[Pedro Zamith]
Quantas despedidas calculas que em mim existam?
Mil? Mil milhões?
Eu digo-te: mil milhões por cada dia, todas elas repetidas, recriadas, revividas.
A porta que bate és tu que sais de manhãzinha para o trabalho deixando-me uma dor fininha por dentro como se não fosses voltar nunca mais, o ranger do elevador no poço em estertores de esforços do seu coração de máquina, o teu cabelo molhado e o teu rosto firme
(- quando voltas?)
um pavor de solidões que me consome por dentro, uma saudade amargurada da tua imagem nervosa na palataforma da estação,
(Atenção, senhores passageiros! Vai dar entrada na linha número um o comboio-alfa proveniente de Lisboa Sta. Apolónia...)
a camisola de lã cinzenta com riscas vermelhas no cós e nas mangas
(- quando voltares, qual de ti serás?)
as tuas mãos de unhas roídas e dedos fortes,
(- às vezes, preciso tanto de falar das tuas mãos!)
o milagre de tocar-te com cuidado para que não desaparecesses do meu sonho real como uma verdade.
Quantas despedidas cabem na vida de cada um de nós?,
pergunto-te sem precisares de me responder.
Tanta gente que morreu e tanta gente que não morreu de morrer mesmo mas que foi morrendo em mim,
- percebes?
e lugares como pessoas, e momentos como pessoas,
e lugares, porque,
- não sei se sabes...,
os lugares e o momentos também podem morrer de forma absoluta sem haver algo que os devolva.
Nunca somos aquilo que os outros julgam de nós.
[in Magnética Magazine]
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