segunda-feira, março 18, 2013

Paulo Varela Gomes: O Verão de 2012


"... a felicidade é sempre possível, desde que não haja fome, frio e doença, não são precisos centros comerciais em aeroportos, frigoríficos, panos de esfregar o chão embrulhados em plástico e com um etiqueta no preço, enxadas polidas até ao brilho e expostas numa prateleira como se fossem um brinquedo. O que sucedeu foi que, perante a profusão de sinais exteriores de felicidade comercial ou capitalista, ficámos inaptos para interpretar outras felicidades, a do silêncio, da inteligência, da simplicidade de vida, da entreajuda, da falta de pressa, do convívio com as crianças e os bichos.

(...) O voto, a liberdade de palavra ou de propaganda são o pão que se dá aos imbecis mergulhados até ao inconsciente na atmosfera falsificada do circo. Qualquer camponês medieval controlava melhor a sua vida do que um eleitor contemporâneo, convencido de que é livre, obrigado e obrigando-se pela força da ideologia a escolher sempre o mesmo género de governantes, a entreter-se com a sua comédia de fingimentos."

[Li algures que em Janeiro de 2013, data de edição deste livro, estava escolhido o livro português do ano, e é bem capaz de ser verdade.]

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