"O cheiro da cera em início de derretimento chegou até cá fora. Chegou a voz da minha avó também. Eu queria que nada interrompesse aquela nossa escuridão.
Às vezes é bom estarmos numa escuridão sozinha, de gruta e conforto, como se o nosso mundo, por alguns instantes, pudesse ser assim – sem tom de cor nem distração de forma. É bom dividir uma escuridão com outra pessoa, em concha e aconchego, como se dois mundos, nessas gotas de negrume, fossem um só.– Achas que o coração das pessoas é pequeno?– Sim. Pequenino mesmo.Os olhos se habituam ao escuro. O silêncio fica muito nítido na ausência da luz.
Na contraluz de um luar minguante, podia ver os contornos grossos dos lábios dela, o queixo a imitar falésias, e dois brilhos apagados no lugar dos brilhos que um dia foram os olhos dela. Nesse silêncio, eu de olhos quase fechados escutava o respirar dela. Pulmão vai, pulmão vem..."
["uma escuridão bonita", Ondjaki; Caminho 2013 - em breve num livro perto de si...], anuncia o próprio no facebook. E é maravilhoso quando isto acontece.
Sem comentários:
Enviar um comentário