"A mãe tem muito medo que o pai acorde. Já o fez várias vezes; abre os olhos, olha para nós e começa a chorar. Pouco depois, volta a adormecer. A mãe diz que ele chora porque percebe onde está e o que aconteceu. Treme toda a cama. A mãe vai para o corredor porque não o aguenta. Eu não me impressiono muito e fico com ele. Que há de estranho no seu choro? Acaba de sentir toda a gravidade da vida, é só isso. E quando se sente toda a gravidade da vida no corpo tem-se de chorar, como ele próprio me ensinou. O estranho é que chora sempre que acorda, como se sentisse toda a gravidade da vida no corpo uma e outra vez e não quisesse parar. Dá-me a mão e aperta-ma com toda a força; às vezes, dói muito depois de o fazer. Mas não o repreendo. Quantas vezes lhe terei apertado a mão enquanto discursava nos funerais? Só que agora é ao contrário."
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