segunda-feira, junho 27, 2011

Manicómio


Encerraram o manicómio. Fecharam as portas a cadeado, limparam o interior da casa, queimaram os fantasmas, destruíram as algemas, os coletes de forças, a medicação. Despediram os seguranças e os enfermeiros. A vigília em permanência. Estavam curados. Nunca mais precisariam de voltar àquele lugar onde durante o que pareceu uma eternidade cuspiram ciúmes como espadas e acusações e veneno, doentia possessão, perseguição, onde jorraram insegurança e sangue até à anemia mental. Era quase um milagre. Nunca ninguém acreditou que sairiam dali. Vivos. Mas saíram. Sem resquícios de distúrbios e sem sequelas. E passaram anos, muitos. De felicidade total, quase infantil, irreal. Os cientistas nunca o conseguiram explicar. Não havia modelos, tabelas, sistemas que compreendessem por que razão, primeiro, nunca aceitaram separar-se, e depois, aquela mudança que pela sua dimensão abolira todo o passado de internamento. De prisão. Eles, sempre a sombra um do outro, no céu e no inferno. Sem cansaço nem tédio nem desejo de fuga. Quem saberia explicar? Cresceram sebes em torno das portas, das janelas daquela casa assombrada por sofrimento. O som constante de um choro fininho desapareceu; o silêncio, mais pesado que o choro, também. As noites voltaram desprovidas de pesadelos; os dias habitados por gargalhadas. Era para sempre. E depois, de repente, voltou tudo outra vez, como uma tempestade em dia de sol. 

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