sábado, fevereiro 19, 2011

Halldór Laxness: Gente independente


"Foi a primeira vez que a sua alma foi encantada pela sedução de uma obra literária, que nos mostra a condição humana de modo tão real e com tanta compaixão e com tanto amor pelo bem, que nós próprios nos tornamos melhores pessoas e, compreendemos a vida melhor do que antes, e almejamos e esperamos que o bom possa sempre prevalecer na vida dos homens. (...) É como se o seu nervo vital estivesse a descoberto, como se todo o corpo fosse uma só alma contínua, que não aguenta o mal, a expectativa é o que salva uma alma destas, nunca a verdadeira felicidade. (...) E isto é na verdade a essência da felicidade: poder esperar ansioso pelo dia de amanhã.

(...) E no entanto não encontrou a felicidade com que tinha sonhado, nem a paz que tanto desejara, e ela compreendeu-o, ela amava-o precisamente por essa razão, pois não tinha encontrado a felicidade nem a paz, e lá no fundo, muito no fundo, amava-o por ele ter fugido. (...) Não eram os heróis nem os sacrifícios e nem tão pouco as virtudes que ela mais amava, mas a poesia que fala dos sonhos que ou se realizavam mas em vão ou não se realizavam de todo, da felicidade que chegou como uma visita ou de como nunca chegou a vir. Viu e compreendeu este homem, não de uma maneira realista, mas à sua maneira, nas cores da paleta da poesia, com bosques como pano de fundo, e penetrado pela torrente rugidora do rio mais fundo e mais potente de todo o mundo."

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O socialismo consiste em encher as pessoas sem abrigo de promessas intermináveis, que nunca terão nenhumas hipóteses de serem cumpridas até que a humanidade atinja o grau de maturidade dos deuses; mas na realidade essa ideologia não simboliza mais do que rapinas e assassinatos. (...) Ser pobre é exactamente aquele peculiar estado do homem de não poder desfrutar das condições excepcionais. Ser um agricultor pobre consiste em nunca poder tirar proveito das vantagens que os políticos oferecem ou prometem, e estar à mercê dos ideias que apenas fazem os ricos mais ricos e os pobres mais pobres. (...) O homem não é criminoso o bastante para saber viver dentro deste sistema social. As pessoas não são suficientemente sacanas ou maliciosas para este sistema social, quero dizer, o povo. Essa é que é essa.

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