segunda-feira, junho 06, 2011

The day after

José Sócrates não merecia o magro resultado de ontem como também não mereceu a maioria absoluta de 2005. Em Portugal, não se vota na competência de um; vota-se na exclusão do outro. A maioria socialista foi a chave para cessar os nove meses de ensaio de Santana Lopes; a tangente absoluta de Passos Coelho a forma de punir Sócrates por seis anos de governação que nem sequer cabem todos dentro do mesmo adjectivo. Não foi tudo mau; não foi tudo bom. Mas, em Portugal, a melhor forma de ganhar eleições é chegar de novo e, de preferência, do nada. Foi esse, quer ele e o eleitorado tenham disso consciência ou não, o truque de Passos Coelho. Chegou de novo (zero de experiência governativa, muito pouco de vida partidária pública) e do nada (alguém, do país mais profundo ao mais urbano, saberá quem é o empregador Ângelo Correia?) - e os portugueses adoram isso. Adoram o vizinho novo do lado. Todos os vizinhos velhos já foram novos um dia. Os novos pelo menos ainda não meteram a música a tocar aos berros a meio da noite. A lógica, primária, é esta. Se assim não fosse, Manuela Ferreira Leite teria vencido as legislativas em 2009.

O PS mereceu perder ontem, já começava a merecer em 2009. Mas o PSD não mereceu ganhar ontem, mereceu-o talvez em 2009. E não ganhou por responsabilidade do próprio partido, para quem aquela senhora talvez não viesse muito a propósito. Meter o país na ordem ainda vá que não vá; meter o partido em sentido é que já não lhes dava jeito nenhum. Este PSD, entre preteridos e auto-excluídos, é um partido com os restos do anterior, como um almoço cozinhado com o que sobrou do jantar de véspera. É necessariamente mau? Não, mas a incógnita não é definitivamente o porto seguro de que o país precisava.

Não acredito que o país tenha escolhido virar à direita. Não tenho sequer a certeza de que a esmagadora maioria do país saiba o que está realmente em causa, sobretudo quando o ouço dizer, a propósito de Passos Coelho, "ele para ganhar tem que vir dançar com o povo", ou a propósito de Sócrates, "você é um charme". Isto é o país real, isto é o país que vota, que escolhe de entre o pouco e o fraco que lhe dão a escolher. E isto não muda com eleições. Os políticos sabem-no, jogam, ajustam-se, cantam, trocam chapéus e beijos, o que for preciso, até o pino. E isto sim, deveria incomodar Cavaco Silva. Quem vota em branco está a dizer muito mais do que quem vota em quem dança ou canta, mas disso ninguém nunca quer saber. Nem o PR. Aliás, para o PR devem ficar calados. Enquanto assim for, enquanto o povo não aprender a destrinçar o pão do circo, a escandalosa fuga de Durão Barroso vai valer o mesmo que a de António Guterres; a derrota de Santana o mesmo que a de Sócrates. O mesmo para as vitórias. E vamos sempre andar nisto às voltas. Sempre sísifos.

Talvez alguém acredite que a partir de agora o país vai subitamente melhorar, ou, como já ouvi, a crise acabar, Portugal crescer e ninguém, a menos que absolutamente o deseje, terá de emigrar para trabalhar. Eu, infelizmente, continuo a achar que estamos condenados. Antes de tudo, a ter uma classe política medíocre, antes de tudo porque não exige de si o que o país não sabe. O resto vem por arrasto.

1 comentário:

  1. Concordo com muito do que está escrito.
    Não acredito é que estejamos condenados: uma réstia de optimismo sobrevive ainda... acho que vamos mesmo conseguir dar a volta.

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