sexta-feira, junho 17, 2011

Rasgar a ficção

[Paulo Nozolino]

Adormeceu grávida de sonhos e satélites. Acordou com um elefante na garganta do coração. Perdera o papel e a palavra. Agora, teria de transportar o desgosto nos ombros. Esperar talvez que ele sucumbisse antes dela. Fora feliz ali, mas já não se lembrava quando. O inatingível tem cheiro - é nu, agonia e queima. Nunca mais vai a jogo, pensou. Nunca mais. A convicção é coisa que se desaprende. Como a fé, às vezes. Não sabia se habitava um cemitério de almas que ainda respiram se o contrário, uma espécie de sibilante orgia onde todos estavam já mortos. Invisíveis, em qualquer caso. E insignificantes. Há uma certa bizarria quando tudo na vida parece lugar comum excepto o lugar interior onde se está. Esquecera-se de fazer por pertencer ao mundo, era o que sentia.

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