sexta-feira, dezembro 22, 2006

Cultura da camioneta

No controverso processo de concessão do Teatro Rivoli a Filipe La Féria existem inúmeras perguntas às quais seria importante dar respostas. Respostas que Rui Rio não deu e ameaça nunca vir a dar. Mas hoje, no programa "O dia em análise", no Porto Canal, Agostinho Branquinho, deputado do PSD, sócio e braço direito de muitos anos do presidente da Câmara, no fundo, o seu zorro de capa-e-espada, sintetizou, com invulgar eloquência, o objectivo desta espécie de concurso público. Passo a citar, eventualmente cedendo à imprecisão formal da memória, mas sem desvirtuar o sentido. "Filipe La Féria faz com que muitas camionetas se desloquem de todo o país para assistir aos seus espectáculos. E isso, não tenhamos dúvidas, é fundamental para animar a Baixa".
Restam dúvidas sobre os critérios de selecção? É a verdadeira cultura da camioneta! Sendo que "cultura" foi termo que Branquinho nunca utilizou, substituindo-o sempre por "animação". Residirá aqui um dos principais equívocos do processo: a confusão grave entre os dois conceitos. À Câmara pouco importa se existe cultura, se ela desempenha um papel efectivo na vida das pessoas, se contribui para o real desenvolvimento de um território (físico e mental); à Câmara só importa animar a malta! Até podia ser com cãezinhos amestrados!
[Agostinho Branquinho foi um dos administradores da Casa da Música no reinado de Manuel Alves Monteiro. Por ser Natal, e só por isso, resistirei à tentação de falar sobre esse período e sobre o entendimento, já então demonstrado, que o séquito de Rui Rio tem de cultura.]

2 comentários:

  1. parabéns. é este o caminho, mas vai ser longo.

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  2. Não serão precisos cãezinhos amestrados. Basta uns foguetórios para animar o pagode. Junte-se-lhes (aos foguetórios, claro), um Quim Barreiros mais as suas baboseiras pindéricas, adocique-se com uma Ágata, pulverize-se com umas pedrinhas de Romana aos berros, tempere-se com um Zé Cabra apimentado e aí temos um festivalão coltural à la "page".
    O primeiro ensaio promovido pelo produtor de espectáculos, Rui Rio, já foi para o ar na passagen de ano, e o artista convidado foi o Quim do "mariazinha, quero ir à cozinha...".
    E o povo, feliz, cantou, dançou, bebeu. Um verdadeiro caldo de coltura à Rui Rio. Só faltaram os calhambeques, mas esses já estiveram expostos num domingo soalheiro, por ocasião da inauguração da Avenida da Pedreira (antiga Avenida dos Aliados).

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