segunda-feira, fevereiro 28, 2011

Sebastian and the elevator*



Marina Simões

domingo, fevereiro 27, 2011

Do you know what hurts most about a broken heart?...

[Olivia Bee]
...Not being able to remember how you felt before.
Try and keep that feelings, because, if it goes... 
you'll never get it back.
You lay waste to the world and everything in it. 

sábado, fevereiro 26, 2011

Henry David Thoreau: Walden, or life in woods


Nunca nenhum homem seguiu o seu engenho até este o defraudar. Embora o resultado fosse a fraqueza física, no entanto talvez ninguém possa dizer que as consequências devessem ser lamentadas, visto essas serem uma vida em conformidade com princípios elevados. Se o dia e a noite são de tal forma que se saúdam com alegria, e a vida irradia uma fragrância que lembra flores e ervas aromáticas, é mais elástica, mais estrelada, mais imortal - é esse o teu sucesso. A natureza inteira é o teu aplauso, e tens uma razão momentânea para te abençoares. Os maiores ganhos e valores estão longe de serem apreciados. Facilmente duvidamos que eles existem. Facilmente os esquecemos. São a realidade mais elevada... A verdadeira colheita da minha vida diária é de alguma forma tão intangível e indescritível como as tonalidades da manhã ou do fim do dia. É um leve pó de estrelas surpreendido, uma porção de arco-íris que agarrei.

The Cure: (1978-2011) 33 anos (I)



All that i have, all that i hold, all that is wrong, all that i feel for or trust in or love, all that is gone. [Bloodflowers, 2000]



Now the sun shines cold, all the sky is grey, the stars are dimmed by clouds and tears, and all i wish is gone away. [Wish, 1992]



I couldn't ever love you more, i couldn't love you more, i couldn't love... you want me to cry and play my part, i want you to sigh and fall apart. We want this like everyone else, stay if you want to, i always wait to hear you say there's a last kiss. [Wish, 1992]

sexta-feira, fevereiro 25, 2011

Contagem decrescente para os concertos da temporada

[Maravilhosamente, Beth Gibbons]

Março
Dia 19: Piano Magic, Spokes (Festival para gente sentada, Feira)

Abril
Dia 19: Best Coast, Lux, em Lisboa
Dia 23: Patrick Watson, Teatro Sá da Bandeira, Porto (21, Coimbra; 25, Lisboa)

Maio
Dia 7: Yann Tiersen, Hard Club, Porto (5, Lisboa)
Dia 18: Mr. Ward, Teatro Sá da Bandeira, Porto (17, Lisboa)
Dia 30: Sufjan Stevens, Coliseu, Porto (31, Lisboa)
Dia 23: National, Coliseu, Porto (24, Lisboa)
Dia 25: PJ Harvey, Aula Magna, Lisboa
Dia 25: Philip Glass: Casa da Música, Porto

Julho
Dia 4: Jamie Cullum (Cooljazzfest, Cascais)
Dia 6: Coldplay, Ana Calvi,  Avi Buffalo (Optimus Alive, Lisboa)
Dia 7: Foo Fighters (Optimus Alive, Lisboa)
Dia 8: Fleet Foxes, Grinderman, Chemical Brothers (Optimus Alive, Lisboa)
Dia 9: White lies, TV on the Radio (Optimus Alive, Lisboa)
Dia 14: Beirute (Meco)
Dia 15: Arcade Fire, Portishead (Meco)
Dia 30: Peter Murphy (Évora)

Para fazer o retrato de um pássaro

[Marc Chagall, Passeggiata]

Pinta primeiro uma gaiola
com a porta aberta
pinta a seguir
qualquer coisa bonita
qualquer coisa simples
qualquer coisa bela
qualquer coisa útil
para o pássaro.
agora encosta a tela a uma árvore
num jardim
num bosque
ou até numa floresta
esconde-te atrás da árvore
sem dizeres nada
sem te mexeres…
às vezes o pássaro não demora
mas pode também levar anos
antes que se decida.
Não deves desanimar
espera
espera anos se for preciso
a rapidez ou a lentidão da chegada
do pássaro não tem qualquer relação
com o acabamento do quadro.
Quando o pássaro chegar
se chegar
mergulha no mais fundo silêncio
espera que o pássaro entre na gaiola
e quando tiver entrado
fecha a porta devagarinho
com o pincel
depois
apaga uma a uma todas as grades
com cuidado não vás tocar nalguma das penas
Faz a seguir o retrato da árvore
escolhendo o mais belo dos ramos
para o pássaro
pinta também o verde da folhagem a frescura do vento
e agora espera que o pássaro se decida a cantar
se o pássaro não cantar
é mau sinal
é sinal que o quadro não presta
mas se cantar é bom sinal
sinal de que podes assinar
então arranca com muito cuidado
uma das penas do pássaro
e escreve o teu nome num canto do quadro.

Jacques Prévert (1900-1977)

quinta-feira, fevereiro 24, 2011

Rui Reininho: "E livrai-nos do mel"


Hoje, no Teatro do Campo Alegre, sessão única e irrepetível do ciclo “Quintas de Leitura”, construída a partir das escolhas poéticas de Rui Reininho. É o regresso, seis anos depois do êxito de “Egocentro”. A sessão, intitulada "E livrai-nos do mel”, é uma viagem alucinante e inesperada através dos universos poéticos de Boris Vian, Jacques Prévert, Diane di Prima, Pier Paulo Pasolini, Carles Riba, misturados com Ary dos Santos, E. M. de Melo e Castro, António Botto e Alexandre O’Neill, entre outros.

Runaway train


Varre o pó das estrelas quando bateres a porta. Cala, afasta o gato. Fecha a janela. Corre a cortina. Tapa a lua. Esconde o céu. Fala baixinho. Faz de conta. Não sorrias para não doer. Sedução hirta. As horas. Inverno inteiro de espera. Apaga o fogo antes de saíres. Dobra o corpo suado como um casaco. Cansado. Acende outro cigarro. Testa o colo. Enche o copo. Queima. É inesperado? Desliga a música, mesmo que seja Chopin. Embrulha o segredo. Alucina. Amortece o medo. Venda os olhos. Usa as mãos. Guarda o abraço no bolso de trás das calças. Recolhe o mel do sono. Amanhece sem nunca ter anoitecido. Cuidado com o que vais escrever. Deixa a câmara a gravar. Não vale chorar. Vale mentir? Rasga o mapa. Anestesia a memória. A pista é a rua. A dança o destino. Depressa. Escorrega no veludo da parede. Não há duas histórias iguais. Nem fadas na mesma paragem. Despe a noite, mas não corras. Quanto tempo falta? Se chover não faz mal. O nó já ninguém solta. Amanhã já ninguém lembra. Não há espaço. Vielas córneas entupidas. Falidas? A beleza não é um posto. Porto de abrigo. Procura debaixo da pele. Ouves o incenso a roer o chão? O odor pode enganar. Outro lanço de escadas. Desce devagar. Estranhos como antes. Londres a 25 euros. Ausentes como sempre. Não digas nada. Não olhes para trás. Táxi!

quarta-feira, fevereiro 23, 2011

José Miguel Gaspar: Ainda estamos muito atrás de Woodstock


Ainda estamos atrás de Woodstock, falta muito ainda para Obama e para aquela noite em que nos sentamos a levitar na relva fria de Chicago, a respirar o novo mundo que ele ia ganhar (e estranhar que no Grant Park - havia tanta gente - houvesse tão pouca coisa para comer).

Vamos atrás, ainda não chegamos às ruas cheias de folhas em frente às casas coloridas dos freaks, secas, vão vivas, voam à nossa volta, as folhas, vai haver mais, mais para cima, Upstate New York, Woodland, Pine Hills, os Fleichmaans, nunca sabemos os nomes das terras de onde vimos (era uma boa ideia, não era?, a nossa memória sempre acessível no Google).

Vamos atrás, a viagem é o viajante, sabe o Sr. Poppe, atrás de Woodstock, vamos por vales inteiros e túneis de árvores douradas, copas com sol, as estradas todas das Catskill Mountains só para nós, parecem estradas de Turner ao fim-da-tarde, andamos perdidos, sempre perdidos, desaparecidos para todos menos para nós. Queremos cruzar a América toda, ver o cinema real todo de perto, New Orleans, o Texas, El Paso, queremos passar a fronteira do México, entrar por baixo da Califórnia, a Baja, e depois ir de costa a costa, por cima, Nevada, Utah, Wyoming, as duas Dakotas, queremos tudo até ao Canadá, para depois descer outra vez para o mundo e para New York.

Mas estamos ainda atrás de Woodstock, eu sei, é a tua Neverland, é a minha Memphis, eu queria os carros do Elvis, estamos atrás, ainda está escuro, está frio, por que raio fomos parar a Newark (mas aqui é New York, disseram eles de lá, são só dez minutos da Pen Station de uma à Pen Station da outra)?! Não, Newark não é New York, Pedrouços não é o Porto. Terra estrangeira, Newark (mal chegamos ouvimos Tony Carreira), estranha, é escura mesmo de dia, há bacalhau e demais portugueses, tem Nossas Senhoras a mais, e nós, que só queríamos fugir daqui, vimos a santa a passar, a pairar, era pobre a procissão, rezada em portunhol, sotaque brasileiro, a estranha estátua branca no meio da escuridão.

Já não estamos aí, estamos ainda atrás de Woodstock, mas chegamos quando quiseres.

terça-feira, fevereiro 22, 2011

Hugo Gonçalves: Romantismo tropical contemporâneo (ou Houellebeqc em português)


Um conto sobre a travessia amorosa e descontrolada da zona sul do Rio de Janeiro. Também serve de guia da cidade para turistas, hedonistas e portugueses em fuga.

Sexta-feira: Praia. Thais não era daquela praia. Thais não pertencia a lugar algum. Thais só disponibilizava a sua atenção - e a boca, o sono, as manobras de ancas - em períodos curtos. Menina moderninha com caprichos de estrela pop. Gostosa e gira para cacete. Mulher planeta que precisa de satélites em seu redor. E eu, com três dias para queimar no Rio de Janeiro e nada a perder, fui todo cortesias quando ela se sentou junto a mim, chamando os nêguinhos das barracas de praia como se estivesse na entourage de D. João VI: "Mais cerveja." E os meninos, como muitos homens diante dela, obedeciam tal e qual lacaios da senhora mais magnífica da corte.

Thais na praia: branca de creme protector, linda como num anúncio da Prada nas glossy magazines, mas entediada com o calor no areal que desfazia os pés; filha de mãe gringa e pai carioca, miúda high fucking maintenance, pronta a abandonar a sobrelotação das areias do Leblon - uma aristocracia de sunga e mamas turbinadas, herdeiros privilegiados do antigo sistema esclavagista com empregados para tudo e mais qualquer coisa, gente geneticamente apurada, nota 10 para a maioria dos corpos malhados no ginásio e abençoados pela sacanagem tropicalista. O Rio vai do erótico ao pornográfico em menos de uma tarde de praia seguida de chopp e cachaça.

Primeiro não foi amor. Foi tesão mesmo.

Ler texto completo aqui: http://www.ionline.pt/conteudo/105689-romantismo-tropical-contemporaneo-conto-hugo-goncalves

Geração Parva?


Aviso à navegação: O Expresso da Meia-Noite (EMN), na Sic Notícias, às 23 horas de sexta-feira, é de longe e sem a mais pequena hesitação o meu programa preferido da televisão portuguesa. Salvo raras excepções, expõe o mais pertinente assunto político-económico nacional da semana; salvo raras excepções, apresenta painéis equilibrados e com informação de valor acrescentado; salvo raras excepções, é moderado pela dupla mais eficiente do meio; sem excepções, é o único território televisivo onde se discute de facto, sem aquela inquinada sombra partidária mais ou menos comum  a todos os programas de debate. Ou seja, é sempre bom mesmo quando é menos bom. Foi o caso da última sexta-feira.

O tema, mesmo se me pareceu vagamente improvável ali, era muito bom - a geração que supostamente se auto-designou parva (ou precária ou subestimada ou Deolinda ou à rasca...). Actual e fervilhante. O painel, caso raro, era desequilibrado, espécie de três contra um (Vicente Jorge Silva, jornalista e autor da expressão "geração rasca?"; António Dornelas, sociólogo; e Pedro Lomba, jurista, contra Tiago Gillot, dos precários inflexíveis). Suscitou logo dificuldade em entender a escolha dos convidados. O tempo, pouco mais de 45 minutos, previsivelmente escasso para o tanto que haveria a dizer. A quantidade inenarrável de afirmações aberrantes ali proferidas é que já era previsível, como se supõe em discussões destas. Finalmente, os moderadores, caso raríssimo, não levavam informação objectiva que servisse de base à discussão. E era imprescindível que o tivessem feito. Era obrigatório.

Ricardo Costa começou logo por esclarecer que tinha convidado os Deolinda, mas que a banda não aceitara. Não aceitou - e bem. Não percebi a relevância do convite.  Os Deolinda são o mensageiro ou amplificador de uma mensagem. Só. Estrearam nos Coliseus, há pouco mais de um mês, a canção "Parva que sou" e a canção, a avaliar pela esmagadora e meteórica vaga de identificação com uma letra que diz "que mundo tão parvo onde para ser escravo é preciso estudar", insuflou a ideia de que alguma coisa vai mal aqui no reino. Mas a canção é o que menos importa. De repente, estar a assistir ao EMN e, ao mesmo tempo, estar a ouvir discutir se o poema é bom ou mau, se a música é melhor ou pior do que outras da banda, fez-me sentir que estava a ter alucinações. Ou que a minha televisão estava a ser boicotada pelos vizinhos.

A canção não importa, mas importa saber por que razão tantos se identificaram com ela (serão todos uns desmiolados?! Uns mentecaptos?!). E importava lançar, logo à cabeça, e até por uma questão de honestidade, meia dúzia de números, que são vastamente conhecidos, ainda por cima. Por exemplo: num país em que existem 609 mil desempregados (os tais 11,1%), 68,5 mil são licenciados (cerca de 40 mil inscritos no centro de emprego). A maioria tem menos de 34 anos, é do sexo feminino e da área das Ciências Sociais. O número cresceu 6,5% em relação ao ano anterior e mais do que dobrou na última década [dados do INE relativos ao último trimestre de 2010]. Depois, sobre a geração quinhenteurista ou mileurista (e muitos referem-se à etiqueta com cinismo, como se fosse mais do que aceitável): os recém licenciados com menos de 25 anos recebem, em média, um salário líquido de 729 euros, menos 8,3% do que há dois anos [Jornal de Negócios]. Estes números, que são aqui da paróquia, são passíveis de extrapolação. A OCDE estima que, já no próximo ano, o desemprego jovem possa atingir os 21% na Europa. Não sei se os jovens deveriam cantar "parva que sou, blá blá, blá", mas... deveriam sorrir?! Mesmo?! Ou serão todos só uns preguiçosos que não querem trabalhar?! Será mesmo?!

Ricardo Costa e Nicolau Santos optaram por não levar qualquer espécie de estatística para a mesa. E, assim sendo, a informação foi desinformação. Larachas de mesa de café. Que sabe sempre bem (a quem aprecia o género), mas a muito pouco. Sobretudo quando não se está na mesa de café. Mas pior do que a desinformação é a caricatura. Essa foi a parte verdadeiramente intolerável. Deplorável.

Vicente Jorge Silva (VJS) é um jornalista que prezo, muito e por mil razões. A principal, claro, por ter inventado uma coisa chamada Público. Apesar disso, ou por isso mesmo, o discurso foi preocupante, de um desapontamento brutal. VJS tem 65 anos, foi co-fundador e director do referido jornal durante uma porrada de anos, o que lhe há-de ter valido, quando saiu, uma confortável indemnização. É actualmente comentador regular da Sic (um salário) e colunista do Sol (dois salários) e, disse, reformado (três salários). VJS, a quem coube a primeira intervenção, afirmou, sem o menor pejo ou sentido do ridículo: "Também eu sou um trabalhador precário". Estava lançada a hipótese de catástrofe no debate. Daquele e de todos os outros (incluindo os que nascem como ervas daninhas nas redes sociais) sobre o assunto. Estava explicado por que razão ninguém quer entender as razões desta gente. É que eu não conheço de lado nenhum o Tiago Gillot, mas aposto que ele não se importaria de ser precário na acepção de VJS. Nem eu.

Estava lançada a hipótese de catástrofe e apanhada a boleia para o que muitos querem fazer passar por conflito geracional. E é aqui que entra Dornelas, o sociólogo, o único que levava números e, por isso mesmo, os usou e bel-prazer da sua opinião: "Vamos lá relativizar, que isto não está assim tão mau", disse. "Em Portugal há um prémio monetário maior para a escolarização do que noutros países." Será por isso que não há um único dia em que não ouçamos dizer que os cérebros deste país estão a emigrar?! Mais de dez mil só para a Suíça só em 2009? 146 mil no início da década?! Era o equivalente a 15%; o Observatório da Emigração diz que já equivale a 20%. Significa um quinto dos licenciados. Será devido a um prémio monetário menor?! Volta Dornelas: "Se eu fizer as contas aos licenciados que não trabalham na sua área, são apenas 17,2%". Ah, bom, apenas! Portanto, esses 17,2% que se lixem. Genial! Ainda por cima, acrescentou, empolgado, "nem sequer começam a vida profissional com uma dívida à banca, como acontece lá fora!"

Ou então que pensem como Pedro Lomba (juro que não parecia o Pedro Lomba das crónicas do i e do Público), que "doseiem as expectativas!", porque "há uma coisa chamada realidade!". Não entendi, mesmo, por que razão Lomba estava ali. Se foi por ter escrito um texto sobre o assunto (e, nesse caso, porque não Rui Tavares, o primeiro?), se por pertencer à geração que se queixa, embora ele não se queixe. Gostava, já agora, que ele tivesse partilhado porque razão se não queixa, que tivesse partilhado o percurso, só assim a título de exemplo. E não, a geração do pai dele, ao contrário do que disse, não tinha que interromper os estudos para ir para a tropa. A geração do pai dele podia escolher, caso estivesse a estudar, completar os estudos antes de cumprir o serviço militar. Ainda assim, numa coisa teve razão. Disse ele: "Não se pensou minimamente no impacto dos cursos que foram autorizados durante anos. Há um problema político que mostra como na raiz deste problema está um conjunto de expectativas completamente desfasadas da realidade, expectativas irrealistas. As pessoas respondem a incentivos e racionalmente funcionam em função das oportunidades, das ofertas, dos direitos e vão querer preservar ao máximo a posição que têm. Para eles é muito difícil conceberem um mundo em que a economia já não suporta isso, em que já não é possível repetir o ciclo de vida dos mais velhos. (...) Na raiz disto está um conflito de expectativas criado por uma política que criou desequilíbrios profundos. E agora é difícil aos governantes corrigirem a situação."

Ora, era precisamente isto que eu tinha expectativa de ver ali discutido. Se não há solução e a culpa é das políticas e dos políticos, às tantas seria melhor cultivar um bocadinho mais de contenção quando se rotula esta geração, quando se diz que não quer trabalhar e que está mal habituada. Tiago Gillot, em desvantagem, limitou-se a constatar o óbvio: que "as qualificações têm menos relação com o tipo de vínculo que já tiveram" (os tais 17,2% ou os tais 729 euros); que a economia rejeita (ou não absorve, corrigiu Ricardo Costa) a qualificação"; e sim, sim, sim, "que há um discurso que se constrói como se a precariedade fosse moeda de troca da exuberância de direitos anteriores".

No meio disto tudo (e é só uma amostra de um debate que não me apetece transcrever, até porque mais-dia-menos-dia haverá de estar disponível no site da Sic), fiquei a pensar, com muito medo, no que quereria Vicente Jorge Silva dizer quando disse que "a preservação da liberdade paga-se com a precariedade"...

segunda-feira, fevereiro 21, 2011

First single




I will sneak myself into your pocket
Invisible, do what you want, do what you want
I will sink and I will disappear
I will slip into the groove and cut me up and cut me up

There's an empty space inside my heart
Where the wings take root
So now I'll set you free
I'll set you free
There's an empty space inside my heart
And it won't take root
Tonight I'll set you free
I'll set you free

Slowly we unfurl
As lotus flowers
And all I want is the moon upon a stick
Dancing around the pit
Just to see what it is
I can't kick the habit
Just to feed your fast ballooning head
Listen to your heart

We will sink and be quiet as mice
While the cat is away and do what we want
Do what we want

There's an empty space inside my heart
And now it won't take root
And now I set you free
I set you free
Because all I want is the moon upon a stick
Just to see what it is
Just to see what gives
Take the lotus flowers into my room

domingo, fevereiro 20, 2011

José Manuel dos Santos


Há meses e meses que adio uma referência a José Manuel dos Santos, até ontem cronista da Actual, do Expresso. Porque gostava mesmo de o ler. Porque escrevia em contra-corrente ou, melhor dizendo, fora da corrente. Escrevia sobre coisas que ninguém escreve num jornal, sobretudo homens. De coisas simples. Parecia que pairava fora do mundo embora tudo aquilo fosse também mundo, e muito do nosso.  Nunca o vi citado em lado nenhum, a ele que sempre citava os melhores escritores, e sempre achei que era apenas pelo medo de a citação poder denunciar a eventual identificação de quem a pudesse citar. Ele expunha-se nas crónicas sem se despir, equilíbrio raro, e exercício raríssimo num mundo em que é muito mais fácil escrever como se nunca nada tivesse também a ver connosco. É muito mais fácil escrever de dedo em riste, sentado em cima do mapa-mundo e depois voltar, sossegado e impermeável, para casa. É sempre mais fácil escrever sobre os outros. 

Como ele próprio escreveu ontem, "quis lembrar que, no mundo, não há só vencedores, pragmáticos, comunicadores, gestores, milionários, famosos, neoliberais, conformistas, contentinhos, poder, ruído, multidões, mais-valias, televisões, best sellers, condomínios fechados. Que há também vencidos, tímidos, desempregados, imigrantes, pobres, vagabundos, mendigos, doidos, poetas, idealistas, rebeldes, doentes, velhos, melancólicos, anarquistas, liberdade, silêncio, solidão, sabedoria, tiragens pequenas, bairros populares."

Tenho pena que a crónica tenha acabado. Tenho pena de nunca o ter mencionado antes. Mas tenho também pena do registo que José Manuel dos Santos usou para se despedir, um registo amargo, a apontar responsabilidades e etiquetas mudas a quem agora o dispensou, um registo tão diferente daquele a que sempre nos habituou. 

"Ciclo de teatro do Porto?", em Lisboa

[João Pedro Vaz, em Breve Sumário da história de Deus]

Escreve Inês Nadais, no Ípsilon: "Quase cinco anos depois do fim do Rivoli tal como o conhecíamos, o teatro do Porto volta a entrar num teatro municipal - mas num teatro municipal de Lisboa. É bem possível que seja o sítio certo para um teatro desesperadamente à procura de palco: no sentido literal, porque a falta de espaços de apresentação é um dos mais desmoralizadores impedimentos com que se debate a produção teatral independente da cidade, mas sobretudo no sentido figurado, porque a esmagadora maioria do teatro que se faz no Porto (o teatro que se faz fora do circuito Teatro Nacional São João - Teatro Carlos Alberto) faz-se no limiar da invisibilidade."

Serve a introdução para apresentar o ciclo "Ciclo de Teatro do Porto?", em Lisboa. Até ao dia 27 de Março (Dia Internacional do Teatro), 16 companhias do Porto (Ensemble, Visões Úteis, Circolando, Boas Raparigas, Assédio...) vão estar em cena no Teatro Municipal S. Luiz, agora dirigido pelo portuense José Luís Ferreira. O programa, no entanto, ainda pertence ao anterior director, Jorge Salavisa. O ciclo é comissariado por João Pedro Vaz, um dos melhores actores do Porto, que explicou ao Ípsilon: "É óbvio que ter de montar uma operação para que o teatro do Porto se veja em Lisboa levanta questões acerca da difusão de espectáculos em Portugal." Carlos Costa, da Visões Úteis, acrescenta: "Sinto-me um bocadinho animal tipo exótico. Como se o teatro do Porto fosse uma coisa vinda das Ilhas Galápagos. Este ciclo é sintoma de uma patologia profunda da circulação dentro do país: são só 300 quilómetros, há aviões, comboios e auto-estradas, e no entanto não se circula." Sobretudo não se circula nos dois sentidos. "Não passaria pela cabeça de ninguém organizar um ciclo de teatro de Lisboa no Porto, até porque os espectáculos de Lisboa ainda vão sendo vistos no Porto."

O trabalho de Inês Nadais sobre o tecido teatral independente na cidade é absolutamente notável. Mas demasiado extenso para o transcrever aqui na íntegra e, infelizmente, não está disponível on-line. Como ela diz, e bem, "nas próximas semana, o teatro do Porto terá um palco, e capas de jornais, e cinco minutos de fama na televisão - e claro, dirá que para ter tudo isto teve de ir a Lisboa."

Rodrigo Affreixo: Que bem se está no Porto!*

[Becas, no Passos manuel, o indestronável melhor bar do Porto]

Viver no Porto é um luxo. É por isso que muitas pessoas de bom senso nunca deixaram de morar aqui. Tem a dimensão ideal: é uma cidade suficientemente grande para nos garantir algum anonimato e suficientemente pequena para nos permitir calcorrear o seu centro a pé. Às vezes é irritante por ser tão pequena, por as pessoas serem sempre as mesmas, circulando pelos sítios tal como nós, por tudo se saber sobre toda a gente... Mas, por outro lado, é tão bom sair sozinho e saber de antemão que se vai encontrar sempre alguém conhecido quando se chega a qualquer lado... Porém, essa sensação de aldeia desaparece quando reparamos, por exemplo, no cosmopolitismo da nossa programação cultural. Estabelecendo uma relação de escala com o número de habitantes, quem dera a cidades de maiores dimensões que o Porto, por essa Europa fora, terem uma tão variada oferta, e de tanta qualidade. Vive-se bem no Porto, do ponto de vista de consumo cultural.

Tive a sorte de ter 20 anos no início dos anos 80, e assisti a tudo desde o início. Aí terá começado uma movida que ainda perdura, mas entretanto as coisas evoluíram mesmo muito. As galerias de arte e os clubes nocturnos, por exemplo, contavam-se pelos dedos. Se queríamos ver filmes fora do circuito comercial, tínhamos de ser sócios de um cineclube. Era tudo muito pouco, mas já a tentar ser muito bom. E era muito criativo e estimulante também: se queríamos ter acesso a algo tínhamos de trabalhar para isso. Alguns bares não eram apenas bares, como o Anikibobó, que foi um autêntico pólo da cultura alternativa da cidade, anos a fio. Nos anos 90, as coisas evoluíram e começaram a crescer. Primeiro com a Fundação de Serralves, depois com o Teatro Nacional São João (TNSJ), depois com o Rivoli - Teatro Municipal (período Isabel Alves Costa), a culminar no Porto 2001 - Capital Europeia da Cultura. Da formação de público às obras de requalificação na cidade, há definitivamente um Porto anterior e um Porto posterior a 2001. A iniciativa deixou-nos, de sobremesa, a Casa da Música (CdM).

Se compararmos o que temos hoje no Porto com o que há em Lisboa, com 300 e tal quilómetros de distância entre as duas cidades, não nos podemos queixar muito, até porque contamos com o trio Serralves/TNSJ/CdM, cuja fasquia de qualidade é única em Portugal. O que é que falta mais? A Cinemateca Portuguesa. É uma das melhores do mundo e está sediada em Lisboa. Paciência, também tem de ficar alguma coisa na capital... Proclama-se muito a criação de uma cinemateca autónoma no Porto. Mas não sei se iria ter público, sinceramente. Hoje em dia, os portuenses não parecem muito interessados em descobrir os clássicos do cinema. Avalie-se o número de espectadores que acorrem a uma sessão de cinema em Serralves, ou no renascido Cineclube do Porto no Passos Manuel, ou na sala-estúdio do Teatro do Campo Alegre, para sondar o potencial da coisa. Mas, se for criada, obviamente será bem vinda.

O que é que o Porto tem mais que Lisboa não tem? Lojas únicas, com coisas importadas que não chegam lá. E uma dinâmica nocturna que não tem comparação. Lisboa tem o Bairro Alto, onde toda a gente está praticamente na rua, à volta de bares improvisados em todo o tipo de pequenos espaços devolutos; e depois tem o superlativo Lux, um excelente clube em qualquer ponto do planeta. E pouco mais. A Norte, o investimento na noite sempre foi maior e mais cuidado. Só agora é que começam a aparecer barzitos sem grande investimento, sobretudo dedicados a vender bebidas em copos de plástico para o lado da rua, aproveitando a onda "botellón" que tomou de assalto a zona Leões/Clérigos. De resto, não faltam pólos dignos de atenção.

Além do renovado Hard Club, que apesar de uma programação um pouco "démodée" é um excelente novo ponto de encontro para os apreciadores do rock, o espaço multifunções Passos Manuel também tem sido um laboratório permanente para várias áreas e camadas sucessivas de novas gerações, do rock mais alternativo à electrónica, do cinema ao teatro, com o Becas a prosseguir a aventura programática iniciada no Anikibobó. Neste registo multifunções, outros sítios têm aberto no Porto nos últimos anos, como o Maus Hábitos, o Plano B, o Armazém do Chá ou o Café au Lait. Neste momento, o Porto tem quatro bons clubes nocturnos, com uma fervilhante programação a nível de DJ's: o Gare, o Pitch, o Trintaeum e o renovado Indústria. Noutros sítios, como o Café Lusitano e o Zoom, libertaram a noite gay dos seus locais semi-clandestinos para lhe dar dignidade e sofisticação, a par de mais espaço, em ambientes abertos a outro tipo de clientes.

O regresso à Baixa como centro de lazer foi a melhor coisa que podia ter acontecido à cidade, tornando-a mais cosmopolita e habitada. É bom andar a pé na Baixa à noite e cruzarmo-nos com outras pessoas, e ver sítios abertos, e jovens alegres, pela noite fora. E de dia também. Novas lojas, novos conceitos, esplanadas com gente, bares cheios ao fim da tarde.

Neste momento, é bom viver no Porto. Está uma cidade gira e animada. Os Erasmus e os voos low-cost estrangeiraram-na e rejuvenesceram-na. Convém é não esquecer que toda esta animação se deve sobretudo à iniciativa privada, por parte da cidadania que não baixa os braços e arrisca. Vendo bem a coisa, não houve assim tanta diferença no processo, desde os anos 80: ainda há quem se organize e se mexa para que as coisas apareçam feitas. De resto, há fundações e organismos estatais que fazem o melhor que podem, e bem, enquanto uma das poucas iniciativas de Rui Rio como autarca, na área da cultura, foi ceder de mão beijada o Rivoli a Filipe La Féria para que este aí montasse os seus musicais da Broadway, anos a fio. Curiosamente, o encenador desapareceu do Porto há já uns meses e ainda ninguém apurou bem porquê. É que nem isto funcionou! E lá continua o Teatro Municipal vazio. Muito mais vazio do que quando lá tinha a lotação esgotada para as prestações de algumas das maiores companhias de dança do mundo. Na tal época em que, segundo as palavras do esclarecido presidente da câmara, "não tinham público porque os espectáculos eram maus". Mas não faz mal: hoje em dia, felizmente, vive-se bem no Porto, e do ponto de vista de consumo cultural talvez já nem precisemos assim tanto do Rivoli.

* Rodrigo Affreixo, jornalista e editor da secção "Palco" da Time Out Porto, no Ípsilon de 18 de Fevereiro.

sábado, fevereiro 19, 2011

No strings attached by Ivan Reitman* (***)



“If you miss me, you can’t text, you can’t email, you can’t post it on my Facebook wall. If you really miss me, you come and see me.”

Comédias românticas como aspirinas... com um plus, é a primeira vez de Natalie Portman.
*Pai do Jason Reitman, que fez o Juno e o Up in the air

Anna Akhmátova: Só o sangue cheira a sangue

 
Há dentro de mim uma lembrança,
pedra branca no fundo de um poço,
já não posso, já não quero lutar:
ela é sofrimento, alegre alvoroço.

Acredito: quem olhe bem de perto
nos meus olhos a possa vislumbrar.
E cisme mais triste do que ouvindo
uma história de saudade e pesar.

Diz-se que os deuses mudavam os homens
em coisas, sem matar-lhes a consciência,
para que vivesse a maravilhosa
tristeza. E ficaste-me lembrança.

Anna Akhmátova, "Anna de todas as Rússias"
[1889-1966]

Halldór Laxness: Gente independente


"Foi a primeira vez que a sua alma foi encantada pela sedução de uma obra literária, que nos mostra a condição humana de modo tão real e com tanta compaixão e com tanto amor pelo bem, que nós próprios nos tornamos melhores pessoas e, compreendemos a vida melhor do que antes, e almejamos e esperamos que o bom possa sempre prevalecer na vida dos homens. (...) É como se o seu nervo vital estivesse a descoberto, como se todo o corpo fosse uma só alma contínua, que não aguenta o mal, a expectativa é o que salva uma alma destas, nunca a verdadeira felicidade. (...) E isto é na verdade a essência da felicidade: poder esperar ansioso pelo dia de amanhã.

(...) E no entanto não encontrou a felicidade com que tinha sonhado, nem a paz que tanto desejara, e ela compreendeu-o, ela amava-o precisamente por essa razão, pois não tinha encontrado a felicidade nem a paz, e lá no fundo, muito no fundo, amava-o por ele ter fugido. (...) Não eram os heróis nem os sacrifícios e nem tão pouco as virtudes que ela mais amava, mas a poesia que fala dos sonhos que ou se realizavam mas em vão ou não se realizavam de todo, da felicidade que chegou como uma visita ou de como nunca chegou a vir. Viu e compreendeu este homem, não de uma maneira realista, mas à sua maneira, nas cores da paleta da poesia, com bosques como pano de fundo, e penetrado pela torrente rugidora do rio mais fundo e mais potente de todo o mundo."

***
O socialismo consiste em encher as pessoas sem abrigo de promessas intermináveis, que nunca terão nenhumas hipóteses de serem cumpridas até que a humanidade atinja o grau de maturidade dos deuses; mas na realidade essa ideologia não simboliza mais do que rapinas e assassinatos. (...) Ser pobre é exactamente aquele peculiar estado do homem de não poder desfrutar das condições excepcionais. Ser um agricultor pobre consiste em nunca poder tirar proveito das vantagens que os políticos oferecem ou prometem, e estar à mercê dos ideias que apenas fazem os ricos mais ricos e os pobres mais pobres. (...) O homem não é criminoso o bastante para saber viver dentro deste sistema social. As pessoas não são suficientemente sacanas ou maliciosas para este sistema social, quero dizer, o povo. Essa é que é essa.

sexta-feira, fevereiro 18, 2011

Henry Miller: O sorriso ao pé das escadas


Prefácio: Quem já não sentiu o medo de viver a alegria do presente e entender esse estado de espírito com a angústia do prenúncio da tristeza que vem a seguir, como se houvesse um fiel da balança para equilibrar os pratos da tristeza e da alegria, do sofrimento e da felicidade, e como se não fosse possível viver arrastadamente uma só? (António Marques Leal)

Sermos nós próprios, unicamente nós próprios, é algo de extraordinário. mas como chegar a isso, como alcançá-lo? Ah!, eis o truque mais difícil de todos. (...) Bem pequena a compreensão de qualquer um quando o destino estava em jogo! Ser palhaço era ser um peão no xadrez do destino. Na pista, a vida não passa de um mundo de espectáculo, feito de cambalhotas, bolachadas, pontapés - um nunca acabar de fintas e contra-ataques. E era através deste meio, desta vergonhosa folia que uma pessoa conquistava os favores do público! O idolatrado palhaço! O bem-amado palhaço cujo privilégio especial consistia em reviver os erros, as loucuras, as idiotices, todas as incompreensões que angustiam a espécie humana! Ser a própria inépcia era algo que mesmo o mais imbecil dos imbecis poderia apreender. Não compreender as coisas, quando tudo é tão claro como a luz do dia; não dar pelo truque, embora repetido milhares de vezes; tactear como um cego, quando todos os sinais indicam a direcção exacta; insistir em passar pela porta errada, apesar do aviso de Perigo!,; avançar para dentro do espelho em vez de contorná-lo; espreitar pelo lado errado de uma carabina, de uma carabina carregada! - nunca as pessoas se cansam destas coisas absurdas, pois há milénios que os seres humanos se enganam no caminho, há milénios que todas as suas buscas e interrogações desaguam num beco sem saída. O mestre da inépcia tem como domínio o tempo inteiro. Acontece que só se dá por vencido perante a eternidade...

Epílogo: Em nenhuma outra época da história da humanidade esteve o mundo tão repleto de sofrimento e de angústia. Mas apesar disso, aqui e além, deparamos com indivíduos que não estão contagiados, tingidos pela dor comum. Não são criaturas sem coração, longe disso! São indivíduos independentes e livres. Para eles, o mundo não é o que a nós parece. Vêem-no estranhamente com outros olhos. Ousamos dizer deles, que morreram para o mundo. Vivem, no momento que passa, com toda a plenitude, e a radiação que deles emana é um eterno hino de alegria. (...) Como o palhaço, vamos fazendo as nossas piruetas, aparentando sempre, adiando sempre o grande acontecimento. Morremos a lutar para nascer, pois nunca fomos e nunca somos. Estamos sempre na relatividade de vir a ser, separados, desligados sempre. Sempre do lado de fora da vida. 

Joan Miró

[Cão ladrando à lua, 1926]

quinta-feira, fevereiro 17, 2011

Fogo fátuo


Dias despenteados. Muito vento, nenhuma ponte. Pontuais fantasmas. E chuva, chuva, chuva. Tempo do avesso. Avariado. Um trovão rasga o céu, acende uma luz, desvenda os destroços. Não olho, tenho o olhar pendurado noutro horizonte. E asas. Posso voar em direcção ao sol. Escalar sonhos como montanhas, descer quando quiser. Boicotar a realidade, a ausência, a abstinência. Preencher o vazio com flores de papel. Fechar a dor numa cela e interrogá-la. Extorquir-lhe a esperança em vez da confissão. Não existem cadáveres onde antes existiu amor; existem memórias. É tão difícil saber o dia em que começa o passado. 

quarta-feira, fevereiro 16, 2011

100.000

[No Alentejo, em 2007, a encerrar o blogue num café]

Seis anos depois, o Coriscos atingiu os cem mil visitantes, fluxo médio mensal de um blogue a sério. E mesmo assim, ironia, a esmagadora maioria veio por engano. Uma aplicação recente da blogosfera mostra, através das palavras mais procuradas, que apenas um décimo dos que entraram aqui queriam realmente entrar aqui. O texto mais lido foi "À procura de um sonho", 4555 visitas. Explicação: foi linkado numa popular página do Facebook. Nesse mês, o Coriscos atingiu o seu máximo histórico. É mesmo curioso perceber isto... 

Obrigada a quem cá vem tomar café. 

Surveillance by Jennifer Lynch (****)



Tal pai...

terça-feira, fevereiro 15, 2011

"Imóvel e em parte alguma": João Barrento & Carlos Moura

[Carlos Moura, Tão precioso como o medo, 1998]

"I come to you up a ramp of firey butterflies which feed upon us and transform me into a most profound child. The arrogant chill dissipates in the rush of warm air from your mouth My diffused wound and the harness held tight on my blind, skinless organs. The sweet fall within the fall. A distinct idea buring at two ends. We struggle passionately together. In open unsheltered places and now, i feel her most secret coral flower and gently touch her wet slopes, labourer of love on my knees resting from my passion.

(...) Im am this spill which is my only moment. Desire, immovable and nowhere.

My missing you is also a tough collection of abodes, steps and pauses. Imminence is scrupulous, exhausting work. I erase and write down what i feel, distracted, unknowing. Something that is quite normal and does not come by way os text but is a kind of corridor to transgression.

At times, we are perfection that has ceased and flung us out of the world. 

The romantics by Galt Niederhoffer (**)



Mau como só os filmes maus sabem ser. E, no entanto, devia vender-se na farmácia. Como todas as comédias românticas. 

segunda-feira, fevereiro 14, 2011

Clarice Lispector: Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres


"E então tu não quiseste mais nada. E paraste com a possibilidade da dor, o que nunca se faz impunemente. Paraste apenas e nada encontraste além disso. Eu não digo que tenha muito, mas tenho ainda a procura intensa e uma esperança violenta. Não essa tua voz baixa e doce. E eu não choro, se for preciso um dia grito. Estou em plena luta e muito mais perto do que se chama de pobre vitória humana do que tu, mas é vitória. Eu já poderia ter-te com o meu corpo e a minha alma. Esperarei nem que sejam anos até que também tu tenhas corpo-alma para amar. Nós ainda somos novos, podemos perder algum tempo sem perder a vida inteira. Mas olha para todos ao teu redor e vê o que temos feito de nós e a isso considerado a vitória nossa de cada dia. Não temos amado acima de todas as coisas. Não temos aceitado o que não se entende porque não queremos passar por tolos. Temos amontoado coisas e seguranças por não nos termos um ao outro. Não temos nenhuma alegria que não tenha sido já catalogada. Temos construído catedrais e ficado do lado de fora, pois as catedrais que nós mesmo construímos, tememos que sejam armadilhadas. Não nos temos entregue a nós mesmos, pois isso seria o começo de uma vida larga e nós a tememos. Temos evitado cair de joelhos diante do primeiro de nós que por amor diga: tens medo. Temos organizado associações e clubes sorridentes onde se serve com ou sem soda. Temos procurado salvar-nos, mas sem usar a palavra salvação para não nos envergonharmos de sermos inocentes. Não temos usado a palavra amor para não termos de reconhecer o seu contexto de ódio, de amor, de ciúme e de tantos outros contraditórios. Temos mantido em segredo a nossa morte para tornar a nossa vida possível. Muitos de nós fazem arte por não saber como é a outra coisa. Temos disfarçado com falso amor a nossa indiferença, sabendo que a nossa indiferença é angústia disfarçada. Temos disfarçado com o pequeno medo o medo maior e por isso nunca falamos do que realmente importa. Falar do que realmente importa é considerado uma gafe. Não temos adorado por termos a sensata mesquinhez de nos lembrarmos a tempo dos falsos deuses. Não temos sido puros e ingénuos para não rirmos de nós mesmos e para que no fim do dia possamos dizer "pelo menos não fui tolo" e assim não ficarmos perplexos antes de apagar a luz. Temos sorrido em público do que não sorriríamos quando ficássemos sozinhos. Temos chamado fraqueza à nossa candura. Temo-nos temido um ao outro, acima de tudo. E a tudo isso chamamos a vitória nossa de cada dia."

[Eduardo Prado Coelho: "Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres é uma história de amor que reúne para sempre Loreley e Ulisses, duas personagens míticas, o homem e a mulher. Ulisses, professor e cosmopolita, vai iniciar Loreley ao amor, vai guiá-la na aprendizagem. Este amor requer que o mundo organizado e quotidiano de cada um vacile, que a representação social e comum que cada ser constrói para si próprio e para os outros se desmorone. Representação social que muitas vezes lhe devolve uma falsa identidade e a partir da qual percepciona o mundo. Tudo isto vai ruir, e aos poucos cresce um amor infinito porque é infinitamente renovável aquilo que o alimenta: a capacidade de ambos ficarem apenas sendo, atentos aos fulgores simples e intensos do universo."]

Encontrámos este livro na prateleira quando procurávamos outros livros. Nunca tínhamos lido Clarice Lispector, antes de tudo por ser brasileira (ainda que nascida na Ucrânia) - e nós odiamos ler em brasileiro -, embora tivéssemos alguma, muita, cada vez mais curiosidade sobre ela. Começámos a folhear o livro ao calha, depois voltámos atrás e recomeçámos a ler, ainda sentados no chão diante da prateleira. Quando demos por nós, tínhamos as pernas dormentes e o livro lido. Entendemos, finalmente, o mito Lispector. 

domingo, fevereiro 13, 2011

Às vezes, a ignorância é uma benção

Adeus


Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.
Meto as mãos nas algibeiras
e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro!
Era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
e eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
no tempo em que o teu corpo era um aquário,
no tempo em que os meus olhos
eram peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...,
já se não passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus.

[Eugénio de Andrade, Poemas 1945-1965]

The King's Speech by Tom Hooper (****)

sábado, fevereiro 12, 2011

Conviction by Toni Goldwin (****)




Hugo Gonçalves, no i, há uns meses, e a crónica responsável por ter procurado este filme:
Manual de auto-ajuda

 
É segunda-feira e na rádio, nos jornais, nas televisões, na mercearia onde se compra o pão fala-se da crise, essa praga tão assustadora e peganhenta como sangue coagulado num pedaço de algodão. Melhor seria ficar na cama, não ir, usar o edredon como líquido amniótico e dormir até que tudo passe. Mas depois descubro, por acaso, que Keneth Waters esteve preso 18 anos acusado de matar um vizinho. E fico a saber que a irmã, Betty, empregada de bar, começou a estudar Direito após a tentativa de suicídio de Keneth na prisão.

Durante quase duas décadas Betty tornou-se advogada, criou dois filhos – estudava, nas bancadas, durante os jogos dos miúdos –, passou por um divórcio, ouviu todas as testemunhas do julgamento e encontrou amostras de ADN perdidas durante o processo. Em 2001 provou a inocência do irmão. Seis meses depois Keneth caiu de um muro, perto de casa, e bateu com a cabeça. Morreu.

Betty tem 56 anos, é gerente do bar onde foi empregada e voluntária numa associação que ajuda presos falsamente acusados. Não continuou com a carreira de advogada. Não parece amarga, destruída, revoltada. Disse: “Só quero ser avó”. Na semana passada estreou “Conviction”, sobre Betty e Keneth. O realizador, Tony Goldwin, disse: “Sempre que me ia abaixo durante o filme, pensava na determinação de Betty.” Nas noites de domingo irei agora colar um post-it na mesa de cabeceira. Quando o despertador tocar, impiedoso como a crise nas manhãs de segunda-feira, vou ler o que escrevi: “Betty e Keneth”. E isso deve chegar para, de imediato, saltar da cama e me fazer à vida.      

sexta-feira, fevereiro 11, 2011

Egipto Livre

[Khaled Desouki]

80 milhões de habitantes
14 milhões concentrados na praça Tahrir
30 anos de ditadura
18 dias de revolta
297 mortos

Bolaño para coleccionadores


"O Terceiro Reich", reinterpretação da Segunda Guerra Mundial escrita pelo chileno Roberto Bolaño, foi publicado em Portugal no ano passado, pela Quetzal, numa edição particularmente feia, como é timbre da maioria das editoras portuguesas. Este mês, a Paris Review apresenta o mesmo livro, mas com ilustrações originais do novelista gráfico canadiano Leanne Shapton. É uma edição inédita, para coleccionadores.

quinta-feira, fevereiro 10, 2011

61ª edição do Festival de Berlim


Começa hoje a 61ª edição do Festival Internacional de Cinema de Berlim: 22 filmes na competição oficial, seis em extra-concurso, duas exibições especiais. Em solidariedade com o realizador iraniano Jafar Panahi, condenado no seu país a seis anos de prisão por causa de um filme que ainda nem tinha acabado de rodar, será exibido amanhã, dia da Revolução Iraniana, a sua obra "Offside". Panahi, que tinha sido convidado para integrar o júri do festival, presidido por Isabella Rossellini,  irá ter simbolicamente uma cadeira vazia à sua espera. Na outra sessão especial, será apresentado em formato 3D, no Berlinale Palast, na Potsdamer Platz, o filme "Cave Forgotten Dreams", do realizador alemão Werner Herzog. Também em 3D, será exibido extra-concurso o filme "Pina" de Wim Wenders, uma homenagem à coreógrafa alemã Pina Bausch.


Filmes da competição oficial:
- "A Torinói Ló" (The Turin Horse), de Béla Tarr (Hungria)
- "El Premio", de Paula Markovitch (México)
- "Jodaeiye nader az Simin" (Nader and Simin, A Separation), de Asghar Farhadi (Irão)
- "Les Contes de la Nuit", de Michael Ocelot (França)
- "Margin Call", de JC Chandor (EUA)
- "Saraghanda, Saranghaji Anneunda" (Vem Chuva, vem Sol), de Lee Yoon-ki (República da Coreia)
- "Schlafkrankheit" (Sleeping Sickness), de Ulrich Köhler (Alemanha)
- "The Forgiveness of Blood", de Joshua Marston (EUA)
- "Um Mundo Misterioso", de Rodrigo Moreno (Argentina)
- "V Subbotu" (A Um Sábado), de Alexander Mindadze (Rússia)
- "Bizim Bijyiik Caresizligimiz" (Our Grand Despair), de Seyfi Teoman (Turquia)
- "Coriulanus", de Ralph Fiennes (Grã-Bretanha)
- "Oden", de Jonathan Sagall (Canadá)
- "The Future", de Miranda July (EUA)
- "Wer wenn nicht wir" (If Not Us, Who), de Andres Veiel (Alemanha)
- "Yelling To The Sky", de Victoria Mahoney (EUA)

Exibições especiais:
- "Cave Of Forgotten Dreams", de Werner Herzog (Alemanha)
- "Offside", de Jafar Panahi (Irão)

Extra-concurso:
- "Almania/Willkommen in Deutschland", de Yasemin Samdereli (Turquia)
- "Les Femmes du 6ème Etage", de Philippe Le Guay (França)
- "Mein bester Feind" (My best enemy) de Wolfgang Murnberger (Áustria)
- "Unknow", de Jaume Collet-Serra (Espanha)
- "Pina", de Wim Wenders (Alemanha)
- "True Grit", de Joel e Ethan Coen (EUA)

terça-feira, fevereiro 08, 2011

segunda-feira, fevereiro 07, 2011

The night will be black by Astrid Takche de Toledo



A performance chama-se “the night will be black”. A criadora e intérprete é Astrid Takche de Toledo. O género é a dança contemporânea e a sua génese encontra-se numa realidade para a qual muitos olham, mas que poucos vêem. Através da fotografia, Astrid começou a documentar situações quotidianas da população de rua do Rio de Janeiro. E percebeu que, na maior parte do tempo, estas pessoas estavam deitadas, a dormir ou dopadas e que, por vezes, demonstravam grande dificuldade em ficar de pé e serem autónomas em relação aos seus corpos e acções.

Em 2009, a pesquisa que culminou em “The night will be black” começou com base nessas imagens. Outro elemento central neste projecto a solo é a t-shirt. Devido à insistência com que esta peça se apresentava nas imagens recolhidas, Astrid não pode deixar de a incluir quase como cenário onde todo o trabalho acontece. "A cor branca remete-me um pouco para a ideia da assepsia, cor de fralda, remete ao infantil e ao mesmo tempo à loucura, ao hospitalar, crianças em camisas de força, para conter a violência e ao mesmo tempo acalentar o sono", explica.

Theatro Circo, Braga
11 de Fevereiro, Sexta-feira, 21h30


"That autumn is prime time"


Craig Thompson já anunciou a data oficial de chegada ao mercado de Habibi, será na véspera de completar 36 anos, a 20 de Setembro deste ano: "The book will be $29.95, 672 pages, clothbound hardcover with stamped gold foil, and look something like the mock-up above. On the right are a handful of cover ideas that didn’t make the cut. Sounds like forever, I know, but fellow authors assure me this is how the book world operates, and that autumn is prime time... I’m simply happy the debut lands one day before my 36th birthday.... The final countdown!"

domingo, fevereiro 06, 2011

sábado, fevereiro 05, 2011

Vidrar Vel Til Loftarasa



Deslizo para a frente através da minha mente,
penso metade do tempo ao contrário
Vejo-me a cantar
a canção que escrevemos juntos.
Tivemos um sonho, tivemos tudo,
Fomos até ao fim do mundo,
fomos à procura...
Subimos arranha-céus
que depois explodiram,
já não havia paz.
Perdi o balanço e caí para trás.
Deslizo para a frente através da minha mente,
volto sempre ao mesmo sítio.
Silêncio sem resposta.
A melhor coisa que Deus criou é
 haver todos os dias um novo dia.

sexta-feira, fevereiro 04, 2011

quinta-feira, fevereiro 03, 2011

quarta-feira, fevereiro 02, 2011

Teatro Plástico: "Beckett: O Quê – Onde"


Com "Beckett: O Quê – Onde" o Teatro Plástico dá continuidade ao ciclo de trabalho que tem vindo a dedicar a este dramaturgo contemporâneo, e que teve início com o ciclo de três espectáculos dedicados a ”Eu Não” e a encenação, também no Teatro Helena Sá e Costa, de “Catástrofe”. Este espectáculo, construido a partir de textos de diferentes géneros e fases, pretende abordar o universo beckettiano na sua múltipla dimensão teatral, poética e audiovisual e enquanto território físico e mental que marcou todas as áreas da cultura contemporânea e permanece fundamental para definirmos a nossa noção de realidade e humanidade.

Habitado por opressores e oprimidos; vagabundos e miseráveis; cegos e paralíticos; dementes e alienados; o desolado mundo de Beckett alberga uma impressionante galeria de seres diminuídos e incompletos, criaturas que, no seu desesperado limite tragicómico e ausência de saída, espelham a fragilidade e absurda falta de sentido da existência humana mas também a nossa misteriosa resistência e persistência em continuar. Condenados à repetição da espera e progressivamente reduzidos nas suas capacidades expressivas até à condição última de espectros, estes seres falantes, lançados no vazio da existência tal como o Homem num remoto planeta na periferia da imensidão do universo, devolvem-nos o essencial do projecto humano e a eterna luta da Humanidade para dar sentido e sobreviver num meio hostil e absurdo.

Mas este universo sombrio e ameaçador é, paradoxalmente, habitado pelo mais extraordinário e feroz riso do teatro contemporâneo e, na ilustre tradição dos grandes humoristas Irlandeses, o genial talento cómico de Beckett permite-nos um dos poucos prazeres que resta à humanidade para preencher a dor da existencia e o vazio da espera: rir. Rir desalmada e perdidamente de tudo o que nos atormenta, diminui e intimida - sobretudo da morte.

Autor: Samuel Beckett; Direcção artística: Francisco Alves; Intérpretes: Mário Santos, André Amálio, Viriato Morais, Eurico Santos - Voz off: António Durães; Luz: Mário Bessa; Som: José Prata; Vídeo: Tiago Afonso; Fotografia: Inês d’Orey; Design: Tiago Morgado; Assistência de encenação: Juliana Alexandria; Produção executiva: Carolina Losa; Produção: Teatro Plástico

De 5 a 13 de Fevereiro 2011, 21h30
Teatro Helena Sá e Costa, Porto

terça-feira, fevereiro 01, 2011

Jonathan Safran Foer: Extremely loud and incredibly close (VI)


"We slept in the same bed. 
There was never a right time to say it. 
It was always unnecessary. 
The books in my father's shed were sighing. 
The sheets were rising and falling around me with Anna's breathing. 
I thought about waking her. 
but it was unnecessary. 
There would be other nights. 
And how can you say I love you to someone you love? 
I rolled onto my side and fell asleep next to her. 
Here is the point of everything I have been trying to tell you... 
It's always necessary. 
I love you..."