Costa que, sozinhos, custam mais ao país que mil licenciados juntos. 

Foi por isto, também, que fomos à manifestação. Porque não nos subtraíram só o salário, já de si estagnado há oito anos, subtraíram-nos a esperança numa classe política decente e numa elite que, no mínimo, pensa antes de falar. 

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