quarta-feira, dezembro 20, 2006

Post-it

Vinicius de Moraes escreveu que tinha amigos que não sabiam o quanto eram seus amigos. Que não percebiam o amor que lhes devotava e a absoluta necessidade que tinha deles. Nem sabiam que a sua vida dependia da existência deles. Mesmo que não os procurasse. Bastava-lhe saber que eles exitiam. "Mas, porque não os procuro com assiduidade, não posso dizer-lhes o quanto gosto deles. Eles não iriam acreditar", explicou.
"E às vezes, quando os procuro, noto que eles não tem noção de como me são necessários. De como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, porque eles fazem parte do mundo que eu tremulamente construi, e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida. Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado. Se todos eles morrerem, eu desabo!" (...) "Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos, e, principalmente os que só desconfiam ou talvez nunca vão saber que são meus amigos".
Lembrei-me instantaneamente deste texto quando recebi um bilhete de "amor-ódio". Que entendo, mas que não evita a tristeza. De que forma se prova o amor na ausência? E, de facto - reconheço -, para que serve a prova se ela não se materializa no quotidiano?
"Tenho fotos tuas na parede da casa que ainda não conheceste. Há ciclos de amor-ódio. Esperámos-te. Quase nunca vieste, quase nunca disseste, quase nunca quiseste ou lembraste. Perguntamos: quem és tu? E onde ficas no presente-futuro ou nas fotos?... Alimentar a tua presença de olhar as fotos como se de uma defunta se tratasse não é verosímil, sendo até imbecil, porque é sobretudo imbecil e ou estranha esta distância que nos separa. Respeitamos-te! Não há problema nenhum com as tuas opções; apenas com a ambiguidade. Desejamos-te o melhor. Afinal, de tudo, incluindo já a tua sms, pergunto-me quantas formas há de comunicar, de estar presente?"

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