Exmo. Sr. Fidel Castro,
Escrevo apenas para pedir encarecidamente que se aguente a respirar mais uns meses. Há vários anos que adio a minha viagem à sua Cuba. Tinha tudo preparado para a visitar em Janeiro, mas um imprevisto obrigar-me-á a adiar o périplo mais uma vez. O seu tempo, bem o sei, está a esgotar-se; e com o seu o meu também. É o meu que me preocupa. Sei que entende e aprecia este egoísmo, porque foi essa lógica que praticou a vida inteira.
Estou certa também de que compreenderá que tenho este desejo de conhecer o país antes da sua morte, ou seja, antes da libertação do povo que aprisionou sem dó nem piedade em nome do que julgou ser uma heróica revolução social. Foi tudo pelo povo, eu sei. Os exilados sairão, finalmente, à rua; os milhares de conterrâneos que assassinou, infelizmente, já não poderão regozijar-se com o seu fim.
Sempre gostei de conhecer o antes e o depois de tudo. E interessa-me analisar o comportamento das pessoas antes e depois do direito à liberdade e à liberdade de expressão; antes e depois de um regime que aplica a tortura e a pena de morte; antes e depois da miséria a que foram condenados enquanto o senhor possui uma das maiores fortunas do mundo. Interessa-me também, confesso, ver os rosto daqueles que o seguiram a admiraram. Darão esses soldadinhos de chumbo seguimento aos seus ideais?! E quero muito levar livros ao seu povo; mais livros do que pão. Literatura não sujeita a censura, entende?
Não sei se a História o absolverá. A histeria manifestada por estes dias aquando da morte de Augusto Pinochet, no Chile, faz-me crer que não. E pessoalmente espero mesmo que tal não aconteça. E que apodreça nas terra o mais depressa possível. Veja lá o que pode fazer por mim. Só lhe peço mais uns meses.
Sem outro assunto,
helena.
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