"Eu sou um homem extremamente privilegiado. Faço seguramente parte dos dois por cento de pessoas com rendimentos mais altos no mundo. Tenho imenso que agradecer a Deus, ao mundo, às pessoas e o mu dever é a Parábola dos Talentos, que sempre foi a questão central da minha vida. O meu dever é, tendo recebido esses "talentos", e nisso não tive nenhum mérito, pôr isso a render a favor dos que não tiveram as mesmas oportunidades na vida. É isso que traz justificação para uma acção política e humanitária e o critério fundamental é saber se somos coerentes com essa visão ou se, porque há sempre um exercício de poder em tudo o que fazemos, nos deixamos corromper por esse mesmo poder e se perdemos a motivação inicial. Penso que no essencial, com falhas aqui e ali, me mantive fiel a esse princípio e que mantive a Parábola dos Talentos como o elemento motor das minhas acções.
Hoje vejo Deus de uma forma que não é compatível com a ideia de um Deus interventor, a quem se rezam dois pais-nossos a ver se temos um exame melhor, mas como um criador e um inspirador. E, depois, como uma mensagem evangélica, que continuo a considerar uma mensagem de verdade, fundamental para a vida. Esta ideia de que Deus pode estar por detrás das desgraças a que eu assisto não seria compatível com eu acreditar em Deus."
[António Guterres em entrevista à revista Única, do Expresso, de 23 de Dezembro de 2010]
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