Há meses e meses que adio uma referência a José Manuel dos Santos, até ontem cronista da Actual, do Expresso. Porque gostava mesmo de o ler. Porque escrevia em contra-corrente ou, melhor dizendo, fora da corrente. Escrevia sobre coisas que ninguém escreve num jornal, sobretudo homens. De coisas simples. Parecia que pairava fora do mundo embora tudo aquilo fosse também mundo, e muito do nosso. Nunca o vi citado em lado nenhum, a ele que sempre citava os melhores escritores, e sempre achei que era apenas pelo medo de a citação poder denunciar a eventual identificação de quem a pudesse citar. Ele expunha-se nas crónicas sem se despir, equilíbrio raro, e exercício raríssimo num mundo em que é muito mais fácil escrever como se nunca nada tivesse também a ver connosco. É muito mais fácil escrever de dedo em riste, sentado em cima do mapa-mundo e depois voltar, sossegado e impermeável, para casa. É sempre mais fácil escrever sobre os outros.
Como ele próprio escreveu ontem, "quis lembrar que, no mundo, não há só vencedores, pragmáticos, comunicadores, gestores, milionários, famosos, neoliberais, conformistas, contentinhos, poder, ruído, multidões, mais-valias, televisões, best sellers, condomínios fechados. Que há também vencidos, tímidos, desempregados, imigrantes, pobres, vagabundos, mendigos, doidos, poetas, idealistas, rebeldes, doentes, velhos, melancólicos, anarquistas, liberdade, silêncio, solidão, sabedoria, tiragens pequenas, bairros populares."
Tenho pena que a crónica tenha acabado. Tenho pena de nunca o ter mencionado antes. Mas tenho também pena do registo que José Manuel dos Santos usou para se despedir, um registo amargo, a apontar responsabilidades e etiquetas mudas a quem agora o dispensou, um registo tão diferente daquele a que sempre nos habituou.
Infelizmente, o José Manuel dos Santos morreu no último dia 5! Transcrevi muitas vezes as suas crónicas nos meus blogs. Custa-me agora fazer um post sobre a morte dele! Eu não o esquecerei. Quando ele foi despedido, imprimi todas as suas crónicas. Enviei-lhe um mail a dizer que deveria compila-las em livro e ele respondeu-me de uma forma amabilissima... Era um Senhor!
ResponderEliminarCumprimentos
É mentira. Foi o António Manuel dos Santos. E não o José Manuel dos Santos.
ResponderEliminarOptima noticia! Lamentando a morte de António Manuel, saudo a vida de José Manuel. Obrigado pela correcção!
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