segunda-feira, dezembro 18, 2006

Rui Rio e o Rivoli

Sábado. 18 horas. A Câmara Municipal do Porto emite um comunicado a dar conta do que já se supunha, pelo menos, há seis meses. Supunha-se tanto que achei que nunca fosse verificar-se. O Teatro Municipal Rivoli, restaurado e equipado há cerca de dez anos com dinheiros públicos para, supostamente, cumprir um projecto específico será gerido, a partir de Maio de 2007, e durante quatro anos, por Filipe La Féria. A peça de estreia será um musical dedicado a Carmen Miranda. O encenador e produtor de Lisboa abraçará a responsabilidade de fazer a Baixa portuense mexer.
Três dias antes do anúncio, veiculado, como habitualmente, pelo site da autarquia, Florbela Guedes, assessora de Rui Rio, jurava ao JN que o processo ainda não estava fechado. Nem poderia ser levado à reunião camarária de terça-feira, dia 19, porque os vereadores, justificou, teriam que receber a documentação correspondente até quarta-feira da semana anterior. Sem processo fechado não havia papelada para entregar. Nem nada para discutir.
Apesar disso, nesse mesmo dia, Manuel Teixeira, chefe de gabinete de Rui Rio almoçou em Lisboa com La Féria e a sua equipa. Pessoas ligadas à empresa do produtor afirmaram que a Câmara havia feito exigências técnicas que eles não tinham condições de cumprir. Ainda assim, La Féria ganhou. Já antes a Câmara havia duvidado da liquidez financeira da empresa "Bastidores". Ainda assim, La Féria ganhou. A Câmara, cuja política diz orgulhosamente pautar-se por números de audiência, já em 2005 tinha apoiado La Féria em dois espectáculos ["Rainha do ferro velho" e "A menina do mar"] apresentados no Teatro Sá da Bandeira. Um deles foi cancelado por falta de público. Ainda assim, La Féria ganhou. Rui Rio, depois de ter dado (a fundo perdido?) 100 mil euros em compra de bilhetes a La Féria para as peças referidas sugeriu-lhe ainda que ocupasse o Cinema Batalha, já sob a exploração de Luís Montez, que rejeitou por ser demasiado pequeno.
Mas à terceira foi de vez. Rio Rio conseguiu trazer La Féria para o Porto. Ele e a sua comissão independente, constituída por Álvaro Castello-Branco, Raul Matos Fernandes e o próprio Manuel Teixeira. Como se vê, independente e ligadíssima à cultura! Nada contra La Féria no Porto. Tudo contra a falta de correcção das pessoas. E sobretudo contra a falta de honestidade de pessoas como Rui Rio, que não cansa de afirmar a sua seriedade. Rui Rio não é sério. Não é honesto. Não é correcto. Não é verdadeiro. Se dúvidas ainda pudesse haver, o processo Rivoli é absolutamente revelador da sua falta de carácter. Os outros candidatos ficaram a saber pelos jornais que perderam. Nunca hão-de saber porquê.
Pela primeira vez compreendi o discurso, que sempre me incomodou, dos "braços caídos", da "derrora antecipada" proferido repetidamente há uns meses, por um vereador socialista. Perderam todos os que defendem e acreditam numa cultura da linha da frente. E perderam todos aqueles que, como eu, ingenuamente, acreditaram que vale a pena discutir, espernear, esgrimir argumentos. Mas nenhum de nós perdeu a dignidade. Isso será sempre mais importante.
No dia em que me perguntarem que livro estou a ler, saberei responder, no mesmo milésimo de segundo, os dois ou três que me acompanham sempre. No dia em que me perguntarem qual foi o último concerto ou peça de teatro a que assisti, saberei igualmente responder com rapidez. Nunca direi que a pergunta é "difamatória".
Rui Rio continuará a rir... até ao despenhamento total da cidade.

6 comentários:

  1. ORA CÁ ESTÁ!
    Tomem lá féria, povo nortenho! Quem zela por vós é o Rio!
    O GENRO DA NAÇÃO TAMBÉM ESTEVE METIDO NISTO?!?

    ResponderEliminar
  2. "... E sobretudo contra a falta de honestidade de pessoas como Rui Rio, que não cansa de afirmar a sua seriedade.
    Rui Rio não é sério.
    Não é honesto.
    Não é correcto.
    Não é verdadeiro.
    Se dúvidas ainda pudesse haver, o processo Rivoli é absolutamente revelador da sua falta de carácter..."

    Exactamente cara Helena.
    Infelizmente a maioria (mesmo os não PSD do fora da cidade) apenas vai perceber esta realidade quando (eventualmente?) o dito suceder a Sócrates.

    AM

    ResponderEliminar
  3. É este o Rio que nos afoga em mágoas. E o nosso Douro que é tão bonito...

    ResponderEliminar
  4. Rui Rio fez bem. No norte a cultura é zero, a arte de Talma idem aspas, é preciso alguém do sul, um moiro genuíno capaz de fazer algo pela cultura... Pelo menos aos trabalhadores não faltará a "féria" no fim do mês...

    Rui Rio, não sendo um profissional do teatro, tem, por vezes, perfomances histriónicas dignas de um Charlie Chaplin, esse imortal ícone do humor... Bem hajas Charlie, perdão... Rui!

    ResponderEliminar
  5. Arte e Entretenimento


    Nos dias de hoje, com a globalização, a massificação do consumo e o crescimento exacerbado da indústria do lazer, torna-se cada vez mais difícil distinguir o entretenimento da arte. O ideal consumista converteu a arte num produto de estética populista, fruto da cultura do entretenimento e formatado à lógica do espectáculo.
    A lei do rentável foi matando a capacidade de discernimento do indivíduo, tornando-o apenas em consumidor ou consumível .
    "Arts and Entertainments” - Os motores de busca na internet teimam em colocá-los sempre no mesmo directório e o facilitismo da estandardização faz com que essa lógica se vá apropriando do imaginário colectivo.
    Ambas fazem parte da cultura universal mas com papeis substancialmente diferentes na sua capacidade de intervenção no indivíduo, na sociedade e, consequentemente, na História.

    Muitos animais se divertem e entretêm mas apenas um faz arte – o Homem.
    O entretenimento (sem as mais valias do convívio, da pedagogia, da ginástica, etc.) está associado apenas ao prazer e a arte vai muito para além disso, é muito mais abrangente e está inevitavelmente vinculada à inteligência, à intuição, ao raciocínio, ao sentimento, à imaginação, à expressão e a tudo o que nos transcende.
    Jogar consola com o meu filho é entretenimento. Olharmo-nos nos olhos e sentirmos o amor que nos une, compreendendo e realizando a importância desse amor, é arte.
    Um diverte, a outra sensibiliza, emociona, perturba e faz pensar, tocando, modificando, sendo dinâmico e vivo, fazendo evoluir.
    Por vezes tocam-se, misturam-se, como o azul e o amarelo que dão verde. Mas não deixam de ser coisas completamente distintas.

    Entreter é o espaço entre o que se teve e o que se vai ter, é o tempo em que não se tem nada, em que não se é nada, em que não se existe. Logo é necessário passar esse tempo para outra coisa ter, ser ou existir por nós. Recorre-se então ao passatempo que é uma espécie de encher um copo sem fundo, onde se tem uma sensação de satisfação e a ilusão da acção em si. Passar o Tempo é a coisa mais estúpida que se pode (não) fazer na vida. Simboliza a inutilidade por excelência e é sinónimo de inactividade e improdutividade. É queimar tempo de existência. Não no sentido da meditação e da introspecção mas no sentido da passividade no seu estado mais estupidificante.
    Entretenimento é darem-nos algo já feito quando nós não estamos a fazer nada, é darem-nos uma comida já mastigada, ingerida e digerida...

    ResponderEliminar
  6. Nada contra La Féria no Porto. Tudo contra a falta de correcção das pessoas."

    Estou em absoluto desacordo com este post.
    Nada tenho contra a falta de correcção das pessoas, contra a corrupção, o nepotismo, o tráfico de influências, o tráfico de droga, o tráfico de armas, o homicídio, o genocídio, ou a simples falta de vergonha.
    A mim, o que me incomoda mesmo é o Filipe La Féria.

    ResponderEliminar