quinta-feira, março 21, 2013

Pedro Lomba: A infelicidade dos portugueses

[Oleg Oprisco]

Uma frase de Pedro Ayres Magalhães que li há tempos, escondida numa entrevista de jornal: "As pessoas tratam-se mal e depois dizem que isto é uma merda."

Quando falamos na infelicidade dos portugueses, e agora é uso corrente falar-se na infelicidade dos portugueses como um tema político, devíamos falar mais vezes disto. Quero dizer: devíamos concentrar-nos mais no óbvio e não somente na conversa "científica" que procura justificar o desalento dos portugueses com condições externas, quase sempre socio-económicas, que cada um deles não pode controlar.

Há hoje, por toda a parte, uma indústria cultural e académica em torno da ideia de felicidade. A felicidade começou a ser estudada por psicólogos, economistas, neurocientistas, politólogos. Não estou a pensar em manuais de auto-ajuda mas em estudos, livros, testes que procuram perceber o que conduz e não conduz à felicidade. Vivemos tempos positivistas. Claro que ninguém se entende sobre o que a palavra significa. Há fórmulas que medem a felicidade de povos inteiros e perguntas nos inquéritos de opinião sobre felicidade, bem-estar e satisfação dos cidadãos.

Muitos desses estudos sobre a felicidade, os que conheço, são admiráveis em isolar correlações, efeitos, experiências. Podem convencer-nos. Mas muitos são também, paradoxalmente, um entrave à própria ideia de felicidade entendida como procura. Vulgarizados em livros cada vez mais acessíveis ao grande público, estes estudos oferecem um caminho fácil para justificarmos os nossos medos e incapacidades. Habituamo-nos à infelicidade e às suas causas exteriores. Passamos a conhecê-las, mas não a combatê-las. Com isso vão-nos afastando da convicção de que os obstáculos à felicidade não passam só pelos outros, pelas decisões políticas ou pelo Estado. Passam também por nós mesmos. Ou dito de outra forma: passam pela procura da felicidade.

Esta procura da felicidade, que conhecemos da Declaração de Independência dos Estados Unidos, é no fundo o que sustenta o melhorismo das nossas sociedades. Todos nós, pobres ou ricos, queremos melhorar a nossa condição. Melhorar o que fazemos, o que temos, o que somos. As pessoas tratam-se mal e depois dizem que o país não presta. Os prédios estão sujos, mas os condomínios não funcionam. As escolas são más, mas os pais esquecem-se de lá aparecer. Os jornais são criticados, mas poucos lêem e poucos protestam. As universidades parecem conventos, mas ninguém se lembrou de contribuir para que não fossem. Desistimos de melhorar.

Sim, vamos admitir que a infelicidade crescente dos portugueses é uma questão política. Na origem dessa infelicidade estão causas económicas: baixos salários, desemprego, trabalhos precários, má gestão, empobrecimento, ausência de expectativas, desconfiança e mais desconfiança. Tudo isto depende de aspectos políticos que nenhum de nós controla. Mas não é só por isso que a infelicidade dos portugueses pode ser vista como uma questão política.

As sociedades liberais, ou sociedades de liberdade como nos prezamos de ser, precisam de cidadãos satisfeitos, de cidadãos felizes, porque apostam na sua coragem e desprendimento para procurarem a felicidade e melhorarem a sua condição. São sociedades que sabem usar a infelicidade, sem medo e sem inacção. Precisamente o melhorismo.

[Hoje, no Público]

4 comentários:

  1. Este Lomba está cada vez pior.
    Mas vejo que tem adeptos.

    É como diz um amigo meu, "os nerds são os new cool".

    beijo

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  2. Ui, Andrézito, passaste-te?!

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  3. Pelo contrário.

    Lomba é o exemplo acabado do direitismo, autista e individualista que germinou neste país e que tanto convém a homens como Ulrich, Belmiro e Soares dos Santos.

    Aquilo que eu e os meus amigos designamos de "neo-tontismo" que vive a pensar que o verbo é individual e não colectivo.

    Para Lomba e os seus amigo, o que interessa é fazermos por nós. O resto é andar a "mamar" na teta do Estado.

    Tudo seria certo se não fosse um pequeno problema: há muito (se é que algum dia isso aconteceu) que o Estado secou o leite.

    E, portanto, vir com esta conversa, num momento como este, é como a Jonet dizer que não podemos comer bife do lombo, ou Soares dos Santos que (entretanto deslocalizou a empresa para poder pagar menos impostos) vir dizer que não é com "passeatas" que vamos lá, ou a "Grândolar".

    Lamento, é assim que leio o texto de Lomba (que aliás conheço de outras andanças). Lomba tem uma estrada antes deste texto.
    Sorry about it.

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  4. Não vou defender o Pedro Lomba. Não me compete, nem ele precisa. Não o conheço a não ser primeiro do i e depois do Público. Não concordo com ele dezenas de vezes, mas revejo-me no que ele escreve bastantes vezes também. Mesmo sendo ele de direita e eu, como sabes, de esquerda. Não acho que essa divisão (ideológica?) tenha de incompatibilizar as pessoas. E a tua aversão ou distinção das pessoas pelo lado ideológico em que se posicionam é completamente nova para mim.

    Em qualquer caso, dizeres que ele é nerd ou neo-tonto (?!) não me parece assim lá muito elegante, Andrezinho. Desculpa. E avaliares os textos dele porque dizes conhecê-lo de outras paragens (sem dizeres quais), também não. Eu conheço-o só da paragens dos jornais e chega-me para ter absoluto respeito por ele, mesmo quando discordo dele. Não acho que ele seja aquilo que dizes, nem acho que este texto seja apenas sobre esse "do it yourself" de que falas (já para não falar nas comparações que fizeste). Neste caso concreto, acho mesmo que está coberto de razão.

    Adiante. Vá, beijo grande!
    (Vemo-nos dia 3, não é?)

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