sábado, junho 18, 2011

Joshua Ferris: The unnamed


Aproximou-se, esticou o braço e tocou-lhe na face. Não queria que ela o tivesse feito, mas não se mexeu. Tentou não pensar no aspecto que teria, em como ela o iria achar. Olhou-a brevemente nos olhos, mas desviou logo o olhar. Não queria interpretar a emoção no rosto dela. Não queria reparar de novo  nos pormenores da sua face ou na forma como se harmonizavam para a tornar bela. Não queria saber de que modo ela envelhecera ou não envelhecera ou o que vestia, se era alguma coisa antiga ou algo que ele não reconheceria. Não queria estar tão próximo que conseguisse sentir o seu perfume. Era aquele ténue mas inequívoco aroma, e os olhos claros e as sardas que anunciavam a sua inimitável pessoa e que o chamavam de volta para tudo o que amava no mundo.

(...) Escutou o estremecimento na voz dela. Encolheu os braços. Colocou as mãos juntas debaixo da mesa, longe do alcance dela. Não tardou a dar-se conta da sensação-fantasma, residual, das mãos dela. As vantagens que o outro tinha sobre ele, vantagens que tornavam a fome torturante, a dor vigilante e o toque de uma mulher envolto em memórias de amor mais insuportáveis do que todas as restantes dores em conjunto, insuperáveis. 

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