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terça-feira, março 29, 2016

Hoje é tarde *


Tenho tantas coisas para dizer
e não quero afogá-las no vinho
amanhã vou-me esquecer
devia ser agora que andam aqui
as gaivotas que cheiram
a mar e a telhas velhas

eu cheiro à noite de ontem
mas devia cheirar a hoje
devia ser agora que eu
devia cheirar a hoje
amanhã se calhar
nem cheiro
nem como
nem ando
devia ser hoje
que andam aqui os bêbados
que cheiram a futuro
toda a gente sabe que o futuro
é dos bêbados
os únicos que aguentam
não cheirarem a hoje
não dizerem hoje

já ninguém é quando quer
é quando pode
e quando se pode já não se é
porque não foi hoje
e é sempre tarde
a noite é tarde
o dia é tarde
eu sou tarde
tu chegaste tarde

Cláudia R. Sampaio 

terça-feira, março 24, 2015

Herberto Helder (1930-2015)


"Os animais podem ser humilhados ou destruídos. Há uma espécie de dignidade por falta de recursos morais, há uma inteireza fundada no mundo natural. Por meio de consciência, o homem alcança o poder ou a vulnerabilidade que o destrói. Escolhe-se a força ou a destruição própria, através da inspiração passada às provas, na enigmática malha da vida, opondo as astúcias do talento a cada repto de coisas. É o génio íntimo de cada um. Génio que não dá paz, que se contenta de si, e se alimenta no seu mesmo exercício. O poder é o poder, mais nada.

Um bicho, depois de fugir do pânico, assenta as patas na terra e avança inteiro, com os cornos baixos, ele todo projectado na violência da cabeça. Passa ou não passa. Passa ou morre. A morte é o seu abismo. Não pede perdão. Porque a inteireza animal é cega, limpa como a luz. Então, no largo onde o touro lutara com os homens, encontram-se agora os dois homens, um diante do outro, a cinquenta passos de distância, com a carga da consciência pessoal, o poder e a vulnerabilidade.

O rosto do homem que ressuscitou é agora um rosto fixo e acerbo, o rosto de um homem que morreu e, cerrado, se pôs lentamente a ressuscitar. E o outro estremece, porque de súbito encontrou a sua própria vulnerabilidade. O homem avança como se o seu corpo nem sequer se movesse, e quando chega perto nada resta ao outro senão deixar que a sua vulnerabilidade o torne inteiramente sensível, tome conta dele, alastre como a lepra, e ele fique vulnerável de uma ponta à outra. Então cai de joelhos e diz: - Perdão!
O homem murmura algumas palavras que apenas os dois podem perceber, mutuamente fascinados, o poder e a vulnerabilidade frente a frente. Diz: - Vou matar-te. O rosto é o mesmo - tenso e triste; e os olhos, extraordinariamente límpidos, assim: frios, vazios. Então grandes lágrimas sobem aos olhos do outro, e escorregam-lhe pela cara. Está imóvel, caído de joelhos, com as mãos no chão, e pela cara soerguida escorrem lágrimas. Repete: - Perdão! E o homem, que parece nem olhá-lo, que olha para dentro, sussurra ainda com a mesma tenebrosa cumplicidade: - Perdoo-te se disseres…

A cabeça do outro está exposta - nua e frágil - à luz muito alta. A luz corta-a. - Se disseres: tu tiraste-me a vida e tornaste a dar-me vida. E a luz parece agora fluir e refluir naquele rosto entregue, parece fazer nele um nó doloroso, e a boca diz: - Tu tiraste-me a vida e tornaste a dar-me vida.

O homem sorri de leve, como se tivesse ouvido uma frase infantil, e o seu espírito violento e irónico não pudesse captar toda a graça de uma frase tão inocente. Como se o poder se houvesse esgotado no poder, e o homem estivesse agora longe, de novo só, de novo isento e fundo, no lado de lá. O outro cai para diante, com a cara na poeira, e fica a tremer e a soluçar debaixo da luz esplêndida, cada vez mais alta."
Herberto Helder, Os passos em volta

terça-feira, março 03, 2015

Ruy Belo: Transporte no tempo



Acabo de inventar um novo advérbio: helenamente
A maneira mais triste de se estar contente
a de estar mais sozinho em meio de mais gente
de mais tarde saber alguma coisa antecipadamente
Emotiva atitude de quem age friamente
inalterável forma de se ser sempre diferente
maneira mais complexa de viver mais simplesmente
de ser-se o mesmo sempre e ser surpreendente
de estar num sítio tanto mais se mais ausente
e mais ausente estar se mais presente
de mais perto se estar se mais distante
de sentir mais o frio em tempo quente
O modo mais saudável de se estar doente
de se ser verdadeiro e revelar-se que se mente
de mentir muito verdadeiramente
de dizer a verdade falsamente
de se mostrar profundo superficialmente
de ser-se o mais real sendo aparente
de menos agredir mais agressivamente
de ser-se singular se mais corrente
e mais contraditório quanto mais coerente
A via enviesada para ir-se em frente
a treda actuação de quem actua lealmente
e é tão impassível como comovente
O modo mais precário de ser mais permanente
de tentar tanto mais quanto menos se tente
de ser pacífico e ao mesmo tempo combatente
de estar mais no passado se mais no presente
de não se ter ninguém e ter em cada homem um parente
de ser tão insensível como quem mais sente
de melhor se curvar se altivamente
de perder a cabeça mas serenamente
de tudo perdoar e todos justiçar dente por dente
de tanto desistir e de ser tão constante
de articular melhor sendo menos fluente
e fazer maior mal quando se está mais inocente
É sob aspecto frágil revelar-se resistente
E para interessar-se ser indiferente
Quando helena recusa é que consente
se tão pouco perdoa é por ser indulgente
baixa os olhos se quer ser insolente
Ninguém é tão inconscientemente consciente
tão inconsequentemente consequente
Se em tantos dons abunda é por ser indigente
e só convence assim por não ser muito convincente
e melhor fundamenta o mais insubsistente
Acabo de inventar um novo advérbio: helenamente
O mar a terra o fumo a pedra simultaneamente

[Encantada, Ricardo. Obrigada.]

quinta-feira, fevereiro 19, 2015

E então, que quereis?...

[Jennifer B. Hudson]

Fiz ranger as folhas de jornal

abrindo-lhes as pálpebras piscantes.

E logo

de cada fronteira distante

subiu um cheiro de pólvora

perseguindo-me até em casa.

Nestes últimos vinte anos

nada de novo há

no rugir das tempestades.


Não estamos alegres,

é certo,

mas também por que razão

haveríamos de ficar tristes?

O mar da história

é agitado.

As ameaças

e as guerras

havemos de atravessá-las,

rompê-las ao meio,

cortando-as

como uma quilha corta

as ondas.

Vladímir Maiakóvski


Vladímir Maiakóvski nasceu e passou a infância na aldeia de Bagdádi, nos arredores de Kutaíssi (hoje Maiakóvski), na Geórgia - Rússia. Lá cursou o ginásio e, após a morte súbita do pai, a família ficou na miséria e transferiu-se para Moscou, onde Vladímir continuou seus estudos. Fortemente impressionado pelo movimento revolucionário russo e impregnado desde cedo de obras socialistas, ingressou aos quinze anos na facção bolchevique do Partido Social-Democrático Operário Russo. Detido em duas ocasiões, foi solto por falta de provas, mas em 1909-1910 passou onze meses na prisão. Entrou na Escola de Belas Artes, onde se encontrou com David Burliuk, que foi o grande incentivador de sua iniciação poética. Os dois amigos fizeram parte do grupo fundador do assim chamado cubo-futurismo russo, ao lado de Khlébnikov, Kamiênski e outros. Foram expulsos da Escola de Belas Artes. Procurando difundir suas concepções artísticas, realizaram viagens pela Rússia. Após a Revolução de Outubro, todo o grupo manifestou sua adesão ao novo regime. Durante a Guerra Civil, Maiakóvski se dedicou a desenhos e legendas para cartazes de propaganda e, no início da consolidação do novo Estado, exaltou campanhas sanitárias, fez publicidade de produtos diversos, etc. Fundou em 1923 a revista LEF (de Liévi Front, Frente de Esquerda), que reuniu a “esquerda das artes”, isto é, os escritores e artistas que pretendiam aliar a forma revolucionária a um conteúdo de renovação social. Fez inúmeras viagens pelo país, aparecendo diante de vastos auditórios para os quais lia os seus versos. Viajou também pela Europa Ocidental, México e Estados Unidos. Entrou freqüentemente em choque com os “burocratas’’ e com os que pretendiam reduzir a poesia a fórmulas simplistas. Foi homem de grandes paixões, arrebatado e lírico, épico e satírico ao mesmo tempo. Suicidou-se com um tiro em 1930. Sua obra, profundamente revolucionária na forma e nas idéias que defendeu, apresenta-se coerente, original, veemente, una. A linguagem que emprega é a do dia a dia, sem nenhuma consideração pela divisão em temas e vocábulos “poéticos” e “não-poéticos”, a par de uma constante elaboração, que vai desde a invenção vocabular até o inusitado arrojo das rimas. Ao mesmo tempo, o gosto pelo desmesurado, o hiperbólico, alia-se em sua poesia à dimensão crítico-satírica. Criou longos poemas e quadras e dísticos que se gravam na memória; ensaios sobre a arte poética e artigos curtos de jornal; peças de forte sentido social e rápidas cenas sobre assuntos do dia; roteiros de cinema arrojados e fantasiosos e breves filmes de propaganda. Tem exercido influência profunda em todo o desenvolvimento da poesia russa moderna. (Boris Schnaiderman in "Poesia Russa Moderna", Editora Brasiliense, 1985).

quarta-feira, fevereiro 11, 2015

Lady Lazarus, Sylvia Plath (1932 - 1963)


I have done it again.
One year in every ten
I manage it--

A sort of walking miracle, my skin
Bright as a Nazi lampshade,
My right foot

A paperweight,
My face a featureless, fine
Jew linen.

Peel off the napkin
O my enemy.
Do I terrify?

The nose, the eye pits, the full set of teeth?
The sour breath
Will vanish in a day.

Soon, soon the flesh
The grave cave ate will be
At home on me

And I a smiling woman.
I am only thirty.
And like the cat I have nine times to die.

This is Number Three.
What a trash
To annihilate each decade.

What a million filaments.
The peanut-crunching crowd
Shoves in to see

Them unwrap me hand and foot--
The big strip tease.
Gentlemen, ladies

These are my hands
My knees.
I may be skin and bone,

Nevertheless, I am the same, identical woman.
The first time it happened I was ten.
It was an accident.

The second time I meant
To last it out and not come back at all.
I rocked shut

As a seashell.
They had to call and call
And pick the worms off me like sticky pearls.

Dying
Is an art, like everything else.
I do it exceptionally well.

I do it so it feels like hell.
I do it so it feels real.
I guess you could say I’ve a call.

It’s easy enough to do it in a cell.
It’s easy enough to do it and stay put.
It’s the theatrical

Comeback in broad day
To the same place, the same face, the same brute
Amused shout:

‘A miracle!'
That knocks me out.
There is a charge

For the eyeing of my scars, there is a charge
For the hearing of my heart--
It really goes.

And there is a charge, a very large charge
For a word or a touch
Or a bit of blood

Or a piece of my hair or my clothes.
So, so, Herr Doktor.
So, Herr Enemy.

I am your opus,
I am your valuable,
The pure gold baby

That melts to a shriek.
I turn and burn.
Do not think I underestimate your great concern.

Ash, ash--
You poke and stir.
Flesh, bone, there is nothing there--

A cake of soap,
A wedding ring,
A gold filling.

Herr God, Herr Lucifer
Beware
Beware.

Out of the ash
I rise with my red hair
And I eat men like air.

Sylvia Plath morreu a 11 de Fevereiro de 1963

terça-feira, dezembro 09, 2014

Manoel de Barros: Ruína

[Oleg Oprisco]

Um monge descabelado me disse no caminho: "Eu queria construir uma ruína. Embora eu saiba que ruína é uma desconstrução. Minha ideia era de fazer alguma coisa ao jeito de tapera. Alguma coisa que servisse para abrigar o abandono, como as taperas abrigam. Porque o abandono pode não ser apenas de um homem debaixo da ponte, mas pode ser também de um gato no beco ou de uma criança presa num cubículo. O abandono pode ser também de uma expressão que tenha entrado para o arcaico ou mesmo de uma palavra. Uma palavra que esteja sem ninguém dentro. (O olho do monge estava perto de ser um canto.) Continuou: digamos a palavra AMOR. A palavra amor está quase vazia. Não tem gente dentro dela. Queria construir uma ruína para a palavra amor. Talvez ela renascesse das ruínas, como o lírio pode nascer de um monturo”. E o monge se calou descabelado.

Ensaios fotográficos.

terça-feira, novembro 18, 2014

sexta-feira, outubro 24, 2014

If tomorrow starts without me


If tomorrow starts without me, and I’m not here to see,
If the sun should rise you find your eyes all filled with tears for me;
I wish so much you wouldn’t cry the way you did today,
While thinking of the many things we didn’t get to say.
I know how much you love me, as much as I love you
And each time that you think of me, I know you’ll miss me too.
But when tomorrow starts without me please try to understand,
That an angel came and called my name and took me by the hand.
He said my place was ready, in heaven far above
And that I’d have to leave behind all those I dearly love.
But as I turned and walked away a tear fell from my eye.
For all my life I’d always thought, I didn’t want to die.
I had so much to live for, so much left yet to do.
It seemed almost impossible that I was leaving you.
I thought of all the yesterdays the good ones and the bad.
I thought of all the love we shared, and all the fun we had.
If I could relive yesterday, just even for a while,
I’d say goodbye and kiss you and maybe see you smile.
But then I fully realized that this could never be,
For emptiness and memories would take the place of me.
When I thought of worldly things I might miss come tomorrow
I thought of you and when I did my heart was filled with sorrow.
When I walked through heavens gates I felt so much at home.
God looked down and smiled at me from his great golden throne
He said, “This is eternity and all I’ve promised you”
Today your life on earth has passed but here life starts anew.
I promise no tomorrow, but today will always last
And since each day is the same there’s no longing for the past.
You have been so faithful so trusting and so true.
Though there were times you did some things you knew you shouldn’t do.
You have been forgiven and now at last you’re free.
So won’t you come and take my hand and share my life with me?
So when tomorrow starts with out me don’t think we’re far apart,
For every time you think of me, I’m right here in your heart.

quinta-feira, outubro 23, 2014

Mario Quintana: Cocktail Party


"Não tenho vergonha de dizer que estou triste,
Não dessa tristeza ignominiosa dos que, em vez de se matarem, fazem poemas.
Estou triste porque vocês são burros e feios
E não morrem nunca...
Minha alma assenta-se no cordão da calçada
E chora,
Olhando as poças barrentas que a chuva deixou.
Eu sigo adiante. Misturo-me a vocês. Acho vocês uns amores.
Na minha cara há um vasto sorriso pintado a vermelhão.
E trocamos brindes,
Acreditamos em tudo o que vem nos jornais.
Somos democratas e escravocratas.
Nossas almas? Sei lá!
Mas como são belos os filmes coloridos!
(Ainda mais os de assuntos bíblicos...)
Desce o crepúsculo
E, quando a primeira estrelinha ia refletir-se em todas as poçasd'água,
Acenderam-se de súbito os postes de iluminação!"


domingo, abril 27, 2014

Vasco Graça Moura (1942-2014)


já ninguém morre de amor, eu uma vez 
andei lá perto, estive mesmo quase, 
era um tempo de humores bem sacudidos, 
depressões sincopadas, bem graves, minha querida, 
mas afinal não morri, como se vê, ah, não, 
passava o tempo a ouvir deus e música de jazz, 
emagreci bastante, mas safei-me à justa, oh yes, 
ah, sim, pela noite dentro, minha querida. 

a gente sopra e não atina, há um aperto 
no coração, uma tensão no clarinete e 
tão desgraçado o que senti, mas realmente, 
mas realmente eu nunca tive jeito, ah, não, 
eu nunca tive queda para kamikaze, 
é tudo uma questão de swing, de swing, minha querida, 
saber sair a tempo, saber sair, é claro, mas saber, 
e eu não me arrependi, minha querida, ah, não, ah, sim. 

há ritmos na rua que vêm de casa em casa, 
ao acender das luzes, uma aqui, outra ali. 
mas pode ser que o vendaval um qualquer dia venha 
no lusco-fusco da canção parar à minha casa, 
o que eu nunca pedi, ah, não, manda calar a gente, 
minha querida, toda a gente do bairro, 
e então murmurarei, a ver fugir a escala 
do clarinete: — morrer ou não morrer, darling, ah, sim. 

blues da morte de amor in "Antologia dos Sessenta Anos"

sábado, janeiro 04, 2014

Maria Teresa Horta

[Alex Stoddard]
HELENA

Ela caminha

por entre as ruinas

de Troia

Deixando pousar em tudo 
o seu olhar febril

de ametista rosada

Onde está o fio da espada
que retalhou
o peito de Heitor? - quer saber

Arrastando consigo
a culpa atormentada

segunda-feira, dezembro 02, 2013

Um sítio onde pousar a cabeça

Oleg Oprisco

Nunca tinha caído
de tamanha altura em mim
antes de ter subido
às alturas do teu sorriso.

Regressava do teu sorriso
como de uma súbita ausência
ou como se tivesse lá ficado
e outro é que tivesse regressado.

Fora do teu sorriso
a minha vida parecia
a vida de outra pessoa
que fora de mim a vivia.
E a que eu regressava lentamente
como se antes do teu sorriso
alguém (eu provavelmente)
 nunca tivesse existido.

M.A. Pina


segunda-feira, novembro 11, 2013

Requiem por uma amiga


A saudade é isto: viver nas ondas
e não ter pátria no tempo.
E desejos são isto: diálogos baixo
de horas diárias com a eternidade.

E a vida é isto: até que de um ontem
surge a mais solitária das horas
que, sorrindo diferente das outras irmãs,
vai calada ao encontro do eterno

Rainer Marie Rilke

sexta-feira, outubro 18, 2013

Um ano sem o Pina


Ficámos muito mais pobres num ano sem o Pina do que em anos sucessivos de austeridade.

domingo, setembro 29, 2013

The Last Word

[Anka Zhuravleva]

“I am a part of all that I have met;
All experience is an arch wherethrough
Gleams that untravelled world, whose margin fades
For ever and for ever when I move.
How dull it is to pause, to make an end,
To rust unburnished, not to shine in use!
As though to breathe were life. Life piled on life
Were all too little”

– from Tennyson’s Ulysses

segunda-feira, setembro 23, 2013

António Ramos Rosa (1924 -2013)


As palavras mais nuas
as mais tristes.
As palavras mais pobres
as que vejo
sangrando na sombra e nos meus olhos.

Que alegria elas sonham, que outro dia,
para que rostos brilham?

Procurei sempre um lugar
onde não respondessem,
onde as bocas falassem num murmúrio
quase feliz,
as palavras nuas que o silêncio veste.

Se reunissem
para uma alegria nova,
que o pequenino corpo
de miséria
respirasse o ar livre,
a multidão dos pássaros escondidos,
a densidade das folhas, o silêncio
e um céu azul e fresco.

terça-feira, julho 30, 2013

William Stafford (1914-1993)


Winter-Spring 1980. Paris Review

domingo, julho 28, 2013

segunda-feira, abril 15, 2013